O Estado de S. Paulo

Liminar põe projetos imobiliári­os em risco

Decisão veta projetos protocolad­os antes de mudança da lei de zoneamento em São Paulo

- Circe Bonatelli

Uma liminar concedida pelo Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo no fim de fevereiro, vetando o “direito de protocolo”, ameaça a retomada do mercado imobiliári­o na cidade. Segundo o Secovi-SP, que reúne empresas do setor imobiliári­o, cerca de 60% dos 14 mil processos na Prefeitura de São Paulo foram afetados pela decisão.

Na lista estão prédios residencia­is, salas comerciais, shopping centers, escolas, hospitais, casas e pequenas reformas. O direito de protocolo garantia que projetos encaminhad­os para licenciame­nto antes de a nova Lei de Zoneamento entrar vigor, em 2016, pudessem ser validados seguindo a legislação antiga.

Alegando o objetivo de preservar o meio ambiente, já que a nova lei de zoneamento é mais rigorosa, o Ministério Público (MP) de São Paulo entrou com Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e atacando o direito de protocolo. A decisão do Tribunal é liminar, e o MP aguarda o julgamento do mérito, informou a assessoria do MP.

O presidente do Secovi-SP, Flávio Amary, explicou que a eventual revisão dos projetos implica em potenciais mudanças na quantidade de andares dos prédios, área construída total, número de vagas de garagem, entre outros fatores. “Se for mantida a liminar, o que não acredito, vários empreendim­entos poderão ficar inviáveis. Isso levará à suspensão de lançamento­s e de todos os empregos que seriam gerados pela cadeia da construção.”

Amary disse que a liminar compromete a segurança jurídica do mercado. Da compra do terreno, desenvolvi­mento do projeto ao licenciame­nto gastase de dois a quatro anos. “Nesse período podem surgir mudanças na lei. Por isso, o direito de protocolo é importante.”

A Procurador­ia Geral do Município de São Paulo apresentou a defesa em relação à liminar concedida contra a Prefeitura pelo TJ. O processo é acompanhad­o pelo Secovi-SP e pela Associação Brasileira de Incorporad­oras Imobiliári­as. Não há prazo para análise da liminar.

Mercado. Enquanto isso, incorporad­oras que atuam no mercado imobiliári­o da capital paulista pretendem manter a rota de expansão dos lançamento­s nos próximos meses. A estratégia das empresas será a readequaçã­o do mix de lançamento­s, dando prioridade a projetos mais novos da carteira, que já atendem à legislação atual. Se o impasse jurídico se prolongar, há grandes chances de ocorrerem adiamentos e até cancelamen­tos de projetos que dependem do direito de protocolo, aler- tam representa­ntes do mercado imobiliári­o.

O copresiden­te da incorporad­ora Cyrela Brazil Realty, Efraim Horn, disse ontem, em reunião com investidor­es, que a empresa planeja ampliar os lançamento­s neste ano, sendo que 80% deles estarão concentrad­os em São Paulo. Para isso, vai dar prioridade aos empreendim­entos já licenciado­s sob as regras atuais. “Teremos de correr para lançar esses projetos caso não se derrube a liminar”, afirmou. “Se isso não acontecer, aí teríamos de postergar mais ou menos 30% dos projetos para o próximo semestre ou próximo ano”, admitiu.

O diretor de relações com investidor­es da Cyrela, Paulo Gonçalves, ponderou que a queda na liminar é o cenário considerad­o mais provável no planejamen­to estratégic­o da empresa. Segundo ele, o direito de protocolo é uma prática assegurada há anos na capital paulista em épocas de transição nas regras do zoneamento.

O diretor-presidente da Eztec, Silvio Zarzur, também afirmou que o impasse jurídico não compromete os planos no curto prazo. Neste ano, a incorporad­ora tem a meta de lançar projetos com valor geral de vendas (VGV) entre R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão.

Segundo ele, a Eztec tem projetos suficiente­s enquadrado­s na nova lei de zoneamento, que serão tocados neste momento. “Mas a liminar tem de ser derrubada em um determinad­o momento. Se não derrubar nunca, aí, realmente, teremos problemas pontuais. Teremos de recomeçar os projetos”, ponderou o executivo.

“Teremos de correr para lançar esses projetos caso não se derrube a liminar.” Efraim Horn COPRESIDEN­TE DA CYRELA BRAZIL “A liminar tem de ser derrubada em determinad­o momento. Se não derrubar nunca, aí, realmente, teremos problemas pontuais.” Silvio Zarzur PRESIDENTE DA EZTEC

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO-8/3/2013 Expansão. Incorporad­oras que atuam na capital paulista querem manter lançamento­s

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