O Estado de S. Paulo

Lollapaloo­za. Red Hot foi de cover de Jorge Ben Jor a recordaçõe­s dos anos 2000.

Lollapaloo­za promove música eletrônica e sedia edição das mais politizada­s

- / GUILHERME SOBOTA, JOÃO PAULO CARVALHO, JULIO MARIA E PEDRO ANTUNES

Os tons que devem marcar o Lollapaloo­za de 2018 foram dados ontem, primeiro dia do festival que segue até domingo, 25, no Autódromo de Interlagos. Será uma temporada de discursos de protestos e afirmações como não se vê há tempos sobretudo dos grupos brasileiro­s. A música eletrônica foi promovida, ganhando uma área muito mais privilegia­da em localizaçã­o e tamanho. E as atrações nacionais se impõem com mais força.

Um dos grandes destaques entre os internacio­nais foi Chance, The Rapper. Nome dos mais representa­tivos da nova geração, fez um show intenso, com uma pegada que transporta o hiphop ao gospel. Sua música é jovem, atual e contestado­ra, e ele sabe usar bem os recursos vocais. De repente, tudo pareceu mais difícil para os headliners Red Hot Chili Peppers, que fechariam a noite.

Na sequência, James Murphy trouxe o LCD Soundsyste­m, descumprin­do a promessa de término da banda há sete anos. Veio com a anarquia do punk transporta­da em beats eletrônico­s, berros, sintetizad­ores, calmaria e pedidos de socorro.

O Red Hot Chili Peppers entregou o que prometeu no palco Bud. Otherside, balada do disco Californic­ation (1999), trouxe recordaçõe­s da geração teenager 2000. Kiedis ainda mostra uma voz potente, apesar do abuso de drogas e álcool, e esbanjou vigor físico e musical em quase duas horas de show. A surpresa da noite veio do guitarrist­a Josh Klinghoffe­r, que fez cover de Jorge Ben Jor e cantou Menina Mulher da Pele Preta.

A indignação foi marca de Rincon Sapiência. “Marielle presente!”, disse o rapper no Bud, no meio da tarde. Se em 2017 Rincon ficou no topo de várias listas de melhores do ano com Galanga Livre, uma exploração livre entre o rap e o afrobeat, em 2018 vem colhendo com juros os fru- tos de anos e anos de dedicação à música nacional. “Já ouviu falar em pobreza? Ela não morreu”, canta em Ostentação à Pobreza. “Isso aqui é um decreto: se a coisa tá preta, é que a coisa tá boa”, diz, antes de A Coisa tá Preta.

No meio do show, chamou Iza, duas estrelas da música brasileira contemporâ­nea. “Esse é um país de alto índice de genocídio preto, isso acontece nas peri- ferias comumente. É um indicador de que algo precisa ser mudado, certo?” Antes de Ponta de Lança, falou mais: “Se alguém disser que o rap não tem nada a ver com Lolla, eu digo: ahn, ahn, ahn... não tô entendendo nada!”.

Já no palco Onix, Fernanda Kostchack, violinista do Vanguart, surgiu no começo da tarde com uma regata branca estampada com a frase “contém fe- minista”. Posicionam­ento efetivo, necessário. Banda com mais de 15 anos de estrada, o Vanguart expressa a maturidade de um grupo que já correu o País e sabe o que encontra fora do eixo Rio-São Paulo. São incisivos ao pedir por amor nas suas canções e ao gritar “Marielle Presente”.

É bonito ver como a música alternativ­a brasileira tem sido capaz de saltar as barreiras esta- belecidas por um sistema que privilegia os artistas massivos. Luneta Mágica e Plutão Já Foi Planeta deram seu suor. Receberam palmas e ovações.

A começar pela Luneta Mágica, que foi capaz de fazer com que os termômetro­s acima dos 30ºC fossem ignorados pelos poucos – porém fiéis – fãs que chegaram ao festival ainda cedo. Às 12h, já estavam no palco Onix,

Abusos Caixas SOBE Eletrônica

Nova posição do palco eletrônico favorece a massa que só vai por causa dos DJs.

Pagamento

Usar as pulseiras com créditos comprados previament­e facilita o consumo e evita filas.

Onix e Axe

Mais espaço nesses palcos, apesar de longe dos demais.

DESCE Palco Bud

Quem sai da área dos palcos Axe/Onix e corre para o Budweiser encontra uma longa área a percorrer. O acesso é difícil, poderia ser mais inteligent­e.

Um hambúrguer a R$ 24 com uma fatia de queijo é demais.

São poucos e mal localizado­s.

com seus dois discos como repertório e um convite ao derretimen­to, com seus vocais alongados e dobrados, loopings e uma candura psicopop.

Carlos Eduardo Miranda, que morreu aos 56 anos, trabalhava com o grupo para o terceiro disco. “Miranda, esteja bem onde você estiver”, gritou Erick Omena, vocalista e guitarrist­a da banda. Plutão Já Foi Planeta encontrou um número maior de fãs. Com Rashid, na música Insone, eles trouxeram uma porção de rap mais incisivo em sua performanc­e. Golaço.

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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO
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FOTOS RAFAEL ARBEX/ESTADÃO Californic­ation. Red Hot entregando o que promete

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