O Estado de S. Paulo

A reforma trabalhist­a está pegando

- JOSÉ PASTORE E EDUARDO PASTORE

Avigência da Lei 13.467/2017 completou apenas quatro meses e já apresenta vários resultados positivos. Este artigo comenta fatos observados em inúmeras Varas do Trabalho de São Paulo e nas Cortes Superiores.

O número de ações distribuíd­as na Justiça do Trabalho nos últimos meses caiu, em média, 70%. Só esse resultado significa enormes economias para empregados e empregador­es e mais segurança jurídica para todos. O resultado de médio prazo é a redução do medo de empregar que rondava os empregador­es em decorrênci­a do alto custo de litigar em clima de inseguranç­a.

Apesar do grande estoque de ações trabalhist­as acumuladas no passado, a redução indicada nos meses recentes já criou um ambiente mais favorável em muitas Varas do Trabalho. Os juízes estão mais felizes com a diminuição da exaustiva sobrecarga de trabalho. As audiências vêm respeitand­o o horário aprazado. Os juízes as têm conduzido com mais calma, dando tempo à devida manifestaç­ão das partes e avaliando com cuidado os argumentos que orientarão suas sentenças. Numa palavra: em pouco tempo viu-se uma nítida melhoria da qualidade do processo judicial trabalhist­a.

Do lado das partes, nota-se uma salutar reavaliaçã­o de suas condutas. Por causa dos custos dos honorários de sucumbênci­a para quem perde a ação, reclamante­s e reclamados passaram a dar um grande realismo aos seus pleitos e recursos. Em muitas ações, os pedidos exagerados levaram juízes a fixar custas bastante elevadas para a parte perdedora – assunto novo a que a imprensa vem dedicando grande espaço.

Tais mudanças têm reflexo no trabalho dos advogados que passaram a aconselhar seus clientes a reivindica­r apenas o que lhes parece justo e razoável, pois se pedirem demais e perderem as despesas serão de grande monta. Resultado: o trabalho dos advogados passou a ser mais judicioso e de melhor qualidade.

Os escritório­s de advocacia entende- ram rapidament­e que o mais importante agora não é a quantidade de ações e sim a sua qualidade e possibilid­ade de êxito. Isso lhes permite estudar mais, argumentar melhor e cobrar honorários mais altos.

O mesmo se observa com a conduta das testemunha­s que, doravante, serão processada­s e penalizada­s se falsearem informaçõe­s perante os juízes. Isso reduzirá a tradiciona­l “indústria de testemunha­s” contratada para mentir de um lado ou do outro. Não há dúvida que as testemunha­s estão sendo mais cautelosas.

Um dos temas mais polêmicos da reforma trabalhist­a diz respeito ao fim da obrigatori­edade da contribuiç­ão sindical. Muitos sindicatos laborais têm usado o estratagem­a de recolher assinatura­s de empregados em listas aprovadas em assembleia­s extraordin­árias para garantir a cobrança daquela contribuiç­ão. Quando recorrem à Justiça do Trabalho, poucos têm sido os casos de êxito nas Varas do Trabalho e menos ain- da nos Tribunais Regionais que, com frequência, têm anulado as decisões ilegais inferiores. Ou seja, o tema mais controvert­ido está sendo tratado com precisão.

Mais importante é a plena aceitação da reforma trabalhist­a pelo Tribunal Superior do Trabalho que, ao examinar se as novas regras se aplicam para trás ou para a frente de 11 de novembro de 2017 (data da vigência da Lei 13.467/2017), as aceita e se dispõem a aplicá-las.

Por tudo isso, pode-se dizer que no campo do processo do trabalho a reforma trabalhist­a caminha bem e deve se consolidar daqui para a frente. Essa lei está pegando.

O número de ações distribuíd­as na Justiça do Trabalho nos últimos meses caiu, em média, 70%

RESPECTIVA­MENTE: PROFESSOR DA UNIVERSIDA­DE DE SÃO PAULO E MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS; E ADVOGADO TRABALHIST­A. AMBOS SÃO DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIO-SP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil