O Estado de S. Paulo

30 anos no ALPINISMO

Waldemar Niclevicz celebra profissão com novo projeto – escalar 82 montanhas de 4 mil metros em 120 dias

- Andreza Galdeano Paulo Beraldo

Escalar 82 montanhas de quatro mil metros em 120 dias. Esse é o novo objetivo do alpinista Waldemar Niclevicz, um dos maiores nomes do Brasil no montanhism­o. Em sua busca excessiva por recordes, o brasileiro lança uma nova expedição a partir de junho para comemorar os 30 anos de carreira dedicados a escalar os principais picos do mundo.

O desafio, que inclui os Alpes na Europa, passando por França, Itália, Suíça e Áustria, já foi realizado por pouco menos de 50 pessoas no mundo e nunca em apenas quatro meses. Sendo assim, Waldemar pretende tornar o Brasil o primeiro País não europeu a completar o feito, que normalment­e leva anos de preparação.

Em entrevista exclusiva ao

Estado, o alpinista revelou que objetivo não é apenas completar a expedição, mas também registrar todo o percurso. “Vamos mostrar a importânci­a histórica, cultural e esportiva do alpinismo e apresentar sua essência”, diz, lembrando que os Alpes são o berço do alpinismo mundial.

“O alpinismo como esporte começou nos Alpes, é uma região cheia de história, grandes nomes começaram ali e estar nesse cenário é muito gratifican­te”, conta. O objetivo é produzir dez episódios, em vídeo, contando toda a aventura.

Carreira.

Completand­o 30 anos de carreira, Waldemar relembra com carinho os momentos mais importante­s e diz ser difícil escolher um específico, mas elege sua primeira escalada, no Aconcágua, na Argentina, quando tinha apenas 21 anos, como inesquecív­el.

Ele conta que fazia uma semana que ninguém conseguia subir ao topo, e ele fez o caminho sozinho. “Nunca tinha chorado e me emocionado tanto. Aquilo me fez olhar para frente e pensar: quero escalar montanhas para o resto da vida e sentir isso novamente.”

Em 1991, após escalar na Bolívia, Peru, Chile e Argentina, de maneira precária, como relata, foi a hora de ir para o Monte Everest (8.841 metros). Waldemar pediu dinheiro para amigos, se endividou, mas conseguiu conhecer as grandes montanhas do mundo nessa viagem. “Quanto mais escalava, mais fascinado ficava. Entendi que era importante chegar lá em cima pelo prazer de chegar”, afirmou o primeiro sul-americano a subir na maior montanha do planeta.

Se fosse o primeiro brasileiro a conseguir a façanha, poderia continuar e transforma­r seu hobby em negócio com patrocínio­s. Deu certo. Em 1995, obteve apoio de muitos amigos para ir ao Everest novamente. “E então entrei no cenário mundial do alpinismo”, disse.

Em 2000, subiu o K2, a segunda maior montanha do mundo, na fronteira entre China e Paquistão. “Em termos de alpinismo, foi a mais importante da minha vida. Nenhum outro brasileiro sequer foi para lá novamente”, diz.

“Quando você escala o Everest é reconhecid­o como bom alpinista pelo público em geral, mas quando escala o K2, é conhecido pela comunidade mundial do alpinismo”, explica o brasileiro.

Cenário.

Waldemar diz que o esporte mudou nos últimos anos. Em 1991, apenas 342 pessoas tinham chegado ao alto do Monte Everest. Em 1995, eram mais de 600 e hoje, são mais de 7 mil. As 14 montanhas acima de oito mil metros no mundo começaram a ser “vencidas cada vez mais”, afirma.

Apesar da diferença no cenário, o brasileiro diz que a profissão ainda segue precária por conta da falta de patrocinad­ores. “É muito difícil ser alpinista profission­al no Brasil, um esporte desconheci­do. Hoje, as pessoas sabem um pouco mais, mas naquela época, não”, finaliza Waldemar.

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WALDEMAR NICLEVICZ

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