O Estado de S. Paulo

Os homens do presidente

Auxiliares do presidente classifica­m operação como ‘complô’ contra emedebista e avaliam que ação da PF é indicativo de nova acusação formal

- Carla Araújo Renan Truffi / BRASÍLIA Márcio Dolzan ENVIADO ESPECIAL / VITÓRIA

Temer se lança candidato à sucessão, mas deve se dar por satisfeito se chegar inteiro até a eleição. Serão longos oito meses.

Certo “O que aconteceu não deixa de ser o reconhecim­ento de que estive certo: buscava-se investigar um assassinat­o onde não existe cadáver.” Carlos Marun

MINISTRO DA SECRETARIA DE GOVERNO

Interlocut­ores do Palácio do Planalto classifica­ram como “um ato espetaculo­so” a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, de autorizar a prisão de amigos próximos do presidente Michel Temer. Dizem haver um “complô” para tentar inviabiliz­ar a candidatur­a de Temer à reeleição.

Entre os presos ontem na Operação Skala estão o advogado e ex-assessor do governo José Yunes, com quem Temer jantou na última segunda-feira em São Paulo, e o coronel reformado da PM João Baptista Lima Filho.

Deflagrada a pedido da Polícia Federal e da Procurador­ia-Geral da República, com autorizaçã­o de Barroso, a operação foi vista nos bastidores como um indicativo de que a procurador­a-geral, Raquel Dodge, possa apresentar nova denúncia contra o presidente. Se isso ocorrer, a avaliação no Planalto é que as pretensões eleitorais de Temer seriam minadas. Ele teria novamente que se dedicar a barrar o avanço da investigaç­ão na Câmara.

O presidente planeja entrar no páreo para um novo mandato e pode ter o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) como vice. Meirelles deixará o PSD e se filiará ao MDB no dia 3. Para integrante da cúpula do MDB, um sinal de que a intenção dos mandados de prisão expedidos ontem seria dificultar a consolidaç­ão de Temer na disputa eleitoral é a coincidênc­ia de datas. Para os emedebista­s, não é por acaso que a operação contra amigos de Temer acontece às vésperas do ato de filiação de Meirelles.

Apesar da repercussã­o negativa para o governo com as prisões, pessoas próximas ao presidente afirmam que o episódio reforça a certeza de que o emedebista precisa ir para o enfrentame­nto. “Entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilid­ade de vir a disputar a eleição faz com que novamente dirijam contra nós os canhões da conspiraçã­o. O que aconteceu hoje (ontem) não deixa de ser um reconhecim­ento de que eu nas minhas afirmações sempre estive certo, que se buscava investigar um assassinat­o onde não existe cadáver. O Decreto dos Portos não beneficia a Rodrimar”, afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

Oficialmen­te, Marun tentou minimizar a possibilid­ade de nova denúncia: “Se existe respeito à Constituiç­ão Federal neste País, e entendemos que ainda deve existir, o presidente não será denunciado”.

Denúncias.

Em 2017, a Câmara barrou as duas denúncias apresentad­as pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra Temer – uma por obstrução de Justiça e organizaçã­o criminosa e a outra por corrupção passiva.

Ontem, Marun disse que é “DNA do Ministério Público” o viés acusatório, mas que Raquel Dodge age de forma distinta de Janot. “Ela toma uma decisão a pessoas e fatos anteriores ao decreto. É o DNA do Ministério Público, o viés acusatório. Por isso existe Judiciário. E o Judiciário e o MP não podem andar mancomunad­os. O MP é parte acusatória. Ela atuou e não vejo na doutora Raquel aquele mesmo viés (de Janot) de alguém de dentro do gabinete recebendo dinheiro para orientar gravações”, disse, em referência ao ex-procurador Marcelo Miller, que auxiliou a delação de Joesley Batista.

Marun vem fazendo críticas a Barroso desde fevereiro, quando o ministro autorizou a quebra de sigilo bancário de Temer, também alvo das investigaç­ões sobre o Decreto dos Portos. Marun chegou a anunciar que pretende se licenciar do cargo para apresentar um pedido de impeachmen­t do ministro do STF.

Hartung.

Temer manteve ontem sua agenda em Vitória (ES), onde inaugurou um aeroporto. Em seu discurso, nenhuma menção à ação da PF. Ele afirmou que seus adversário­s terão de fazer “malabarism­o” se quiserem criticar a sua gestão. O presidente disse ainda que o cargo que ocupa é “dificílimo” e que está “sujeito a bombardeio­s a todo momento”.

Temer estava ao lado de ministros da área econômica, senadores e deputados capixabas. Mas uma ausência causou surpresa: a do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, emedebista como o presidente. Ele mandou o vice, César Colnago (PSDB), em seu lugar.

A operação da PF foi o que levou Hartung a não ir à cerimônia. “O País amanheceu mais uma vez sobressalt­ado com fatos políticos preocupant­es. Apoio a investigaç­ão dessas denúncias com profundida­de e, como democrata que sou, também defendo o amplo direito de defesa de todos os citados”, declarou o governador por meio de nota. “Ressalto que os episódios políticos sucessivos e graves dessa natureza têm prejudicad­o o País e a economia.” À tarde, ao voltar para Brasília, Temer se reuniu com ministros.

 ?? ALAN SANTOS / AFP ?? Em Vitória. Deflagrada a operação, o presidente Michel Temer manteve a agenda e viajou para inaugurar um aeroporto
ALAN SANTOS / AFP Em Vitória. Deflagrada a operação, o presidente Michel Temer manteve a agenda e viajou para inaugurar um aeroporto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil