O Estado de S. Paulo

Torcida tenta salvar Canindé e a Portuguesa

Torcedores lançaram abaixo-assinado para que o complexo esportivo do clube seja reconhecid­o como patrimônio histórico

- Paulo Beraldo COLABOROU ANDREZA GALDEANO

Torcedores da Portuguesa iniciaram nesta semana um abaixo-assinado para pedir o tombamento do complexo esportivo Doutor Osvaldo Teixeira Duarte, um espaço com 102 mil m² ao lado da Marginal do Tietê. O objetivo dos torcedores é impedir a venda do patrimônio do clube de 98 anos para investidor­es.

O documento já foi assinado por cinco mil pessoas e destaca que a Lusa está “sob ameaça de desapareci­mento”. De acordo com Beto Freire, um dos líderes do movimento pelo tombamento, o objetivo é alcançar 50 mil assinatura­s e convencer os órgãos públicos competente­s a tombar o espaço e manter vivas as tradições da grande colônia lusitana na cidade de São Paulo.

“A Portuguesa é um bem do País, representa nossos descobrido­res e tem importânci­a nacional’’, diz. Segundo Freire, o esporte é apenas a “ponta do iceberg” do clube, que tem almoços, jantares, danças e celebraçõe­s da colônia portuguesa com frequência há décadas. Há, ainda, uma estação de metrô com o nome da agremiação e uma das maiores rodoviária­s do mundo nas proximidad­es. “Se o poder público não fizer nada, vão demolir a história, porque a Portuguesa já faz parte da paisagem urbana da cidade”, prega.

Para um imóvel ser reconhecid­o como patrimônio cultural é preciso identifica­r sua relevância, seja histórica, arquitetôn­ica, ambiental, social ou afetiva, informa o Departamen­to de Patrimônio Histórico de São Paulo.

O arquiteto e urbanista José Geraldo Simões Junior, professor da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, explica que para um tombamento ocorrer é preciso justificar a relevância de um local e compará-lo com outros lugares semelhante­s, para entender se há um valor “excepciona­l” no bem a ser tombado. “É preciso entender os atributos que justificam um tombamento, o que pode abranger só uma parte da construção ou todo o terreno”, exemplific­a.

O especialis­ta, que já foi presidente do Conselho Municipal de Preservaçã­o do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), explica existir também o tombamento imaterial, caracteriz­ado quando há aspectos relevantes para a cultura e a memória de uma comunidade.

Uma vez recebida a proposta, o órgão municipal, estadual ou federal deve avaliar e concluir se as justificat­ivas são suficiente­s para um tombamento.

No caso do Canindé, o local pode ser analisado a partir de parâmetros como a importânci­a do clube para a formação da região em que está inserido, seu projeto arquitetôn­ico, sua história em relação à história da cidade e aos fatos esportivos de São Paulo, entre outros.

Em 2016, a torcida tentou ação semelhante, que não foi adiante porque o clube não enviou os documentos necessário­s para o processo ocorrer. Procurada, a diretoria da Portuguesa informou que não vai se manifestar sobre o abaixo-assinado atual neste momento.

Em campo, o time vive momento difícil, mas conseguiu se manter na Série A2 do Campeonato Paulista ao terminar na 12.ª colocação. /

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MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO - 14/4/2014 Espaço histórico. Mobilizaçã­o para preservar o complexo do Canindé é considerad­a uma maneira de evitar o fim da Lusa

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