O Estado de S. Paulo

Depeche Mode traz seu rock eletrogóti­co a SP 24 anos depois

Sucesso a partir dos anos 1980 e, para muitos, a maior banda de new wave, grupo volta em grande forma

- Pedro Antunes

O Depeche Mode visto em São Paulo, nas duas noites no Olympia (casa de shows que recebeu de gente como David Bowie a Ramones), em abril de 1994, estava em frangalhos. O tecladista e baterista Alan Wilder fazia sua última turnê. Andy Fletcher, por sua vez, alegava problemas e não veio ao País. Por fim, e ainda mais grave, Dave Gahan, o vocalista, afundava-se pesadament­e no vício de drogas pesadas, como cocaína e heroína. O fundo do poço ocorreu quando a voz do Depeche Mode, após uma overdose, permaneceu por dois minutos sem vida, até que os paramédico­s o ressuscita­ssem, em 1996.

A partir de então, Gahan ingressou em uma clínica de reabilitaç­ão, diz estar limpo, e o Depeche Mode sobreviveu aos terríveis anos 1990 e 2000, que tanto bateram e massacrara­m a geração new wave e new romantics. Em pleno 2018, o grupo segue na ativa, formado por Gahan, Martin Gore e Andy Fletcher, e com uma média de um álbum a cada quatro anos. Nesta volta a São Paulo, 24 anos depois, o Depeche Mode é o símbolo de uma era, dono de um estilo muito próprio, com doses eletrônica­s e de sintetizad­ores injetadas nos vocais soturnos e etéreos de Gahan, mas ainda capaz de dialogar com o presente. Nesta terça-feira, 27, no Allianz Parque, o trio inglês chega com um disco novinho em folha na mala, Spirit, um trabalho criado diante da sombra e das dúvidas criadas a partir da eleição de Donald Trump, do Brexit e dos movimentos políticos extremista­s ascendendo por toda a Europa.

“Vivemos em um momento de transforma­ção real”, disse Dave Gahan à revista Rolling Stone norte-americana, na época do lançamento de Spirit. “Ao ficar mais velho, as coisas que acontecem no mundo passam a me afetar mais. Eu penso nos meus filhos e no mundo no qual eles estão crescendo. Minha filha, Rosie, foi muito afetada pelas eleições (da presidênci­a dos Estados Unidos) no ano passado. Ela soluçava e eu pensei: ‘Uau’”, disse.

Spirit, portanto, nasce do momento no qual o Depeche Mode decidiu não se importar em parecer como “cinquentõe­s ricos que fingem estar preocupado­s com a situação do mundo”, como eles contam à publicação norte-americana. “(Porque) isso não significa que paramos de nos preocupar com o que acontece ao redor do mundo”, explica Gahan. “Isso está realmente me afetando.”

Spirit é o disco que dá nome à turnê da banda nascida em Basildon, localizada a 41 km de Londres, em 1980. Para uma banda com mais de 110 milhões de discos vendidos e um repertório que ultrapassa as 220 canções, centrar-se somente no material mais recente seria um tiro no próprio pé, principalm­ente em uma performanc­e de arena. Com isso, em São Paulo, espere pelos hits de ontem. No dia 24 deste mês, o grupo passou por La Plata, na Argentina, e tocou três canções do novo álbum (Cover Me, Going Backwards e a ótima Where’s the Revolution), da safra anterior, vieram os clássicos Strangelov­e e Enjoy the Silence, provavelme­nte o maior sucesso de Gahan e companhia – e tocado 24 anos atrás. Desta vez, eles o farão inteiros.

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JUAN PABLO AZABACHE Abismo. Em 1996, Gahan sofreu uma overdose, mas voltou

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