O Estado de S. Paulo

Passada a crise, bancos começam a procurar clientes para oferecer crédito

Sistema financeiro. Instituiçõ­es financeira­s passaram a visitar clientes com propostas de empréstimo e já estudam prazos mais longos para o consumidor; ontem, o Banco Central revisou a projeção de cresciment­o do crédito livre de 4% para 6% este ano

- Márcia De Chiara COLABORARA­M FERNANDO NAKAGAWA E EDUARDO RODRIGUES

Depois de passar os últimos anos segurando a concessão de crédito, os bancos passaram a procurar os clientes para oferecer empréstimo­s. O movimento começa a aparecer aos poucos nos dados do Banco Central, que, ontem, revisou para cima a projeção de cresciment­o para o crédito livre, em que as taxas são definidas pelas próprias instituiçõ­es financeira­s. A alta deve ser de 6% este ano e não de 4%, como o BC havia previsto.

“Antes os gerentes não visitavam as empresas para oferecer crédito, agora todos estão fazendo isso, embora as taxas continuem elevadas”, disse o diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças e Contabilid­ade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Nos financiame­ntos ao consumidor, ele tem observado uma flexibilid­ade maior nas concessões. “Há um ano, de cada dez fichas, os bancos aprovavam duas. Agora, aprovam cinco.”

Os gerentes do Itaú Unibanco desde o ano passado visitam os empresário­s com um tablet para agilizar as operações de crédito. “Temos estimulado bastante a visita na própria empresa”, diz André Daré, diretor do banco. “Em negócios de pequeno e médio porte, que faturam entre R$ 1,2 milhão e R$ 30 milhões, estimulamo­s que o gerente esteja presente, veja a saúde financeira e se perceber a necessidad­e de capital de giro, por exemplo, ele pode oferecer e contratar o crédito no próprio momento da visita.”

Os dados do BC mostram que a retomada da oferta de crédito ao consumidor começou primeiro, no segundo semestre de 2017. Já a volta do financiame­nto para empresas ocorreu a partir do último trimestre, depois de um longo período de aperto. Nos três meses encerrados em fevereiro, o volume de novos financiame­ntos aprovados para empresas cresceu 7,4% em relação ao trimestre móvel anterior. Para o consumidor, a alta foi de 0,9%.

Efeito Selic. Com a queda na taxa básica de juros, que na semana passada recuou para 6,5% ao ano, a mínima histórica, aplicar em títulos públicos ficou menos rentável para os bancos, obrigando as instituiçõ­es financeira­s a aumentar a disposição de emprestar, na tentativa de compensar as perdas.

O diretor de Empréstimo­s e Financiame­ntos do Bradesco, Leandro José Diniz, disse que o banco está mais acessível nos empréstimo­s. Questionad­o se o banco estaria mais agressivo no crédito, especialme­nte a empresas, ele explicou que os gerentes estão sempre visitando os clientes. “Quando o mercado melhora, a gente acompanha também.”

No caso do consumidor, a melhora do cenário se refletiu em prazos mais longos no crédito pessoal sem garantias na carteira do banco. “De setembro para cá o prazo médio de 18 meses está indo para 34, porque o cliente se sentiu mais confortáve­l.”

Eduardo Jurcevic, superinten­dente executivo de produtos de Crédito à Pessoa Física do Santander, enfatizou que o banco nos últimos 12 meses já vinha numa “toada bastante forte” no crédito e que não mudou os modelos de risco na concessão por causa da melhora do quadro econômico.

No entanto, ele disse que está no radar do banco um alongament­o de prazos de pagamento. Os prazos médios do consignado e do crédito pessoal estão em 70 e 28 meses, respectiva­mente. “Não vejo motivos para não subir prazos em 20%.” /

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