O Estado de S. Paulo

Parentes culpam governo por incêndio que matou 68 em prisão na Venezuela

Fogo e fúria. Centenas de parentes dos mortos foram buscar informaçõe­s sobre as vítimas e entraram em confronto com a polícia venezuelan­a na porta do presídio, na cidade de Valencia; cadeia construída para abrigar 60 detentos tinha mais de 200

- VALENCIA, VENEZUELA / NYT e REUTERS

Como a maioria dos presídios na Venezuela, a prisão do Comando da Polícia do Estado de Carabobo, na cidade de Valencia, também estava superlotad­a. Construída para comportar 60 presos, continha 200. Foi nessas condições que um incêndio matou 68 pessoas na noite de quarta-feira.

Ontem, centenas de parentes dos mortos foram para a porta do presídio pedir explicaçõe­s sobre o caso e culpavam, juntamente com políticos opositores e organizaçõ­es de direitos humanos, o regime do presidente venezuelan­o, Nicolás Maduro, pelas más condições em que o local estava.

Ainda durante a manhã de quarta-feira, um guarda foi ferido a facadas e feito refém por um grupo de presos que ameaçaram matá-lo. Enquanto isso, outros presidiári­os colocaram fogo em colchões.

O fogo se espalhou rapidament­e e bombeiros fizeram buracos nas paredes das celas para que a fumaça se dissipasse. Mas, durante a noite, 66 homens e 2 mulheres, que estavam no local visitando parentes, morreram. Dezenas ficaram feridas.

Ontem, as famílias que faziam fila na porta da prisão desde a madrugada para obter informaçõe­s sobre o ocorrido entraram em confronto com policiais, que atiraram gás lacrimogên­eo e balas de borracha contra a multidão. No fim da manhã de ontem, uma policial começou a chamar as pessoas e dizer quem havia morrido.

Em seguida, ela leu nomes dos sobreviven­tes. “Olha, eu ainda nem tomei café da manhã. Então, tenham calma. Esses são os nomes que tenho”, concluiu.

Silêncio.

Cobradas, as autoridade­s venezuelan­as quase não comentaram a tragédia. Pelo Twitter, o presidente Maduro escreveu sobre o feriado da Páscoa e um encontro com o ator Danny Glover, mas não citou o incêndio na prisão.

O governador de Carabobo, Rafael Lacava, divulgou um comunicado prometendo investigar o incêndio e melhorar a situação dos presídios, mas não detalhou o que poderia ser feito.

A oposição, por outro lado, falou do caso e criticou o silêncio do chavismo. “Diante da tragédia e da dor com o que aconteceu em Carabobo, o silêncio e a insolência do governo indicam a procura por desculpas para esconder sua óbvia responsabi­lidade”, disse Omar Barboza, presidente da Assembleia Nacional, dominada pela oposição, mas sem poder efetivo desde a instituiçã­o da Constituin­te.

Rebeliões e mortes são comuns nas prisões mais precárias da Venezuela, onde presos têm acesso a armas e drogas. No entanto, o número de mortos no incêndio em Valencia o torna o pior em mais de 20 anos.

 ?? JUAN BARRETO/AFP ?? Indignação. Parentes fazem fila em frente a presídio onde rebelião e incêndio terminaram com 68 mortos e cobram medidas contra a superlotaç­ão
JUAN BARRETO/AFP Indignação. Parentes fazem fila em frente a presídio onde rebelião e incêndio terminaram com 68 mortos e cobram medidas contra a superlotaç­ão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil