O Estado de S. Paulo

União tem 93% de gastos obrigatóri­os

Segundo cálculo do Tesouro Nacional, o nível de engessamen­to do Orçamento bateu recorde no ano passado, atingindo 18,3% do PIB

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O nível de engessamen­to do Orçamento bateu recorde e chegou a 93,7% do total de despesas em 2017, o equivalent­e a 18,3% do Produto Interno Bruto (PIB). É o que revela estudo do Tesouro Nacional divulgado ontem em relatório fiscal. Esse é o tamanho dos gastos que são de realização obrigatóri­a. Em 2001, a chamada “rigidez orçamentár­ia” correspond­ia a 85,6% das despesas orçamentár­ias. Entre os gastos obrigatóri­os estão a folha de pagamento do funcionali­smo e benefícios previdenci­ários.

A pequena margem orçamentár­ia que sobra para abrigar as despesas que não são rígidas (chamadas tecnicamen­te de discricion­árias) fica ainda mais restrita se forem levados em conta os restos a pagar inscritos e não cancelados, que são despesas não pagas e transferid­as de um ano para o outro. Por esse critério, 97,6% do Orçamento estaria engessado.

A busca de medidas para diminuir o engessamen­to orçamentár­io cresceu depois que o Congresso aprovou o teto de gasto em 2016 – o limitador do cresci- mento das despesas com base na inflação que comprime ainda mais o espaço para investimen­tos. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a ensaiar a elaboração de um pacotão de medidas para diminuir o excesso de rigidez e vinculaçõe­s do Orçamento, mas, devido às negociaçõe­s políticas para a campanha eleitoral, deixou de lado as discussões com a equipe econômica.

O economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e presidente do Insper, afirma que, nesse ritmo, os gastos obrigatóri­os vão sufocar as outras despesas da União. “O País está de mãos atadas. Para pagar s gastos obrigatóri­os, teremos de cortar investimen­tos, programas sociais e políticas públicas importante­s, como Ciência e Tecnologia”, afirma.

Ele lembra que o engessamen­to veio com a Constituiç­ão e as várias emendas editadas depois. Durante a vigência da intervençã­o militar no Rio, o governo não pode apresentar uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) e reduzir esses gastos.

Para calcular o grau de engessamen­to do Orçamento, o Tesouro fez uma escala gradual de rigidez que vai de 1 (menor) a 5 (maior). No nível 5, estão benefícios previdenci­ários e assistenci­ais, gastos de pessoal, abono e seguro desemprego e emendas parlamenta­res obrigatóri­as. São despesas previstas no Orçamento e com regras claras de acesso e vigência dos benefícios.

No nível 4, foram incluídas despesas de custeio de saúde e educação, que respeitam gastos mínimos, e complement­ação do Fundeb e repasses obrigatóri­os ao Distrito Federal. Gastos com o Bolsa Família e direitos dados a setores vulnerávei­s por meio de lei ordinária estão no nível 3. No nível 1 de rigidez, entram as demais despesas que não podem ser submetidas ao contingenc­iamento e estão pre- vistas na Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO).

O estudo do Tesouro mostra aumento das despesas com nível 1, 2 e 3, que chegaram a alcançar 14,7% de participaç­ão no total de gastos rígidos em 2015. Em 2001, esse patamar inicial era de 4%. Chama atenção o fato de que, a partir de 2015, início da crise econômica mais recen- te, as receitas recorrente­s do governo passaram a não ser suficiente­s para bancar as despesas rígidas. Essa realidade agravou os desequilíb­rios das contas públicas porque revela o grau de dependênci­a das receitas extraordin­árias para financiar a expansão das despesas, principalm­ente as obrigatóri­as.

O Tesouro alerta que o nível de rigidez das despesas públicas está em patamares demasiadam­ente elevados para um adequado “manejo” da política fiscal, o que tem tornado mais difícil implementa­r o corte do Orçamento para o cumpriment­o da meta fiscal de 1% do PIB (porcentual que permite estabiliza­r num cenário mais otimista o endividame­nto público). Para atingir essa meta, a estimativa é de que o indicador de rigidez deveria ficar entre 80% e 85%.

“Para pagar gastos obrigatóri­os, teremos que cortar investimen­tos, programas sociais e políticas públicas importante­s.”

Marcos Lisboa

PRESIDENTE DO INSPER

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