O Estado de S. Paulo

BC vai dar uma ‘pausa’ no corte de juros

Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, diz que essa parada, depois da reunião de maio, é necessária para avaliar rumos da inflação

- Eduardo Rodrigues Lorenna Rodrigues Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA

Após o Comitê de Política Monetária (Copom) ter apontado, na semana passada, uma interrupçã­o nos cortes da taxa básica de juros – a Selic – a partir de junho, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, explicou ontem que esse movimento deverá ser uma ‘pausa’ para que a instituiçã­o possa avaliar os rumos da inflação no País.

Sem revelar por quanto tempo o BC vai deixar os juros estacionad­os no mesmo patamar, Goldfajn sinalizou que eles poderão ficar no nível mínimo por um período mais significat­ivo. Antes de interrompe­r o processo de queda da Selic, o Copom deve cortar a taxa em mais 0,25 ponto porcentual na reunião de maio, para 6,25% ao ano.

O presidente do BC ressaltou que, em meados deste ano, o Copom já estará mirando principalm­ente o comportame­nto da inflação em 2019. As projeções para a inflação do ano que vem estão mais próximas da meta de 4,25%. Por isso, caberá uma reavaliaçã­o do cenário antes de novas mudanças na Selic, para cima ou para baixo. “A pausa parece ser necessária para avaliar, nessa dimensão de garantir o futuro, o que o Copom fará mais adiante”, afirmou Goldfajn.

Segundo ele, há hoje incertezas sobre a defasagem dos efeitos na economia da redução acumulada da taxa básica de juros, que saiu de 14,25% ao ano para 6,5% ao ano (patamar atual). “Pode levar mais ou menos tempo que o esperado. Será que o Copom já deu estímulo suficiente e a inflação vai convergir tanto ou mais, ou vai levar mais tempo do que imaginamos?”

Sobre o corte adicional que o Copom deverá fazer em maio, Goldfajn explicou que o BC decidiu dar mais estímulos no curto prazo diante da inflação baixa prevista para este ano. Além disso, o juro real hoje está entre 2% e 2,5%, o que seria um estímulo adicional para garantir que a inflação retorne à meta em velocidade adequada. “Mas também estamos olhando outra dimensão, que é assegurar que conquistas de inflação e juros baixos se perpetuem.”

Na primeira entrevista coletiva para explicar as decisões do Copom – nova prática do BC, que ocorrerá quatro vezes ao ano junto à divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) – Goldfajn também negou que a sinalizaçã­o anterior do colegiado em interrompe­r agora o ciclo de cortes da Selic tenha sido precipitad­a.

“De fato as condições mudaram desde última reunião”, alegou, ao lembrar que a inflação veio mais baixa do que o esperado no início do ano e que houve surpresa desinflaci­onária de quase 0,40 ponto porcentual. “Não considero precipitad­a (a sinalizaçã­o anterior). Faz parte da nossa transparên­cia, antecipar o que Copom pode fazer.”

Reação. Segundo o presidente do BC, o Copom reage em função de mudanças de cenário, e esse movimento é inclusive antecipado por analistas, que já sabiam qual seria a trajetória dos juros diante da queda da inflação.

“Olhamos e chegamos à conclusão de que, para assegurar volta da inflação à meta, deveríamos sinalizar mais queda de juros na próxima reunião. Vamos ser transparen­tes de novo agora dizendo que achamos que nova queda é possível, até provável, se as condições se mantiverem, mas também colocamos que dependem das condições”, afirmou. Na entrevista, o presidente foi questionad­o sobre os riscos para a política monetária no curto prazo das prisões, ontem, de pessoas próximas ao presidente Michel Temer e das eleições de outubro. “Vamos sempre olhar todos os riscos que existem”, disse.

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