ALMA UNIVERSITÁRIA
Universitária e tida como um dos principais centros culturais do México – em grande parte, em razão da realização anual do Festival Internacional Cervantino, que reúne diferentes tipos de arte –, Guanajuato vibra como as cores das fachadas de seu casario colonial. Suas calçadas estão repletas de mexicanos e turistas; suas ruas, carregadas de trânsito; e seus morros, tomados por vielas que se desencontram.
Essas ruas de Guanajuato, iluminadas pelo sol quente e margeadas por casas alaranjadas, roxas e verdes, contrastam com as dezenas de túneis escuros que cortam essa cidade que já foi o maior centro de mineração de prata do mundo. Os túneis, entretanto, não têm a ver com a história de mineração: foram construídos a partir do século 19 para que a água de um rio escoasse, evitando inundações.
Do passado mineiro, sobrou a mina San Ramón, já desativada, aberta a visitação – é possível adentrar cerca de 60 metros. Quase ao lado está a igreja La Valenciana, construída a partir de 1765 no alto de um dos morros da cidade (o melhor é ir de táxi). O altar do templo é decorado com ouro, recordando o tempo áureo da mineração.
No centro, prédios coloniais lembram a parte histórica da baiana Salvador e rodeiam uma diminuta praça com um chafariz e a catedral. A uma quadra da igreja, o imenso prédio da Universidade de Guanajuato se espreme entre ruas estreitas. O edifício excêntrico – apesar de ter apenas 65 anos, seus traços remetem a um castelo – estampa a nota de mil pesos mexicanos e é símbolo da cidade, com sua escadaria que recebe sessões de cinema ao ar livre durante o Festival Cervantino, em outubro.
‘Callejonear’
As tradições culturais e estudantis de Guanajuato também aparecem na forma de “callejoneadas”, passeios pelas ruas históricas acompanhados de músicos com vestes europeias medievais. O costume nasceu nos anos 1960, quando estudantes da universidade montaram um grupo para tocar música antiga espanhola, com bandolim e baixo acústico. A brincadeira se espalhou e, hoje, profissionais organizam o passeio para entreter turistas. O ponto de encontro é diante do Teatro Juárez (um dos mais impressionantes do México), ao anoitecer.
Imponente e de estilo eclético, o teatro foi construído ao longo de 31 anos no fim do século 19. Sua fachada é neoclássica, mas o interior remete ao estilo mudéjar (movimento arquitetônico espanhol com influência árabe). Preste atenção nos detalhes do lustre em formato de estrela e nos pórticos dos camarotes.
O teatro fica quase em frente a uma praça cercada de árvores, cujas copas enormes se aglutinam e quase não permitem que você veja seu interior. As praças são justamente outro ponto alto de Guanajuato. A de San Fernando, por exemplo, reúne restaurantes e cafés com mesinhas na calçada, que se destacam mais pelo ambiente agradável e pela arquitetura do que pela comida em si. Já a de Los Ángeles conta com casinhas coloridas e lances de escadas em que os locais costumam descansar.
Beco do Beijo
Próxima às duas praças fica o Callejón del Beso (Beco do Beijo, em português), a via mais estreita da cidade e um dos pontos turísticos mais visitados. A rua é, na verdade, uma escada, e as sacadas das casas que são separadas por ela praticamente se encostam. Segundo a lenda, o beco foi cenário de uma versão Romeu e Julieta local. Em uma dessas casas vivia uma família afortunada cuja filha se apaixonou por um mineiro. Proibido de ver sua amada, o jovem alugou a casa da frente e, como elas estão tão próximas, eles podiam se beijar sem saírem de suas sacadas.
Diego Rivera
Guanajuato é ainda a cidade natal do muralista Diego Rivera, um dos principais artistas mexicanos do século 20. A casa onde ele nasceu foi transformada em museu e exibe alguns de seus trabalhos e esboços, além de recriar a decoração da casa da família no fim do século 19. É um bom passeio para fãs de Rivera ou para aqueles que queiram sentir ainda mais a atmosfera cultural dessa cidade de menos de 200 mil habitantes, que vibra como se fosse bem maior.