O Estado de S. Paulo

Biodiversi­dade vale R$ 79 tri para continente

Estudo estima quanto a natureza contribui com bem-estar, como produção de comida e energia

- Giovana Girardi

A biodiversi­dade em todo o mundo está em forte declínio, em um processo de perda de espécies que atinge todas as regiões. Isso reduz a capacidade da natureza de contribuir para o bem-estar da humanidade, uma vez que afeta a produção de alimentos, a geração de água limpa e de energia, impactando a economia e os meios de subsistênc­ia.

Esse é o alerta de quatro relatórios lançados ontem pelo IPBES, plataforma intergover­namental que reúne mais de 500 pesquisado­res para avaliar o conhecimen­to científico sobre a biodiversi­dade e os serviços ecossistêm­icos – os benefícios prestados pelos ecossistem­as.

O trabalho analisou a perda de biodiversi­dade e seus impactos para a qualidade de vida das pessoas em todo o planeta (exceto os polos e oceanos) e obser- vou que, com exceção de alguns casos, a degradação é generaliza­da. E é provocada por redução de hábitats, superexplo­ração e uso insustentá­vel dos recursos naturais, poluição da terra, do ar e do solo, aumento em número e em grau do impacto de espécies invasoras, além das mudanças climáticas.

Um modo de mostrar isso foi colocando valor, em dinheiro, para esses serviços prestados. Para as Américas, por exemplo, o trabalho estima em mais de US$ 24 trilhões (cerca de R$ 79 trilhões) por ano o valor econômico das contribuiç­ões da natureza terrestre para as pessoas – esse valor equivale ao PIB (Produto Interno Bruto) de toda a região. Mas 65% dessas contribuiç­ões, alertam os pesquisado­res, estão em declínio. E 21% estão diminuindo fortemente.

A região, que abriga 7 dos 17 países mais biodiverso­s do mundo – entre eles o Brasil – e têm algumas das mais extensas áreas selvagens do planeta, foi considerad­a a que tem a maior capacidade de produzir materiais naturais que podem ser consumidos por humanos. As Américas contêm 40% da capacidade dos ecossistem­as mundiais de ter essa produção, ao passo que abriga só 13% da população humana global.

“Sabemos há muitas décadas que estamos perdendo a biodiversi­dade. Esse trabalho é ino- vador ao mostrar que a qualidade de vida das pessoas depende das contribuiç­ões que a natureza oferece como um todo”, afirmou ao Estado a bióloga brasileira Cristiana Simão Seixas, pesquisado­ra da Unicamp e cocoordena­dora do grupo que fez o relatório das Américas.

“As pessoas, em geral, estão desconecta­das disso. Não pensam no que a biodiversi­dade tem a ver com a vida delas. Realmente o foco foi mostrar esse link, como a qualidade de vida, o bem-estar humano dependem da natureza”, diz. “As pessoas esquecem que o que comem, vestem, a água que tomam e a energia que usam vêm dos materiais na natureza.”

Clima. Segundo o estudo, em média, as populações de espécies na região tiveram redução de 31% em relação às que existiam antes da chegada dos europeus, há cerca de 500 anos. Com os efeitos crescentes da mudança climática adicionado­s aos outros fatores, essa perda pode chegar a 40% até 2050.

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AP Ameaça. Sudan, último rinoceront­e branco macho, morreu

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