Amigos de Temer são presos e Planalto vê risco de 3ª denúncia
PF investiga favorecimento de empresas do setor portuário; governo teme ação da PGR contra presidente
É o reconhecimento de que se buscava investigar um assassinato onde não existe cadáver” CARLOS MARUN MINISTRO DA SECRETARIA DE GOVERNO
Em operação que investiga favorecimento a empresas do setor portuário, a Polícia Federal prendeu ontem dois amigos próximos do presidente Michel Temer, o empresário e advogado José Yunes e o coronel da reserva João Baptista de Lima Filho. Também foram presos temporariamente o presidente da empresa Rodrimar, Antonio Celso Grecco, e o ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo Wagner Rossi. De acordo com a investigação, a Rodrimar é uma das empresas suspeitas de terem sido beneficiadas por decreto do governo de maio de 2017. Os pedidos de prisão partiram da Procuradoria-Geral da República e foram autorizados pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso. No Palácio do Planalto, a operação foi vista como indicativo de que a procuradora-geral, Raquel Dodge, poderá apresentar nova denúncia contra o presidente. Se isso ocorrer, a avaliação é que as pretensões eleitorais de Temer seriam minadas. Ele teria novamente de se dedicar a barrar o avanço da investigação na Câmara. As duas denúncias anteriores foram arquivadas.
Aprisão de três amigos do presidente Michel Temer e a possibilidade de a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciá-lo no inquérito dos portos podem provocar uma debandada de aliados da base do governo e dificultar, até mesmo, a reforma ministerial. Quem pensava em sacrificar a eleição para assumir cargos na Esplanada passou o dia de ontem reavaliando a estratégia. Com a base enfraquecida e a quatro meses da campanha, ninguém aposta que Temer vai conseguir evitar que o Congresso autorize o STF a abrir processo contra ele.
Porteira fechada. Ministros do núcleo duro do governo passaram a tarde de ontem reunidos revendo o xadrez ministerial. Avaliam dar maior poder aos partidos para garantir o apoio deles ao presidente Temer.
Sem compaixão. O Planalto está apreensivo por não saber como os deputados vão voltar do feriado de Páscoa. Temem que, sensibilizados pelos eleitores, retornem dispostos a jogar o presidente na fogueira.
Tenso. No voo para Vitória, ontem, Michel Temer disse que achava injusto prenderem pessoas próximas a ele para atingi-lo.
Nas alturas. Temer viajou para o Espírito Santo depois de a PF deflagrar a operação. Estava inquieto e disparou vários telefonemas. Ficou indignado, sobretudo, com a prisão de José Yunes, que “fala até quando não é perguntado”.
Fim da trégua. Delegados entenderam como ciumeira o MP ter divulgado nota apenas para informar que os pedidos de prisão na Operação Skala partiram da procuradora Raquel Dodge.
Passou na frente. A PF tem protagonizado a investigação e conseguiu autorização para quebrar o sigilo de Temer. Já a PGR demorou a se manifestar, levantando dúvidas sobre a prioridade que daria ao inquérito.
A caráter. Henrique Meirelles chamou atenção ao embarcar para Xique-Xique, no sertão baiano, com Temer e deputados, de suspensório e colete de lã. Todos perceberam, mas ninguém comentou.
Reação. Na tentativa de encontrar um culpado, sobrou para o ministro da articulação política do governo, Carlos Marun. Ele foi acusado por ministros e deputados da base aliada de ter provocado as prisões de três amigos de Temer.
Explicação. Na teoria dos governistas, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, determinou as prisões em resposta às ameaças de Marun de pedir seu impeachment. O mínimo que se ouviu sobre Marun no Palácio do Planalto ontem é que agiu como um “destrambelhado”.
CLICK. Deputados dizem que tentam se livrar, sem sucesso, das insistentes mensagens do ministro Moreira Franco sobre ações da Fundação Ulysses Guimarães.
Te peguei. O Ministério Público Eleitoral pediu que fosse retirado um outdoor instalado em Baixo Guandu (ES) que estampava a foto do deputado Jair Bolsonaro (PSL). Para o órgão, o presidenciável “vem ostensivamente estimulando” as pessoas a usarem esse tipo de propaganda.
Me engana... “Imaginar que peças publicitárias na monumentalidade de um outdoor às margens de uma rodovia não contenham pedido de voto é subestimar a inteligência dos publicitários, dos candidatos e dos eleitores”, diz o MPE.