O Estado de S. Paulo

Estados Unidos e Europa expulsam diplomatas russos

Respaldo. Medida foi adotada em apoio à primeira-ministra britânica, Theresa May, que acusou Moscou de usar arma química para envenenar ex-espião Serguei Skripal, que vive no Reino Unido; tensão sobe ao nível mais alto desde a anexação da Crimeia, em 2014

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Em retaliação ao ataque a um ex-espião da Rússia, Trump ordenou a expulsão de 60 diplomatas russos. Canadá, Austrália e aliados europeus fizeram o mesmo. No total, 116 foram expulsos. Com o apoio, Theresa May ganha força.

O presidente Donald Trump ordenou ontem a expulsão de 60 diplomatas russos dos EUA, em retaliação ao ataque com arma química contra um ex-espião russo no Reino Unido, no início do mês. A ofensiva foi coordenada com Canadá, Austrália e 20 aliados europeus, que ordenaram a saída de outros 56 diplomatas, em uma demonstraç­ão de apoio à primeira-ministra britânica, Theresa May, que responsabi­lizou Moscou pelo atentado.

A reação coordenada elevou o grau de tensão entre o governo de Vladimir Putin e o Ocidente ao maior patamar desde a anexação da Crimeia, em 2014, condenada com a imposição de sanções econômicas à Rússia pelos EUA e pela Europa. O governo americano sustenta que os diplomatas expulsos são espiões, entre os quais 12 que servem na ONU em Nova York.

O número é maior que os 55 que foram obrigados a deixar os EUA em 1986, durante a Guerra Fria, na que havia sido a mais ampla medida do tipo já adotada por Washington contra Moscou. O endurecime­nto da posição do governo americano contrasta com as reiteradas manifestaç­ões de simpatia de Trump em relação a Putin.

Na semana passada, o presidente americano contrariou orientação de assessores e parabenizo­u o russo por sua reeleição em um telefonema. Depois da conversa, os dois governos disseram que um encontro bilateral entre os líderes poderia ocorrer em breve.

O ocupante da Casa Branca foi criticado por não mencionar o ataque químico no telefonema a Putin e por sua demora em manifestar solidaried­ade ao Reino Unido, o principal aliado dos EUA. Ávido usuário do Twitter, Trump não publicou nenhum

post ontem sobre as medidas anunciadas por seu governo contra Moscou nem fez comentário­s públicos sobre o assunto.

“A expulsão dos diplomatas tornará mais difícil um encontro

entre Trump e Putin”, afirmou William Pomeranz, especialis­ta em Rússia do Wilson Center, em Washington. Em sua opinião, a ação coordenada mina a credibilid­ade do governo

Putin, que nega qualquer envolvimen­to no ataque contra o espião duplo Serguei Skripal e a filha dele, Yulia. Ambos foram contaminad­os por Novichok, uma substância banida por tratados internacio­nais, e continuam hospitaliz­ados. “A Rússia sempre se esconde atrás da negação plausível, mas isso terá menos credibilid­ade agora”, observou Pomeranz.

“Pela primeira vez, desde o fim da 2.ª Guerra, uma arma química foi usada na Europa”, declarou, em nota, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas.

Distante. Trump também ordenou o fechamento do consulado russo em Seattle, por sua proximidad­e com a sede da Boeing e uma base de submarinos. “As ações de hoje tornam os EUA mais seguros ao reduzir a capacidade da Rússia de espionar americanos e de conduzir operações secretas que ameaçam a

segurança nacional da América”, disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders. “Os EUA continuam prontos para cooperar na construção de uma melhor relação com a Rússia, mas isso só pode ocorrer com uma mudança no comportame­nto do governo russo.”

O embaixador de Moscou em Washington, Anatoli Antonov, foi informado da decisão menos de uma hora antes do anúncio. Segundo a agência russa Interfax, ele afirmou que a medida destruirá “o pouco do que resta da relação Rússia-EUA”. Pomeranz espera que Putin retalie com a expulsão de um número semelhante de diplomatas e o fechamento de um dos três consulados que os EUA mantêm na Rússia.

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