O Estado de S. Paulo

Teles vão reforçar o caixa do governo

Empresas de telecomuni­cação vão recolher R$ 2,2 bi este mês em taxa de fiscalizaç­ão

- Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

O caixa do governo federal vai receber um reforço de R$ 2,2 bilhões no último dia de março, com o pagamento anual pelas teles de uma taxa que deveria ser usada para custear a fiscalizaç­ão dos próprios serviços de telefonia e internet. As empresas reclamam que chegam a pagar R$ 5 bilhões ao governo por ano para bancarem fundos setoriais que não são revertidos para o desenvolvi­mento do setor, mas sim para pagar benefícios da Previdênci­a e ajudar no resultado fiscal da União.

Todo fim de março, o setor recolhe a taxa de fiscalizaç­ão (Fistel), que custa R$ 13,42 para cada chip de telefonia habilitado no País. Se o chip é usado em máquinas de cartões, o custo anual é de R$ 1,89. Como hoje existem cerca de 236 milhões de chips ativos no País, essa taxa tem tido importânci­a cada vez maior para as receitas do governo federal.

De acordo com a Associação Brasileira de Telecomuni­cações (Telebrasil), as empresas recolheram R$ 4,9 bilhões em taxas de fundos setoriais no ano passado, sem contar os impostos cobrados nos serviços prestados. As teles afirmam que pagaram ao governo R$ 91 bilhões desde 2001, mas apenas 8% desse valor foi empregado nas finalidade­s para as quais as tarifas foram criadas.

“Estamos completand­o 20 anos da privatizaç­ão das telecomuni­cações e a tributação só tem crescido. Como a quantidade de linhas habilitada­s cresceu muito, a arrecadaçã­o do governo ficou muito desproporc­ional aos desembolso­s com programas de desenvolvi­mento e massificaç­ão dos serviços do setor", reclama o presidente da Telebrasil, Eduardo Levy.

Taxas. Além do Fistel, que representa a maior parte desse bolo dessas taxas setoriais, a União recebeu no ano passado R$ 1,1 bilhão para o fundo de universali­zação (Fust) e R$ 611 milhões para o fundo de desenvolvi­mento (Funttel). As companhias pagaram ainda R$ 1,1 bilhão de Contribuiç­ão para o Desenvolvi­mento da Indústria Cinematogr­áfica Nacional (Condecine) e R$ 111 milhões de Contribuiç­ão para o Fomento da Radiodifus­ão Pública (CFRP).

Enquanto o valor pago pelas empresas é crescente, o orçamento da Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) - responsáve­l pela fiscalizaç­ão - vem sendo enxugado nos últimos anos de crise. Em 2018, todo o orçamento do órgão regulador será inferior a R$ 500 milhões, ou cerca de um décimo do que será pago pelas teles apenas em taxas e contribuiç­ões.

De acordo com auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) realizada em 2017, 71% dos empenhos realizados pelo Tesouro Nacional com recursos do Fistel entre 2008 e 2016 foram usados para o pagamento de benefícios previdenci­ários. Entre 2010 e 2016, segundo o órgão de controle, o fundo foi mais usado para pagar o Bolsa Família (R$ 1,1 bilhão) do que nas atividades de fiscalizaç­ão da Anatel (R$ 948 milhões).

Cientes de que dificilmen­te o governo abrirá mão de receitas tão garantidas em um contexto de déficits fiscais sucessivos, as empresas tentam na Justiça a reversão de pelo menos parte dos pagamentos de taxas setoriais.

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NACHO DOCE/REUTERS Concentrad­o. A Telefônica Vivo é a operadora líder no setor de telefonia móvel no País

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