Facebook fará reformulação na área de privacidade.
Rede social pode perder até 40 milhões de usuários em um ano com crise de confiança
O Facebook anunciou ontem uma grande “reforma” em seus controles de privacidade para acalmar os ânimos de usuários e investidores em meio à crise de confiança iniciada pelas revelações do uso ilícito de dados pela Cambridge Analytica. A equipe da rede social, que tem corrido contra o tempo para evitar a fuga de usuários, passou a última semana redesenhando a área de configurações para tornar mais fácil que as pessoas restrinjam o acesso à informações compartilhadas no site. As mudanças serão divulgadas em todo o mundo nas próximas semanas.
“As mudanças são parte do nosso esforço em andamento para melhorar a forma como as pessoas gerenciam suas informações”, afirmou o diretor global de privacidade do Facebook, Rob Sherman, em entrevista exclusiva ao Estado. “Vamos continuar investindo em privacidade em 2018.”
A preocupação é grande, porque as revelações sobre o uso ilícito de dados de 50 milhões de usuários do Facebook pela Cambridge Analytica jogou o Facebook em uma crise de confiança. Pesquisas de opinião já apontam que usuários estão abandonando os serviços do grupo. Análises obtidas pelo Estadão/Broadcast mostram que, no pior cenário, o Facebook poderá perder até 40 milhões de usuários em 2018, um golpe que deve ter impacto direto sobre seus resultados financeiros.
A crise de confiança também transparece em pesquisas de opinião. Segundo levantamento feito pelo Instituto Ipsos, em parceria com a agência de notícias Reuters, menos da metade dos americanos confia que o Facebook obedecerá às leis de privacidade dos Estados Unidos. Já um levantamento publicado pelo jornal alemão Bild revela que 60% dos alemães temem que o Facebook e outras redes sociais tenham impacto negativo na democracia.
O cenário negativo deve ter efeito já no balanço da empresa referente ao primeiro trimestre, de acordo com o economista Ziyaad Manie, do Rand Merchant Bank. Manie estima que a companhia pode perder 20 milhões de usuários nos EUA e no Canadá neste ano. Na Europa, a perda também é estimada em outros 20 milhões de usuários, no pior cenário. “Fora das economias de mercado desenvolvi- das, eu ficaria muito surpreso em ver os usuários deixando os serviços do Facebook tão agressivamente”, diz Manie. “Há muito menos cobertura do escândalo nos países em desenvolvimento.”
Anúncios. Ao perder usuários, a empresa de Zuckerberg pode enfrentar outro problema: a fuga de anunciantes. Por ora, no entanto, a avaliação de analistas da Shareholders Unite é de que o impacto do escândalo se- rá pequeno. “O Facebook é uma ótima ferramenta de persuasão e funciona em grande escala, se você está tentando influenciar as pessoas se está vendendo um produto”, afirmam.
Apesar disso, a imagem arranhada da rede social pode pesar na decisão de algumas grandes companhias. Na semana passada, o banco alemão Commerzbank suspendeu as campanhas publicitárias no Facebook. Decisão semelhante foi tomada pela Fundação Mozilla, que decidiu suspender a publicidade no Facebook até que a companhia de Zuckerberg melhorasse as configurações de privacidade.