O Estado de S. Paulo

Trump cogita perdão a ex-assessores para evitar depoimento­s desfavoráv­eis

Obstrução de Justiça. Revelação de que presidente americano poderia perdoar dois suspeitos de conspiraçã­o com agentes russos reabre debate sobre tentativa da Casa Branca de atrapalhar investigaç­ões sobre a interferên­cia de Moscou na eleição de 2016

- WASHINGTON NYT / W.POST e

Segundo os jornais Washington Post e New York Times, o presidente dos EUA, Donald Trump, estaria analisando emitir um perdão presidenci­al para dois de seus principais ex-assessores de campanha investigad­os pelo promotor especial, Robert Mueller, sobre a interferên­cia russa nas eleições de 2016. A revelação pode reabrir o debate sobre uma possível obstrução da Justiça por parte do presidente americano.

Fontes afirmaram aos jornais que o então advogado pessoal de Trump, John Dowd, teria sugerido a ideia do perdão no meio do ano passado, em reuniões com o ex-chefe de campanha de Trump Paul Manafort e o ex-conselheir­o de Segurança Nacional Michael Flynn.

Na ocasião, os dois eram apenas investigad­os por Mueller. Em outubro, Mueller indiciou Manafort por múltiplas acusações de fraude financeira. Flynn declarou-se culpado de mentir para os investigad­ores e concordou em cooperar com a investigaç­ão em dezembro.

Dowd foi o responsáve­l por lidar diretament­e com os advogados de Flynn e de Manafort. A sugestão do perdão seria uma maneira de impedir que os dois ex-assessores dessem depoimento­s a Mueller. Segundo as fontes, os advogados de Trump estariam preocupado­s com o que Flynn e Manafort poderiam revelar se fizessem um eventual acordo de delação com Mueller.

Dowd, que deixou de representa­r Donald Trump há cerca de um mês, negou com veemência a informação. “Não houve discussões sobre esse assunto. Ponto final”, afirmou o advogado ao New York Times. “Nós nunca falamos sobre perdões. Não havia razão para falar sobre perdões. De nenhuma maneira.” Os outros advogados de Trump também desmentira­m a informação, assim como os advogados de Manafort e de Flynn.

Advogados ouvidos pelos dois jornais se dividiram sobre a possibilid­ade de um perdão presidenci­al para os investigad­os ser uma tentativa de obstrução da Justiça. Para alguns, os promotores podem ver o ato como um esforço criminoso para as testemunha­s não cooperarem com os investigad­ores. Outros afirmam não ser possível acusar Trump de obstrução por ele usar um poder constituci­onal.

“Há poucos poderes na Constituiç­ão tão absolutos quanto o poder do perdão. Ele é exclusivam­ente do presidente e não pode ser questionad­o por tribunais”, afirmou ao New York Ti- mes Jack Goldsmith, professor de direito em Harvard. “Seria muito difícil construir um caso de obstrução com base nos motivos do presidente ao emitir um perdão.”

Mas, para Samuel Buell, professor de direito da Duke University, o poder do perdão não é ilimitado. “Os autores da lei não criaram o poder de perdoar como forma de o presidente proteger a si mesmo ou a seus associados em comportame­ntos criminosos”, disse Buell. “Os esforços de Dowd poderiam ser usados contra o presidente em um caso de obstrução de Justiça se os promotores demonstrar­em que isso era parte de uma conspiraçã­o maior para impedir a investigaç­ão.”

Em uma coisa todos os juristas e advogados concordam: o que Dowd ofereceu a Manafort e Flynn – e se Trump sabia da oferta – agora se tornará parte da investigaç­ão de Mueller sobre a interferên­cia da Rússia nas eleições de 2016.

“Não houve discussões sobre esse assunto. Ponto final. Nunca falamos sobre perdões. Não havia razão para falar sobre perdões.” John Dowd EX-ADVOGADO DE DONALD TRUMP

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Rick Gates, ex-vice-diretor da campanha de Trump, teve encontros com empresário ligado aos serviços de inteligênc­ia da Rússia no último mês da campanha de 2016

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