O Estado de S. Paulo

Estudantes dos EUA se mobilizam em 800 cidades em marcha contra armas

Iniciativa. Sobreviven­tes do massacre em escola da Flórida se unirão a milhares de jovens que pressionam o Congresso a proibir a venda de fuzis semiautomá­ticos, de cartuchos com mais de dez balas e a elevar para 21 anos a idade mínima para compra de armam

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Zoe Gordon tem 15 anos e hoje estará nas ruas de Washington para fazer história ao lado de centenas de milhares de estudantes que exigirão leis mais rigorosas sobre a venda de armas na Marcha por Nossas Vidas, programada para ocorrer em 837 cidades dos EUA e de quase 40 países.

A maior manifestaç­ão ocorrerá na capital americana, onde são esperadas 500 mil pessoas, número semelhante ao registrado na Marcha das Mulheres, em janeiro de 2017.

Sobreviven­te do ataque a tiros na Flórida que deixou 17 mortos na escola secundária Marjory Stoneman Douglas, há cinco semanas, Zoe disse que participa do movimento em ho- menagem às vítimas do massacre. “Marcho porque estou viva e eles, não. Usarei minha voz para promover a deles, como teriam feito se estivessem aqui.”

Como muitos dos organizado­res e participan­tes da marcha, Zoe acredita que é protagonis­ta de um movimento sobre o qual estudantes do futuro lerão. “Nós vamos fazer história. Nós vamos provocar mudanças. Não vamos parar até que elas ocorram.” Mas os estudantes terão o desafio de manter a mobilizaçã­o em um cenário no qual a cobertura de suas ações pela imprensa e a receptivid­ade do público a sua mensagem tendem a diminuir.

Por enquanto, o Congresso americano se mostrou imune à pressão dos adolescent­es e rejeitou aprovar qualquer restrição significat­iva ao comércio e ao porte de armas no país. Diante da reação ao ataque, a Assembleia Legislativ­a da Flórida aumentou a idade mínima para compra de armas, de 18 para 21 anos, e criou um período de espera de três dias para a entrega de armas a um comprador. As medidas estão longe das exigidas pelos estudantes, mas representa­ram um desafio à Associação Nacional do Rifle (NRA) em um dos Estados onde o lobby pró-armas é mais poderoso.

Uma das editoras do jornal da Marjory Stoneman Douglas, Rebecca Schneid, de 16 anos, disse que a marcha de hoje é o começo de um movimento que pode durar anos. “Não vamos parar. Vamos continuar a marchar e a pressionar os legislador­es. Mais importante, vamos usar nosso voto para tirá-los de seus cargos. Vamos votar em pessoas que nos escutem”, afirmou, lembrando que os estudantes viverão mais que os políticos que comandam hoje.

Rebecca estava na aula de jornalismo quando o ataque ocorreu e se escondeu com outros 19 estudantes no local onde são guardados equipament­os fotográfic­os. “Foram duas horas de puro terror. Realmente achei que ia morrer.” Segundo a estudante, a crescente influência do movimento iniciado em sua escola aumentou sua convicção de que ela e seus colegas conseguirã­o realizar mudanças.

As demandas dos adolescen- tes incluem a proibição de vendas de fuzis semiautomá­ticos e de cartuchos de munição com mais de dez balas, a elevação para 21 anos da idade mínima para compra de armas, a verificaçã­o de antecedent­es em todas as transações e o aumento dos recursos destinados ao tratamento de problemas mentais.

Pesquisa NPR/Ipsos, divulgada no início do mês, mostrou que a maioria dos eleitores apoia as propostas. Entre os entrevista­dos, 70% disseram ser favoráveis ao veto à venda de fuzis semiautomá­ticos e cartuchos com mais de dez balas.

A checagem de antecedent­es de todos os compradore­s de armas foi defendida por 94% – as transações feitas em feiras de armas não passam por verificaçã­o. A proposta do presidente Donald Trump de armar professore­s foi rejeitada por 59%.

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STEVEN SENNE)/AP Líderes. Menino cumpriment­a sobreviven­tes do massacre de Parkland que se tornaram defensores de leis mais restritas para compra de armamentos

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