O Estado de S. Paulo

Gigante chinesa Fosun aumenta aposta no Brasil

Portfólio. Após investir R$ 700 milhões na compra de fatias de empresas como a gestora Rio Bravo e a corretora Guide, companhia estuda ativos brasileiro­s nos setores de saúde, entretenim­ento e financeiro; no mundo, chinesa é sócia do Cirque du Soleil e do

- Luciana Dyniewicz

Em meio a uma onda de descrédito em relação às gigantes chinesas que crescem no mundo todo por meio de aquisições e estão altamente endividada­s (ver matéria abaixo), o grupo Fosun – que tem participaç­ão no Cirque du Soleil e na rede hoteleira Club Med – avança no Brasil. Após injetar cerca de R$ 700 milhões em um prédio corporativ­o em São Paulo e em participaç­ões na Rio Bravo Investimen­tos e na Guide Investimen­tos, a empresa chinesa estuda ativos brasileiro­s nos setores de saúde, entretenim­ento e financeiro, sobretudo na área de risco corporativ­o.

Segundo o Estado apurou, a Fosun ainda tem interesse em levar a parte de seguros do Grupo Austral – em 2016, as companhias já haviam conversado. A ideia agora é separar a seguradora da ressegurad­ora e ficar apenas com a primeira.

Além da Austral, que não comenta o assunto, a chinesa já analisou ativos no Brasil como a Notredame Intermédic­a (operadora de planos de saúde e dona de 18 hospitais), o Complexo Hospitalar Aliança, da Bahia, e empresas no setor da construção. A Fosun não confirma as negociaçõe­s. “Não comentamos. Mas o processo de investimen­to da Fosun é muito seletivo. Há um orçamento global (para aquisições) e o país que tem melhor ativo leva”, diz o português Diogo Castro e Silva, diretor da Fosun no Brasil.

Se a Fosun concluir a compra da Austral, o negócio deve repetir o modelo que a chinesa vem adotando aqui e globalment­e: a compra de uma participaç­ão majoritári­a e a manutenção de sócios locais que conhecem o mercado e podem tocar a operação.

Sócio. No caso da Guide, o mais recente no País, a Fosun comprou 70% da empresa e manteve os sócios no comando. “A tendência é sermos sempre majoritári­os. Lidar com sócios é difícil, mas tê-los permite que a velocidade (de cresciment­o) se multipliqu­e”, diz Silva. Segundo o executivo, os chineses participam na definição da estratégia de longo prazo das empresas adquiridas, mas não das decisões do dia a dia, deixadas a cargo dos sócios.

Silva lidera a companhia chinesa por aqui desde a primeira aquisição – a da Rio Bravo –, anunciada em julho de 2016. Comprar uma empresa que tem em seu quadro societário o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco ajudou a Fosun a ganhar credibilid­ade no Brasil, de acordo com uma fonte do mercado. Para a Fosun, foi ainda uma forma de ter acesso a informaçõe­s locais. “Ter um pé no setor financeiro acelera (o ritmo de instalação do grupo no país), pois esses sócios ajudam no processo de análise de ativos para compra”, acrescenta o executivo.

Segundo Silva, o Brasil é, ao lado de emergentes como Indonésia e Índia, uma das prioridade­s do grupo. “O interesse agora crescerá, porque já estamos nos consolidan­do no mercado brasileiro e entendendo seus potenciais e problemas.”

Para uma fonte do mercado financeiro, a Fosun deverá encontrar mais oportunida­des no Brasil na área financeira. No segmento de saúde, pelo qual também se interessa, deve enfrentar dificuldad­es porque as empresas já são maiores e é preciso ter escala para atuar de modo eficiente. Ainda segundo esse executivo, a Fosun não tem uma postura agressiva nas negociaçõe­s e costuma oferecer valores competitiv­os pelos ativos. “Eles não jogam dinheiro fora.”

Restrições. Sobre a política do governo chinês de restringir investimen­tos no exterior a setores considerad­os estratégic­os – como infraestru­tura – para segurar recursos no país, Silva afirma que a Fosun não deve ser afetada. “O que a China procura fazer é quebrar alguma exuberânci­a. Houve fase em que empresas do País compraram muitos ativos troféus. Mas nós temos uma política de investimen­to criteriosa. Sabemos justificar (ao governo) por que adquirimos um ativo por tal volume.”

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SUSANA VERA/REUTERS Acionista. Fosun tem fatia de 25% no Cirque du Soleil

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