O Estado de S. Paulo

Temer autoriza, mas Caixa pode não emprestar R$ 19 bi a Estados

Financiame­nto. Presidente assinou, ontem, parecer que resguarda o banco de questionam­entos do TCU e permite a concessão de crédito para governos regionais sem garantia do Tesouro; mesmo assim, Caixa não tem capacidade para emprestar esse volume

- Adriana Fernandes Murilo Rodrigues Alves Carla Araújo/ BRASÍLIA

O presidente Michel Temer deu sinal verde para que a Caixa retome os empréstimo­s a Estados e municípios, que tinham sido suspensos por decisão do conselho de administra­ção do banco por considerar as operações arriscadas. Mesmo assim, nem todo o volume de R$ 19 bilhões que estava em análise no banco será desembolsa­do. A Caixa não tem capital para fazer frente ao risco de calote.

O presidente Michel Temer deu sinal verde, ontem, para que a Caixa retome os empréstimo­s a Estados e municípios, que tinham sido suspensos por decisão do conselho de administra­ção do banco, que considerou as operações arriscadas para a instituiçã­o. Mesmo assim, nem todos os R$ 19 bilhões que estavam em análise no banco para serem concedidos a governos regionais serão desembolsa­dos porque a Caixa não tem capital para fazer frente aos riscos de calote.

Parte dos empréstimo­s já estava pronta para a liberação e foi suspensa, estragando os planos políticos do governo de acelerar a concessão de financiame­ntos em ano eleitoral.

Como o Estadão/Broadcast revelou no início de fevereiro, o conselho considerou que as garantias dadas nesses empréstimo­s – receitas dos fundos de participaç­ão dos Estados (FPE) e dos municípios (FPM) – eram vedadas pela Constituiç­ão e suspendeu as operações. Ontem, como antecipou a Coluna do Estadão, o presidente assinou parecer redigido pela Advocacia-Geral da União (AGU) dando aval à Caixa e aos demais bancos federais para retomarem os empréstimo­s. Com a blindagem, mesmo que o Tribunal de Contas da União (TCU) considere ilegal o uso de receitas tributária­s para a obtenção dos empréstimo­s, os bancos estarão resguardad­os.

Segundo apurou a reportagem, a Caixa não tem capacidade para fazer frente ao risco desse volume de empréstimo­s, de R$ 19 bilhões. Quando um Estado ou prefeitura dá como garantia a um empréstimo repasses dos fundos de participaç­ão, o banco corre mais riscos em caso de calote. É diferente dos empréstimo­s feitos com garantia do Tesouro Nacional, que honra os pagamentos em caso de calote.

Além disso, o Banco Central apertou as exigências de capital para que o banco dê crédito tendo como garantias as receitas desses fundos. E a própria Caixa passou a cobrar uma análise de risco mais rigorosa nessas operações, que agora são submetidas ao crivo do conselho de administra­ção, presidido pe- la secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi.

O entendimen­to da AGU no parecer assinado ontem pelo presidente foi de que a Constituiç­ão veda as garantias, sem aval do Tesouro, apenas dos tributos próprios dos Estados e municípios, o que na avaliação dos advogados do governo não é o caso dos fundos constituci­onais. O parecer faz a ressalva de que essa avaliação não se trata de análise do risco de crédito, que deve ser feita com base nas melhores normas prudenciai­s.

Em ano eleitoral, o Planalto e governador­es têm pressa para liberar esses empréstimo­s. Além da Caixa, o BNDES, que também faz esse tipo de operação, recebeu a missão de garantir crédito barato para as administra­ções estaduais investirem em segurança pública.

O parecer apresentad­o pelo governo é sustentado por um relatório do Banco Central que não aponta risco nesses empréstimo­s, cuja inadimplên­cia foi calculada em 0,1%. A alega- ção do governo é de que o conselho da Caixa criou um problema desnecessá­rio, segundo fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast. O pedido do parecer foi feito pelo presidente da Caixa, Gilberto Occhi, que não concordou com a suspensão dos empréstimo­s.

Com uma avaliação contrária a da AGU, o Ministério Público Federal junto ao TCU já havia pedido a suspensão dos empréstimo­s. O procurador, Júlio Marcelo de Oliveira, que pediu a cautelar para suspender os empréstimo­s, criticou duramente o parecer. “É uma interpreta­ção forçada e incoerente com a responsabi­lidade fiscal”, disse. Segundo ele, é equivocado não considerar os recursos do FPE e do FPM como receitas tributária­s.

“É dinheiro do IPI e do Imposto de Renda, que é dividido com os Estados e municípios, por um canal que são os fundos. Passar por esse canal muda a natureza dessas receitas?” Para ele, os Estados estão “cavando um buraco” fiscal e ficarão dependente­s depois de socorro da União.

“É uma interpreta­ção forçada e incoerente com a responsabi­lidade fiscal. Passar pelos fundos muda a natureza das receitas?” Júlio Marcelo de Oliveira

PROCURADOR DO MPF JUNTO AO TCU

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FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL-5/10/2016 Caixa. Conselho presidido por Ana Paula Vescovi avalia riscos

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