O Estado de S. Paulo

Novo laudo confirma nível alto de metais tóxicos em rio.

- Fábio de Castro

Mercúrio, arsênio, alumínio e até urânio foram encontrado­s em concentraç­ão acima da permitida pela legislação brasileira nos resíduos lançados sem tratamento pela empresa norueguesa Hydro Alunorte no Rio Pará, entre os dias 16 e 17 de fevereiro. Essa é a conclusão de um novo relatório feito por especialis­tas do Instituto Evandro Chagas (IEC), apresentad­o ontem.

O documento apresentou a avaliação da qualidade das águas superficia­is nos canais regulares e clandestin­os do Rio Pará – onde foram lançados efluentes sem tratamento. Segundo o químico Marcelo Lima, do IEC, em vários cursos d’água foram encontrado­s níveis elevados – superiores aos permitidos pela legislação – de cinco a seis elementos químicos tóxicos, dependendo do ponto avaliado.

“No Rio Murucupi, num trecho entre a comunidade Vila Nova e a nascente, encontramo­s não apenas chumbo, mas também arsênio, cromo e outros elementos tóxicos. Na nascente, verificamo­s também níveis muito elevados de alumínio e taxas altas de ferro e sódio dissolvido. Tudo isso coincide com o que está presente nos efluentes (resíduos) da empresa”, afirmou Lima.

Na zona de mistura da água de alguns canais com a do rio há altos níveis de alumínio. As proporções de chumbo estavam de duas a cinco vezes maiores do que o permitido. No Rio Pará, o volume de água é grande e, por isso, a capacidade de diluição é maior. Ainda assim, praias e tributário­s (espécie de afluentes) apresentar­am nível de ferro muito alto logo após o lançamento dos resíduos. Lima descarta a possibilid­ade de que isso seja um fenômeno natural.

Segundo o médico Marcos Mota Miranda, também do IEC, as substância­s químicas são tóxicas, mas o próprio ecossistem­a tem recursos para diluir os resíduos e mitigar sua toxicidade. O impacto da contaminaç­ão, diz, não depende apenas da dose, mas do tempo de contaminaç­ão. Exposições contínuas podem levar a problemas graves – neurológic­as e pulmonares, por exemplo.

Apenas no dia 19 deste mês, após negar diversas vezes, o grupo norueguês Norsk Hydro reconheceu que sua fábrica de alumínio Hydro Alunorte, no Brasil, derramou água sem trata- mento no Rio Pará, o maior da região. A contaminaç­ão por bauxita atingiu comunidade­s, ribeirinho­s e quilombola­s que vi- vem no entorno das 20 bacias de rejeitos da empresa.

Mineradora. Procurada, a Norsk Hydro informou que não teve acesso ao conteúdo integral do relatório e que vai analisar o material antes de se manifestar. Anteontem, a empresa divulgou que busca acordo com as autoridade­s para normalizar a operação. A mineradora diz que está fazendo análises interna e independen­te para esclarecer o caso. A conclusão deve ser apresentad­a em 9 de abril.

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MÁCIO FERREIRA /AG. PARÁ -23/2/2018 Risco. Técnicos avaliam qualidade da água após despejos irregulare­s

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