O Estado de S. Paulo

Rússia expulsa 60 diplomatas americanos

Moscou afirmou que vai aplicar a mesma medida para outros países do Ocidente

- MOSCOU

A Rússia vai expulsar 60 diplomatas americanos e fechar o consulado dos Estados Unidos em São Petersburg­o como retaliação às expulsões de parte de seu corpo diplomátic­o anunciadas por Washington. A medida deve ser aplicada a outros países ocidentais.

A Rússia vai expulsar 60 diplomatas americanos de seu território e fechar o Consulado dos Estados Unidos em São Petersburg­o como retaliação às expulsões de parte de seu corpo diplomátic­o anunciadas por Washington na segunda-feira. Diplomatas de outros países ocidentais também devem ser expulsos, segundo o Kremlin.

O anúncio feito ontem pelo ministro de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, é mais um passo na escalada da tensão entre seu país e o Ocidente desde que o ex-espião Serguei Skripal foi encontrado envenenado no dia 4 em Londres. O Reino Unido acusa Moscou pelo crime, mas o governo de Vladimir Putin nega qualquer envolvimen­to no caso.

Ainda ontem, os EUA reagiram ao anúncio e disseram que mais retaliaçõe­s podem ocorrer. “Temos o direito de responder. A Rússia não deveria agir como se fosse uma vítima”, afirmou a porta-voz do Departamen­to de Estado, Heather Nauert. Segundo Lavrov, 58 diplomatas da embaixada em Moscou e 2 do consulado em Yekaterinb­urgo têm uma semana para deixar a Rússia.

Na segunda-feira, os EUA haviam anunciado a expulsão de 60 diplomatas russos – mais que os 55 expulsos em 1986, durante a Guerra Fria, na que havia sido a mais ampla medida do tipo já adotada por Washington contra Moscou – eo fechamento do consulado em Seattle.

O Kremlin afirmou que expulsará também um número ainda não informado de diplomatas de mais de 20 países, a maioria da Europa, e da Otan (Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte), que se juntaram ao Reino Unido na ofensiva contra Moscou. Lavrov explicou que a retaliação será proporcion­al, sugerindo que mais de 150 diplomatas podem entrar na lista da Rússia.

Escalada. A crise em torno do envenename­nto de Skripal e da filha dele, Yulia, aumentou as tensões entre o Kremlin e o Ocidente, que chegou ao ponto mais alto em décadas e vem causando o temor de retaliaçõe­s ainda mais graves, de forma oficial ou clandestin­a.

Londres afirma que o envenename­nto foi causado por um agente nervoso soviético deixado na porta da casa da família na Inglaterra. De acordo com o Kremlin, os serviços secretos britânicos fazem as acusações para alimentar a histeria antiRússia.

Skripal é um ex-coronel do serviço de inteligênc­ia militar russo e delatou agentes da Rússia ao Reino Unido. Anos depois, ele foi beneficiad­o por um acordo de troca de espiões.

As relações da Rússia com o Ocidente já vinham se deterioran­do desde a anexação da Crimeia pelos russos, em razão da ação de Moscou na guerra civil da Síria e das acusações de interferên­cia russa nas eleições presidenci­ais americanas, em 2016.

Ontem, nas Nações Unidas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, demonstrou preocupaçã­o com a situação e disse que o cenário atual lembra a atmosfera que existia na época da Guerra Fria. Guterres exigiu a retomada do diálogo entre Washington e Moscou.

“Durante a Guerra Fria, existiam mecanismos de comunicaçã­o e controle para evitar a escalada de incidentes, para garantir que as coisas não saíssem do controle quando houvesse aumento de tensão. Esses mecanismos foram desmantela­dos, pois as pessoas achavam que a Guerra Fria estava acabada”, afirmou Guterres.

O analista político Alexander Gabuev, do Carnegie Moscow Center, afirmou ao Washington Post que fechar o consulado americano em São Petersburg­o é uma medida “assimétric­a” que aumenta a tensão. “Medida recíproca seria fechar o consulado em Vladivosto­k”, disse.

Outro analista ouvido pelo jornal afirmou que Moscou teve uma reação proporcion­al. “Eu esperava até o fechamento de dois consulados”, disse Vladimir Frolov.

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MLADEN ANTONOV/AFP Expulsões. Embaixada dos EUA em Moscou: envenename­nto de ex-espião causou crise entre Rússia e países ocidentais

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