Adeus, fantasma
Gabriel Jesus marca e Brasil vence a Alemanha por 1 a 0, no primeiro jogo entre as seleções depois dos 7 a 1
Quase quatro anos atrás, Gabriel Jesus viu como torcedor o maior vexame da seleção, a derrota por 7 a 1 para a Alemanha. Ele era um menino que pintava as ruas do Jardim Peri, bairro da zona norte de São Paulo onde morava, para torcer pelo Brasil na Copa. Ontem, o ainda menino – com 20 anos é o mais novo jogador da equipe – fez o gol da vitória do time de Tite por 1 a 0 sobre o rival em Berlim. A vitória, que nem de longe pode ser tida como vingança ou revanche, dá confiança ao grupo às vésperas de embarcar para o Mundial da Rússia.
Com o triunfo sobre a desfalcada Alemanha no histórico estádio Olímpico no último amistoso antes da convocação oficial para a Copa do Mundo, Tite conseguiu o que queria com o jogo: ganhar e partir para a Rússia sem a presença do fantasma – definição do técnico – que há quatro anos assombra o Brasil.
“Não há como negar que a vitória tem um sentimento de resgate da autoestima. Não tem fantasminha mais”, comemorou o treinador, que deixa claro que os 7 a 1 não foram enterrados. “É da vida, passou, vai ficar marcado. Não é porque vencemos que vai deixar de existir.”
Ontem, a vitória teve um ingrediente extra para o Brasil: pôs fim a uma invencibilidade de 22 jogos da Alemanha, que vinha desde junho de 2016. Se não perdesse em Berlim, quebraria o recorde de sua história.
Gabriel Jesus se firmou com o gol de ontem como o maior artilheiro da seleção desde que Tite assumiu. Tem nove gols contra sete de Neymar (que não jogou porque está machucado) e Paulinho. Ele admitiu não ter feito uma grande partida.
“Eu não estava nos meus melhores dias tecnicamente, errei passes bobos, errei finalização que não costumo errar. Não estava bem na questão técnica. Mas acho que troquei a técnica pela raça”, disse o atacante.
A Alemanha já havia esvaziado a partida. Joaquim Löw mandou a campo um time com sete reservas e, durante o confronto, fez cinco mudanças. O objetivo era testar novatos e opções diferentes para os jogos da Copa, que começa dia 14 de junho. Mesmo assim, o time deu algum trabalho para a seleção.
Mas o Brasil também se saiu bem. Fez boa partida e se comportou em campo. Antes de entrar para o jogo, Tite admitiu que o duelo era o “maior teste emocional e psicológico” de seu grupo e que ele também convivia todos os dias com o fantasma dos 7 a 1 daquela semifinal.
Sem contar com Neymar, Tite usou a partida para encontrar uma nova formação para a seleção, ciente de que precisa reduzir a dependência do time em relação ao jogador do PSG. Ele montou uma equipe com Paulinho, Casemiro e Fernandinho, remanescente da partida de 2014 no Brasil, com o objetivo de fortalecer o meio de campo. A estratégia funcionou.
No primeiro tempo, a Alemanha começou melhor, mas aos poucos, com Coutinho acionado pela esquerda, a seleção passou a assustar. A partida passou a ser mais equilibrada. Gabriel Jesus teve chance, mas chutou a bola por cima um minuto antes de marcar o gol que seria o da vitória brasileira: livre na área, ele completou de cabeça um cruzamento de Willian e contou com a falha de Trapp, goleiro reserva da Alemanha.
Na segunda etapa, o Brasil começou melhor, teve algumas oportunidades, mas, na parte final do jogo, a Alemanha pressionou. Criou chances boas, mas não alcançou o empate.
Do lado alemão, apesar da derrota, o clima era de festa. O jogo servia ainda como promoção da candidatura do país para sediar a Eurocopa de 2024. Não faltaram as provocações entre os torcedores, sempre com os 7 a 1 de 2014 como “mote”.