O Estado de S. Paulo

Barroso autoriza e ação da PF prende amigos de Temer

Decreto dos Portos. Para ministro do STF, há indícios de que esquema para concessão de benefício público vigorava há 20 anos; ele vê “risco concreto de destruição de provas”

- Rafael Moraes Moura Breno Pires / BRASÍLIA Fausto Macedo

A Polícia Federal prendeu ontem dois amigos próximos do presidente Michel Temer, o empresário e advogado José Yunes e o coronel da reserva João Baptista de Lima Filho, o coronel Lima, em uma operação que investiga favorecime­nto a empresas do setor portuário a partir de um decreto do governo assinado em maio do ano passado.

Os pedidos de prisão partiram da Procurador­ia-Geral da República e foram autorizado­s pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, relator do inquérito na Corte que investiga o chamado Decreto dos Portos, assinado por Temer. Ao todo, foram expedidos 13 mandados de prisão temporária (de cinco dias, podendo ser renovado por mais cinco) e 20 mandados de busca de apreensão.

Também foram presos temporaria­mente o presidente da empresa Rodrimar, Antonio Celso Grecco, e o ex-ministro da Agricultur­a e ex-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) Wagner Rossi, outro aliado de Temer. A Rodrimar é uma das empresas que a investigaç­ão suspeita que seriam beneficiad­as pelo decreto. Quatro acionistas indiretos da empresa Libra Terminal também foram presos temporaria­mente na operação.

Em janeiro de 2016 o Estado mostrou que uma emenda parlamenta­r incluída pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na nova Lei de Portos, beneficiou o Grupo Libra, um dos principais doadores de campanha do vice-presidente Michel Temer em 2014.

Temer é um dos alvos da investigaç­ão e já teve quebra de sigilo bancário autorizado por Barroso. Em fevereiro o ministro autorizou a prorrogaçã­o do inquérito por 60 dias, a pedido da Procurador­ia-Geral da República.

Ao determinar a operação, batizada de Skala, Barroso apontou indícios de um “esquema de concessão de benefícios públicos no setor dos portos em troca de recursos privados para fins pessoais e eleitorais” em vigor há mais de 20 anos. A suspeita tem como base informaçõe­s de um inquérito já arquivado pelo STF, mas que foi resgatado para a investigaç­ão atual.

O Decreto dos Portos foi assunto de um diálogo no dia 4 de maio de 2017 entre Temer e seu então assessor Rodrigo Rocha Loures, alvo do grampo da Polícia Federal. A intercepta­ção ocorreu em meio ao processo de delação premiada de executivos e acionistas do Grupo J&F, entre eles Joesley Batista.

Segundo a investigaç­ão, a Argeplan, de Lima, recebeu recursos de empresas interessad­as na edição do decreto e distribuiu os valores para os demais investigad­os. A PF tentava ouvir o coronel há meses, mas sem sucesso.

O coronel, de 74 anos, sofre com problemas de saúde e foi levado pela PF em uma cadeira de rodas. Ele seguiu sob escolta em uma ambulância do Samu até o hospital Albert Einstein. No início da noite, Lima teve alta e foi levado para a custódia da PF na capital paulista. A amizade de Lima e Temer é antiga. A mulher do coronel, arquiteta Maria Rita Fratezi, elaborou, inclusive, o projeto de reforma da casa da filha do presidente, Maristela Temer.

Yunes, outro amigo de longa data de Temer, tem 81 anos e também é alvo do inquérito. O empresário foi assessor de Temer na Presidênci­a.

Ele pediu demissão do cargo em 2016 após a revelação do conteúdo de delação premiada do exexecutiv­o da Odebrecht Claudio Melo Filho. Yunes disse, na ocasião, que teria sido “mula involuntár­ia” do ministro da Casa civil, Eliseu Padilha, ao pedir que ele recebesse um “pacote” em seu escritório.

‘Risco concreto’. Barroso apontou que as medidas de prisão de buscas e apreensão têm por objetivo esclarecer pontos centrais da investigaç­ão da qual é relator. O ministro citou “risco concreto de destruição de provas” para expedir os mandados.

Ontem, em Vitória, Temer evitou comentar sobre a operação da Polícia Federal. Em discurso, ele afirmou que o cargo que ocupa é “dificílimo” e que está “sujeito a bombardeio­s a todo momento

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ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO - 22/3/2018 Inquérito. Barroso é o relator no STF

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