O Estado de S. Paulo

Esgotados os truques, o déficit de inventivid­ade

- Luiz Zanin Oricchio

Não Gostei

Filhote da estética videogame, Jogador N.º 1 revela-se também um acirrado exercício de nostalgia. Projetado para o futuro, o filme faz o culto ao passado numa hiperutili­zação da cultura pop dos anos 1980 sobretudo, mas não apenas. São citados filmes como Star Wars, Monty Python, Mad Max, Senhor dos Anéis, Blade

Runner, etc. O mesmo vale para a música. Cria um tipo de fruição que poderíamos chamar “de reconhecim­ento”. A plateia nerd goza ao notar as citações e perceber que pertencem ao seu repertório. É algo palpável e não deve ser despre- zado. O processo é similar ao de quando, por exemplo, do interior de uma complexa invenção jazzística, ressurge a melodia que faz parte da nossa memória. Livramo-nos de todas aquelas notas incômodas e nos refugiamos no regaço do conhecido. Uma felicidade sem novidades, cinema que oculta as complexida­des do real. Esse glacê pós-moderno é tão espesso que pode camuflar a pobreza do bolo. Faça o teste. Coloque entre parênteses o prazer solitário das citações e tente ver o filme como algo novo. Fica decepciona­nte. Sob as piruetas de citações após citações, a história parece no fundo bem rala. Esgotados os truques iniciais, o déficit de inventivid­ade mostra-se bastante óbvio.

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