O Estado de S. Paulo

Dupla certa

Dessa vez vai ser fácil decidir: no site há mais de 100 receitas do pescado símbolo da Páscoa; aqui, você escolhe o que vai na taça

- Guilherme Velloso

Escolha o vinho para acompanhar o bacalhau.

Páscoa e bacalhau sempre andam juntos. Em qualquer de suas inúmeras versões, inclusive as menos conhecidas, como as apresentad­as em recente edição do Paladar, ele está sempre presente à mesa, seja na sextafeira, seja no almoço dominical. A decisão só complica na hora de escolher o vinho. Afinal, bacalhau é melhor com brancos ou com tintos?

Tintos, como recomenda a tradição portuguesa, ou brancos, como sugere a experiênci­a de muitos enófilos, entre os quais me incluo?

A resposta certa – se é que existe uma – é que tudo depende da preparação do prato. Numa analogia simples, é como perguntar se espaguete fica melhor com vinho branco ou com tinto. Se o molho for “alle vongole”, certamente com brancos; se for um ragu de carne, com tinto.

Em tese, pratos de bacalhau em que a preparação é mais simples, ou que levam molhos leves (à base de natas, por exemplo), como uma brandade, pedem vinho branco. Se a preparação envolver muitos ingredient­es e/ou temperos fortes (alho, tomates, pimentões ou ainda carnes como presunto/chouriço), os tintos ganham pontos.

Essa mesma regra deverá orientar a escolha do estilo do vinho, especialme­nte no caso de brancos. Aqui, importa saber se ele deverá ou não ter estagiado em barricas de carvalho. Para uma simples posta de bacalhau cozida e acompanhad­a de batatas ou verduras, um branco sem madeira, como um vinho verde, será suficiente. Caso a preparação inclua manteiga, leite ou natas, como nas receitas tradiciona­is de bacalhau à lagareiro e à Zé do Pipo, melhor apostar num branco com estágio, não muito longo, em barricas. Nesse caso, um Chardonnay pode ser o caminho mais fácil, já que há muitas opções disponívei­s no mercado. Se preferir os portuguese­s, vinhos à base da uva Encruzado, que reina no Dão, são boa pedida.

Embora a maioria das preparaçõe­s de bacalhau, a meu ver, favoreça os brancos, nada impede que se escolha um tinto. Nesse caso, na contramão da cartilha portuguesa, é preferível optar por tintos leves, sem muita madeira, caso contrário o vinho provavelme­nte dominará o prato. Além disso, tintos costumam deixar um gosto metálico em pratos de peixes e frutos do mar. Hoje, sabe-se que o princi- pal responsáve­l por esse efeito deletério não são os taninos, como se pensava, mas a presença de óxido de ferro nos tintos. Alentejo, Dão e Douro oferecem inúmeras opções, mas um tinto chileno à base de Pinot Noir, uva conhecida pelos taninos sedosos, também pode ser incluído nessa lista.

A escolha não precisa se limitar a tintos ou brancos. O bolinho de bacalhau ficará ainda melhor se harmonizad­o com um espumante. A acidez e o frescor do espumante fazem um belo contrapont­o ao sal e à gordura da fritura. E mesmo os rosés funcionam bem com muitas preparaçõe­s de bacalhau.

Afinal, vale lembrar a velha definição atribuída aos portuguese­s, quase em tom de piada, talvez por um brasileiro trocista: “Bacalhau não é peixe nem é carne, é... bacalhau”.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
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FOTO: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO;PRODUÇÃO: RENATA MESQUITA

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