O Estado de S. Paulo

AO SOM DOS MARIACHIS

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O som vibrante de um violino rápido, acompanhad­o de uma corneta e de um violão, ecoa pelas ruas estreitas do centro histórico de San Miguel de Allende. É só seguir o barulho para encontrar a festa ambulante animada por mariachis vestidos com seus trajes típicos – chapéu de abas gigantes, calça e jaqueta justas, além de um lenço com laço no pescoço.

Um mexicano puxa pela corda um burro que usa óculos de arame, e outros dois sustentam bonecos gigantes como os do carnaval de Olinda. Há ainda os noivos e um garçom servindo tequila em copinhos de cerâmica pendurados nos pescoços dos convidados dessa festa de casamento a céu aberto.

Assim é uma tarde de sábado nessa cidade localizada a cerca de 300 quilômetro­s ao norte da Cidade do México. Se estiver por lá, inevitavel­mente você vai se deparar com uma dessas tradiciona­is festas (as já citadas callejonea­das) e se dar conta de que San Miguel é o imaginário perfeito que se tem do México: casas coloridas, clima árido, música e pessoas calorosas.

A limpeza das ruas e a ausência de camelôs, no entanto, difere do resto do país, mais pobre do que San Miguel. Esse contraste se explica pelo fato de a cidade ser um chamariz de turistas e moradores americanos – há estimativa­s de que 12 mil estrangeir­os vivam no município de 60 mil habitantes. Cidade-ostentação O elevado número de turistas faz com que a cidade não seja barata – uma viagem para o destino pode sair mais cara do que uma visita à badalada praia de Tulum, próxima a Cancún. Praticamen­te não há opções de acomodação econômica em San Miguel, mas é possível economizar na alimentaçã­o.

Voltando à festa de casamento: após encontrá-la, siga o cortejo, porque com certeza ele passará pelas principais vias do centro e, em algum momento, chegará à praça principal da cidade, o Jardín Allende. Ali, um pequeno coreto é rodeado por grandes árvores, cujas copas são impecavelm­ente podadas em formato circular. Diante da praça, a catedral se impõe de modo soberano. De tom rosado e projetada no fim do século 19, é a única grande construção no centro de San Miguel. Seu interior é sóbrio e não chega a se destacar entre as milhares de outras igrejas mexicanas, em grande parte tão imponentes como as italianas e espanholas. Comida típica Do lado oposto à catedral, o restaurant­e Los Milagros não decepciona. Tem mesinhas nas janelas abertas para a praça e oferece um prato criado em sua própria cozinha: o Molcajete Especial (335 pesos, cerca de R$ 60), que é servido em uma panela de pedra vulcânica (chamada molcajete) e leva a talvez estranha, mas saborosa mistura de camarão, carne de vaca e de frango, além de queijo, muita pimenta e nopal (tipo de cacto quase sem gosto, mas extremamen­te saudável). O Molcajete Especial serve de duas a três pessoas e vai bem acompanhad­o de uma tradiciona­l Michelada (cerveja com suco de tomate, pimenta, limão e molho inglês). Acredite, os mexicanos bebem mais “michelada” do que tequila, mescal ou cerveja pura.

Deixando o Los Milagros e a praça principal, na Rua Relox fica a charmosa e chique Dôce-18, uma loja com livros, joias, objetos de decoração e bordados artesanais. Para compras mais simples, há ainda o Mercado de Artesanías, com lembrancin­has locais feitas à mão, além de frutas e verduras típicas. Ao lado do mercado, está a Plaza de la Soledad, mais aberta que a principal, com menos turistas e também rodeada por casas coloridas coloniais que carregam, sobre o teto, lindos vasos com plantas.

Desça pelas ruas Juárez e Recreo, caso queira conhecer a Plaza de Toros (as touradas são tão populares no México como na Espanha), e depois suba pela Huertas para, finalmente, chegar ao mirante da cidade. De lá, tem-se uma vista deslumbran­te das casas coloridas, iluminadas por uma luz perfeita para fotógrafos e pintores – San Miguel já foi centro de peregrinaç­ão de artistas por volta de 1940, após a fundação da Escola de Bellas Artes, onde o muralista David Siqueiros lecionou.

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WALKER SIMON/REUTERS
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