O Estado de S. Paulo

Juristas pedem que Supremo se limite à sua competênci­a

Advogados e acadêmicos lançam manifesto em São Paulo no qual criticam o que chamam de ‘atuação política’ da Corte

- Alessandra Monnerat

Advogados e acadêmicos paulistas lançaram ontem um manifesto que pede que o Supremo Tribunal Federal deixe de entrar em competênci­as dos Poderes Legislativ­o e Executivo. Os juristas criticam o que chamam de “atuação política” da Corte em casos como o do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo do abaixo-assinado é pedir a preservaçã­o do Estado democrátic­o de direito e da segurança jurídica.

Professor emérito da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, o advogado Ives Gandra da Silva Martins afirmou que o documento, assinado por 80 juristas, foi motivado pela situação de “desconfort­o” em que o Supremo se encontra em relação ao caso do ex-presidente. O manifesto foi lançado pela Academia Paulista de Letras Jurídicas.

“Qualquer decisão que o STF tomar no dia 4 de abril ( quando a Corte analisa o habeas corpus) será criticada”, disse Martins. “O Supremo foi colocado nesta situação por excesso de ativismo jurídico”.

O jurista também citou a crítica do manifesto ao “protagonis­mo excessivo” que os colegiados passaram a ter a partir dos governos petistas. Um dos exemplos deste novo perfil da Corte, segundo Martins, são as agressões verbais que ocorreram em sessões recentes. Na semana passada, o ministro Luís Roberto Barroso chamou o colega Gilmar Mendes de “mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia”.

“Havia sempre uma dignida- de própria das discussões jurídicas no STF. As agressões verbais têm levado as discussões do Supremo a ganharem conotações políticas próprias do Po- der Legislativ­o”, disse Martins.

Ele cita alguns episódios em que o STF incorreu em competênci­as do Poder Executivo, como a suspensão pela Corte do indulto de Natal do presidente Michel Temer, e do Poder Legislativ­o, como a liberação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

“Os ministros não podem substituir nem o Executivo nem o Legislativ­o, eleitos por 140 milhões de brasileiro­s. Eles são um poder técnico, não político”, disse. “Sei que o Barroso é um idealista, mas a função do Supremo é ser guardião da Constituiç­ão.”

Inseguranç­a. Para o presiden- te da Academia Paulista de Letras Jurídicas, Ruy Altenfelde­r, a maioria da população está “insegura com os destinos do País”.

“Os dispositiv­os básicos da Constituiç­ão Brasileira estão estremecid­os. O primeiro deles: todos estão iguais perante a lei. O outro: os Poderes são independen­tes e harmônicos entre si. O que temos hoje não é a independên­cia dos Poderes, mas o ativismo judicial”, afirmou.

Na avaliação de Altenfelde­r, o maior risco de uma situação de inseguranç­a jurídica é a anarquia. O presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas cita os ataques à caravana de Lula no interior do Paraná como sinal dos “nervos à flor da pele” no País atualmente.

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