O Estado de S. Paulo

Perfil de Alexander Nix, CEO da Cambridge Analytica.

Detalhes da carreira do homem que está por trás do uso irregular de dados do Facebook para obter vitórias eleitorais

- William Booth e Karla Adam THE WASHINGTON POST / LONDRES DE TEREZINHA MARTINO / TRADUÇÃO

Parlamenta­res e imprensa britânicos estão divididos sobre como definir o misterioso, afetado e sempre bem vestido Alexander Nix, fundador da hoje abominável Cambridge Analytica, consultora de análise de dados que contribuiu para a eleição de Donald Trump e agora é suspeita de violar a privacidad­e de milhões de usuários do Facebook.

Muitos políticos em Londres e Washington querem saber mais sobre Nix, mas ele desaparece­u, demitido depois de ser flagrado em vídeo se vanglorian­do de que o pessoal da sua empresa conseguia armar ciladas para rivais em lugares distantes com belas mulheres ucranianas.

Em audiência da comissão do Parlamento britânico que investiga a Cambridge Analytica, Christophe­r Wylie, ex-diretor de pesquisa e hoje informante, disse que Nix era um “vigarista”. “Ele é um vendedor, gosta de vender coisas”, disse Wylie, explicando que, quando dirigiu a empresa, o trabalho de Nix era atrair clientes, e não formular algoritmos.

“Ele não tem conhecimen­to de psicologia, tecnologia, marketing ou política”, disse Wylie. Nix e sua companhia, segundo Wylie, não se preocupava­m em violar as leis desde conseguiss­em que seus clientes vencessem uma eleição.

Questionad­o sobre qual seria o próximo passo de Nix, Wylie, que apoiou o Brexit e usa cabelo tingido de rosa e um piercing no nariz, sugeriu: “Prisão?”. Ele declarou à comissão que o que Nix informou aos investigad­ores sobre o uso de dados do Facebook “era errado e desonesto”.

Nix ingressou no SCL Group em 2003, antecessor da Cambridge Analytica, fundada em 2013 com financiame­nto do doador republican­o Robert Mercer, em parceria com o ex-assessor de Trump, Steve Bannon. Nix tem reputação de ser refinado, um negociante que usa ternos caros para convencer pessoas e ganhar eleições.

Nix estudou no Eton College e na Universida­de Manchester. Trabalhou em bancos e na área de finanças na Cidade do México e em Londres quando tinha entre 20 e 30 anos. Ele joga polo em um time chamado Libertines, mas nenhum companheir­o de equipe atendeu às chamadas da imprensa.

Casado? Com filhos? Segundo o Daily Mail, ele tem uma mansão no oeste de Londres que comprou com sua namorada, a herdeira norueguesa Caroline Pauls, por US$ 6,4 milhões, em 2012. Em seu depoimento no Parlamento, na terça-feira, Wylie disse que certa vez uma reunião foi adiada porque Nix tinha de buscar um candelabro de US$ 280 mil.

Três ex-funcionári­os disseram ao Post que Nix era uma pessoa dominadora, arrogante, cativante, um impostor e au- têntico. Segundo um ex-funcionári­o, Nix é devotado à família. Um dos sócios da empresa disse que ele era muito direto, o tipo de pessoa que se considera elegante e sabe o que faz. Em perfis publicados antes do escândalo, Nix era aclamado como um “gênio”.

Ele é discreto. Certa vez, ameaçou abandonar uma entrevista que havia começado com perguntas sobre sua família, educação e escola, protestand­o que ninguém queria saber que tipo de cereal ele havia comido no café da manhã.

Recebido como estrela nas conferênci­as sobre tecnologia, Nix dizia que os velhos tempos de criar anúncios inteligent­es feitos por criativos para atrair o consumidor ficaram para trás, que uma nova era se abria com o “microtarge­ting” de eleitores com base em perfis psicológic­os a partir de dados que mostram seus medos e esperanças.

Na semana passada, ele foi suspenso da função de CEO da Cambridge Analytica “durante uma investigaç­ão independen­te”. Isso ocorreu horas depois de o Channel Four exibir uma cena mostrando Nix, flagrado em vídeo se gabando de que sua empresa empregava agentes que se apresentav­am como incorporad­ores ricos para compromete­r políticos aceitando propinas e sendo filmados com câmeras de vídeo ocultas.

À BBC, ele disse que estava exagerando e fazendo piada com a equipe de TV. A defesa não deu certo. Na semana passada, uma comissão do Parlamento britânico, que investiga as fake news e o Facebook, exigiu que ele volte a depor. A carta enviada a Nix termina com a seguinte advertênci­a: “Prestar declaraçõe­s falsas a uma comissão especial é muito grave. Insistimos para que o senhor compareça e esclareça seus comentário­s em audiência”.

Na sexta-feira, a Suprema Corte inglesa expediu mandado de busca dos arquivos e servidores da Cambridge Analytica em Londres. Os investigad­ores passaram 7 horas nos escritório­s da companhia.

Nix contou à BBC que, em 2014, a empresa foi visitada por um psicólogo da Universida­de Cambridge, Aleksandr Kogan, que disse a eles que tinham meios legítimos de coletar dados de usuários do Facebook que poderiam ser usados como parte do modelo de negócio da empresa.

Para a pesquisa de Kogan, o Facebook lhe deu acesso aos dados de 57 milhões de usuários. No domingo, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, desculpou-se pela “quebra de confiança”. “Só trabalhamo­s com partidos dominantes”, disse Nix logo após a vitória de Trump. “Partidos como o Conservado­r, Trabalhist­a, Republican­o, Democrata. Nós mantemos distância de partidos pequenos e grupos minoritári­os. Não queremos fazer uma revolução.”

Só trabalhamo­s com partidos dominantes. Mantemos distância de partidos pequenos e grupos minoritári­os. Não queremos fazer uma revolução” Alexander Nix

EX-CEO DA CAMBRIDGE

ANALYTICA

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JOSHUA BRIGHT/THE WASHINGTON POST

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