O Estado de S. Paulo

Brasil e EUA iniciam conversa sobre taxa do aço

Governo americano indicou, ontem, que exclusão permanente de alguns países da sobretaxa dependeria de uma contrapart­ida, mas não deu detalhes

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA COLABOROU LORENNA RODRIGUES

As áreas técnicas dos governos do Brasil e dos EUA já iniciaram as conversas em torno das sobretaxas que os americanos começaram a aplicar ontem sobre suas importaçõe­s de aço e alumínio. Os produtos brasileiro­s estão liberados de pagar a taxa adicional até o dia 1.º de maio. Nesse período, os dois países farão uma negociação cujo formato e objetivos ainda não estão claros.

O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, afirmou anteontem que a exclusão de Brasil, Argentina, Austrália, Coreia do Sul e União Europeia da sobretaxa não ocorreria sem uma contrapart­ida. Mas não deu detalhes. Não houve sinais até agora de que a conversa se dará em torno de produtos específico­s como, por exemplo, um aumento da importação do etanol de milho americano. Na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que, se a questão é de segurança nacional, “não há por que tro- car aço por manteiga”.

É aguardado para o início da próxima semana um telefonema do presidente Michel Temer para Donald Trump. O contato de mais alto nível entre os dois países é visto como uma peça importante para o sucesso das negociaçõe­s.

Em nota conjunta dos ministério­s da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e das Relações Exteriores, o governo brasileiro diz que atuará junto com o setor privado para que a exclusão de seus produtos de aço e alumínio do regime de sobretaxa se dê de forma definitiva o quanto antes. “O governo brasileiro permanece convencido de que tal resultado será melhor alcançado por meio do diálogo”, diz.

Parceria. No anúncio que confirmou oficialmen­te a exclusão do Brasil da sobretaxa, o governo americano cita a cooperação dos dois países na área de Defesa, principalm­ente na América Latina, para justificar sua decisão. Ao anunciar a sobretaxa, Trump havia dito que países parceiros poderiam ser liberados.

O documento fala também da atuação conjunta de Brasil e EUA no Foro Global do Aço, coordenado pela Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), que discute o que fazer com o excesso de produção de aço no mundo. Há uma sobreofert­a estimada em 750 milhões de toneladas, dos quais 400 milhões são de origem chinesa. O Brasil tem tido uma atuação forte nas discussões, em posições convergent­es com as dos EUA.

Outro ponto mencionado no anúncio é a integração comercial e de investimen­to entre os dois países. Nesse ponto, se encaixa o principal argumento do Brasil: de que sua produção é complement­ar à dos EUA. Cerca de 80% do aço exportado para lá é semiacabad­o, para ser processado pelas indústrias locais. Na mão inversa, o Brasil importa US$ 1 bilhão de carvão siderúrgic­o americano ao ano.

Há, além disso, os investimen- tos na indústria siderúrgic­a americana. Perto de 14% do aço produzido naquele país vem de empresas com capital brasileiro, que empregam 100 mil pessoas.

Por isso, o lado brasileiro acredita estar em boa posição para negociar. Os americanos se mostraram preocupado­s com uma possível triangulaç­ão de produ- tos chineses por outros mercados. Mas os técnicos reuniram dados para demonstrar que esse não é o caso do Brasil.

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