O Estado de S. Paulo

Mais impulso ao cresciment­o

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Com atividade muito moderada e preços muito contidos, nada mais adequado que o afrouxamen­to das condições de crédito.

NOTAS & INFORMAÇÕE­S

Um bom empurrão na economia deverá fazer a inflação, hoje bem abaixo das previsões, convergir mais velozmente para a meta neste ano, segundo os planos do Banco Central (BC). A estratégia, explicada em linguagem mais cerimonios­a em documentos anteriores, ficou ainda mais clara com os números divulgados no Relatório de Inflação publicado ontem. O documento, divulgado a cada trimestre, repete a projeção de cresciment­o econômico de 2,60% em 2018, já apresentad­a em dezembro. Nesse ambiente de calmaria, com atividade muito moderada e preços muito contidos, nada mais adequado que o afrouxamen­to das condições de crédito. Por isso o Copom acaba de reduzir de 6,75% para 6,50% a taxa básica de juros e ainda anunciou mais um possível corte, até então fora do programa, na reunião de maio.

No mercado, as estimativa­s de cresciment­o econômico em 2018 permanecem acima de 2,80%, como estavam há um mês. O Ministério da Fazenda sustenta a previsão de 3%. Mas os técnicos do BC insistem nos 2,6% já indicados no relatório de dezembro. Além disso, eles apontam inflação de 0,20% em março, 0,33% em abril e 0,26% em maio.

Se estes números forem confirmado­s, a taxa acumulada em 12 meses ficará em 2,94% no fim desse período, pouco acima da registrada no período até fevereiro (2,84%). Até aí a inflação continuará, portanto, abaixo do limite inferior de tolerância, fixado em 3%, e muito abaixo da meta de 4,5% ainda válida para 2018.

Os autores do relatório usaram a palavra “surpresa” para descrever a desinflaçã­o nos primeiros meses do ano. Entre dezembro e fevereiro, os preços deveriam ter subido 1,30%, de acordo com o relatório anterior. Subiram de fato 1,05% e a surpresa ficou em 0,25 ponto porcentual. Para o primeiro bimestre de 2018 projetou-se uma alta de 1%, mas a variação observada foi de 0,61%, com uma diferença de 0,39 ponto.

A inflação inesperada­mente benigna foi citada na ata da última reunião do Copom. No recém-divulgado Relatório de Inflação, a evolução inesperada foi tema de uma pequena tabela numérica, intitulada Surpresa inflacioná­ria. Nos próximos dois anos, segundo comentou o presidente do BC, Ilan Goldfajn, a convergênc­ia da inflação para a meta deverá ocorrer mais facilmente. Em 2019, o centro do alvo será 4,25%. Em 2020, 4,00%. O objetivo para 2021 deverá ser definido em junho.

Por enquanto, só se contempla, segundo o Copom, a possibilid­ade de mais um corte dos juros básicos, na reunião de maio. A partir daí o ciclo deverá ser interrompi­do, para uma reavaliaçã­o do panorama e das perspectiv­as da inflação. A aproximaçã­o do período eleitoral, é razoável supor, trará elementos para novas projeções e para a formulação, se for o caso, de uma nova estratégia para a política monetária.

Ao formular suas projeções, disse Goldfajn na apresentaç­ão do Relatório, o Copom continua levando em conta os efeitos de ajustes e reformas. Esses efeitos, segundo ele, são captados por meio dos preços de ativos, do grau de incerteza, das expectativ­as e da evolução da taxa de juros estrutural da economia. Mas, se essa descrição for exata, o Copom estará captando simplesmen­te a aceitação, pelos agentes do mercado, do abandono da pauta de reformas em 2018.

Os ajustes e as reformas, no entanto, são essencialm­ente relevantes por outra razão, isto é, porque afetarão realmente as contas públicas e as condições de operação da economia. O Copom terá posto de lado essas consideraç­ões?

De toda forma, há razões muito fortes, por enquanto, para afrouxar a política e estimular o cresciment­o. Isso explica também a decisão de liberar depósitos compulsóri­os de R$ 25,7 bilhões mantidos no BC pelas instituiçõ­es financeira­s. Com mais dinheiro disponível para empréstimo­s, os bancos terão mais estímulos para reduzir o custo dos financiame­ntos. Esta é, pelo menos, a expectativ­a indicada por dirigentes do BC. Pela experiênci­a, é prudente esperar para ver se essa possibilid­ade se confirma. De toda forma, a novidade é mais um lance da autoridade monetária para facilitar a recuperaçã­o da economia.

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