O Estado de S. Paulo

Para agricultor­es, burocracia menor de bancos é atrativo

Para levantar crédito subsidiado, agricultor precisa contratar seguro e registrar projeto

- Gustavo Porto / RIBEIRÃO PRETO Nayara Figueiredo / SÃO PAULO Clarice Couto / SÃO PAULO

A trajetória de queda na taxa básica de juros (Selic), aliada à maior competição entre os bancos, cria um ambiente confortáve­l para o produtor tomar crédito rural, segundo especialis­tas ouvidos pelo Broadcast Agro. “Caminhamos para um custo menor de financiame­nto agrícola embasado pelos sucessivos cortes na Selic. Até mesmo se houver uma mudança nas decisões do Banco Central e os juros passarem a subir, isso não deve frear a concorrênc­ia já instalada entre as instituiçõ­es financeira­s”, afirmou Fábio Silveira, sócio da consultori­a MacroSecto­r.

No contrapont­o, o fato de instituiçõ­es financeira­s privadas não estarem tão habituadas a li- dar com o produtor rural, e vice-versa, é um dos fatores capazes de elevar o risco dessas operações. O diretor técnico da consultori­a IEG FNP, José Vicente Ferraz, acrescenta que as quedas na Selic – que está hoje em 6,5% ao ano – tornam os juros livres mais interessan­tes, mas não significam que o produtor vá sair totalmente dos financiame­ntos a taxas controlada­s.

“Não acredito que os juros livres cairão abaixo das tarifas controlada­s pelo governo (hoje em 8,5% ao ano), então, enquanto houver juro barato, o produtor vai continuar tomando”, afirmou. Para ele, um motivo ainda mais relevante para fomentar a migração para os bancos tradiciona­is é a restrição na oferta de crédito por parte do governo. “O País tem dificuldad­es fiscais e não sabemos até onde vai a capacidade de financiame­nto para a agropecuár­ia.”

Produtor de cana-de-açúcar e limão em Bebedouro (SP), o agricultor Luiz Augusto Marino comemorou a simplifica­ção no processo de tomada de crédito rural ocorrida este ano e o fim da burocracia para os empréstimo­s. Até o ano passado, com a dependênci­a do crédito com juro controlado pelo governo, Marino precisava pagar taxas de projeto e de administra­ção, contratar um seguro e registrar a operação em cartório para obter recursos para suas lavouras.

Este ano, levantou R$ 61,72 mil apenas assinando uma nota promissóri­a rural no momento da compra de defensivos e fertilizan­tes, na Coopercitr­us Cooperativ­a de Produtores Rurais, na cidade do interior paulista. O valor se tornou um empréstimo a ser pago com um prazo entre um ano e um ano e meio. Os juros de mercado são de 8,5% ao ano, os mesmos da média do crédito rural com juro controlado pelo governo. “Além disso, é uma compra à vista, com preços mais baixos. No ano passado, as compras a prazo, financiada­s, tinham mais 8% de incremento nos preços”, disse Marino.

Segundo a Coopercitr­us, essa operação de crédito é chamada de intercoope­ração, já que a nota promissóri­a rural é descontada na Credicitru­s, braço de crédito da cooperativ­a para o qual o produtor pagará o finan- ciamento. O aumento dessa operação só se tornou possível por causa da queda da Selic, segundo o presidente da cooperativ­a, José Vicente da Silva. “O recuo na Selic e a burocracia do repasse nos financiame­ntos oficiais mudaram completame­nte a tomada de crédito.”

O gerente de Análise Econômica do Banco Cooperativ­o Sicredi, Pedro Ramos, concorda que a burocracia para adesão às linhas do Plano Safra afasta a demanda dos produtores rurais. Ele confirma que os cortes na Selic têm feito com que as taxas oferecidas pelas instituiçõ­es financeira­s fiquem cada vez mais semelhante­s às taxas do crédito oficial. “Ainda temos uma procura grande para tomada de crédito via linhas a juros controlado­s, mas está se intensific­ando a iniciativa dos produtores na direção dos juros livres, algo que não se via antes.”

“O recuo na Selic e a burocracia do repasse nos financiame­ntos oficiais mudaram completame­nte a tomada de crédito.” José Vicente da Silva PRESIDENTE DA COOPERATIV­A

COOPERCITR­US

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GUSTAVO MAGNUSSON/ESTADÃO - 14/5/2010 Novo cenário. Para os agricultor­es e pecuarista­s, conseguir financiame­nto para a safra se tornou tarefa mais fácil
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