Biodiversidade vale R$ 79 tri para continente
Estudo estima quanto a natureza contribui com bem-estar, como produção de comida e energia
A biodiversidade em todo o mundo está em forte declínio, em um processo de perda de espécies que atinge todas as regiões. Isso reduz a capacidade da natureza de contribuir para o bem-estar da humanidade, uma vez que afeta a produção de alimentos, a geração de água limpa e de energia, impactando a economia e os meios de subsistência.
Esse é o alerta de quatro relatórios lançados ontem pelo IPBES, plataforma intergovernamental que reúne mais de 500 pesquisadores para avaliar o conhecimento científico sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos – os benefícios prestados pelos ecossistemas.
O trabalho analisou a perda de biodiversidade e seus impactos para a qualidade de vida das pessoas em todo o planeta (exceto os polos e oceanos) e obser- vou que, com exceção de alguns casos, a degradação é generalizada. E é provocada por redução de hábitats, superexploração e uso insustentável dos recursos naturais, poluição da terra, do ar e do solo, aumento em número e em grau do impacto de espécies invasoras, além das mudanças climáticas.
Um modo de mostrar isso foi colocando valor, em dinheiro, para esses serviços prestados. Para as Américas, por exemplo, o trabalho estima em mais de US$ 24 trilhões (cerca de R$ 79 trilhões) por ano o valor econômico das contribuições da natureza terrestre para as pessoas – esse valor equivale ao PIB (Produto Interno Bruto) de toda a região. Mas 65% dessas contribuições, alertam os pesquisadores, estão em declínio. E 21% estão diminuindo fortemente.
A região, que abriga 7 dos 17 países mais biodiversos do mundo – entre eles o Brasil – e têm algumas das mais extensas áreas selvagens do planeta, foi considerada a que tem a maior capacidade de produzir materiais naturais que podem ser consumidos por humanos. As Américas contêm 40% da capacidade dos ecossistemas mundiais de ter essa produção, ao passo que abriga só 13% da população humana global.
“Sabemos há muitas décadas que estamos perdendo a biodiversidade. Esse trabalho é ino- vador ao mostrar que a qualidade de vida das pessoas depende das contribuições que a natureza oferece como um todo”, afirmou ao Estado a bióloga brasileira Cristiana Simão Seixas, pesquisadora da Unicamp e cocoordenadora do grupo que fez o relatório das Américas.
“As pessoas, em geral, estão desconectadas disso. Não pensam no que a biodiversidade tem a ver com a vida delas. Realmente o foco foi mostrar esse link, como a qualidade de vida, o bem-estar humano dependem da natureza”, diz. “As pessoas esquecem que o que comem, vestem, a água que tomam e a energia que usam vêm dos materiais na natureza.”
Clima. Segundo o estudo, em média, as populações de espécies na região tiveram redução de 31% em relação às que existiam antes da chegada dos europeus, há cerca de 500 anos. Com os efeitos crescentes da mudança climática adicionados aos outros fatores, essa perda pode chegar a 40% até 2050.