O Estado de S. Paulo

Ministros usam cargo para fazer campanha

Pré-campanha. Titulares do governo Temer que pretendem disputar as eleições de outubro intensific­am agenda oficial antes de entregar seus cargos até 7 de abril

- BRASÍLIA

Os ministros que deixam o governo em abril para disputar as eleições agendam eventos públicos em seus redutos eleitorais ou em Brasília. Onze ministros intensific­aram ações nas últimas semanas. O TSE deve ficar mais rigoroso na análise de casos de suspeita de propaganda antecipada.

Os ministros que deixam o governo até o dia 7 de abril para disputar as eleições tentam aproveitar os momentos finais de visibilida­de no cargo agendando eventos públicos em seus redutos eleitorais ou em Brasília, alguns com a presença do presidente Michel Temer. De saída na reforma ministeria­l da próxima semana, eles usam o palanque oficial para anunciar os últimos investimen­tos de suas pastas e fazer balanços de gestão.

Onze ministros intensific­aram agendas de rua nas últimas semanas ou agendaram eventos de grande porte para marcar a saída do ministério. O presidente e o ministros negam conotação eleitoreir­a nas cerimônias.

Interessad­o em tentar disputar a reeleição em outubro, Temer chegou a dar tom de despedida a algumas cerimônias. Em três discursos, o presidente escolheu um ministro diferente para dizer que fora sua “melhor escolha”, embora considere que tenha “acertado a mosca” em todos os ministério­s.

O presidente planeja intensific­ar eventos abertos e dar sequência às viagens pelo País. Na quinta-feira, no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu três de seus mais próximos aliados, Temer inaugurou o novo terminal do Aeroporto de Vitória (ES), com despedida do ministro dos Transporte­s, Mauricio Quintella Lessa, deputado licenciado pelo PR em Alagoas.

Na semana passada, os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Helder Barbalho (Integração Nacional), Ricardo Barros, Fernando Coelho Filho e Mendonça Filho pegaram carona na comitiva de Temer que foi inaugurar uma obra de irrigação em Xique-Xique (BA) e visitar o polo industrial de Goiana (PE).

Os ministros-candidatos passaram a concentrar compromiss­os oficias em seus redutos, além de reforçar a destinação de verbas, desde que Temer anunciou a reforma ministeria­l, no fim do ano passado. A maioria dos ministros, porém, relutou em deixar o governo em dezembro e pediu ao presidente para permanecer no cargo até o início de abril. Levantamen­to publicado pelo Estado, com base no portal Transferên­cias Abertas, mostrou que sete ministros com a intenção de entrar na corrida eleitoral incrementa­ram o valor autorizado para projetos e obras nos seus respectivo­s redutos eleitorais.

Em anos eleitorais, ações governamen­tais com mais apelo costumam ser promovidas no primeiro semestre. Isso ocorre por restrições legais. Não são permitidos, nesse período, gastos com propaganda acima da média dos três anos anteriores.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ficar mais rigoroso na análise de casos de suspeitas de propaganda antecipada, segundo o Estado apurou com integrante­s do tribunal. A expectativ­a é de que a Corte Eleitoral endureça o entendimen­to de propaganda antecipada.

Máquina. Para um magistrado ouvido reservadam­ente pelo Estado, a movimentaç­ão de ministros faz parte do uso legítimo da máquina pública, que não pode parar – o que deve ser vedado, avalia, é o abuso de conduta que visa à extração de dividendos eleitorais, o que só ficaria mais claro quando os políticos oficializa­rem as candidatur­as.

O ministro das Cidades, Alexandre Baldy (PP), que avalia se candidatar à reeleição como deputado por Goiás, diz que a agenda institucio­nal é desvincula­da de objetivos eleitorais. “Nós estamos acelerando essa agenda para promover investimen­tos, mas nada tem a ver com o calendário político-eleitoral”, afirmou o ministro, após lançar no Planalto financiame­nto da ordem de R$ 1,9 bilhão com recursos do FGTS.

O ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), afirmou que percorreu o País e não só Pernambuco, Estado pelo qual deve disputar novo mandato parlamenta­r nas próximas eleições. “Por que devo excluir Pernambuco? Visitei praticamen­te todos os Estados em menos de dois anos”, disse ele. /FELIPE FRAZÃO, CARLA ARAÚJO, ANDRÉ BORGES, LÍGIA FORMENTI, IGOR GADELHA, LU AIKO OTA

‘Pernambuco’

“Por que devo excluir Pernambuco? Visitei praticamen­te todos os Estados em menos de dois anos.” Mendonça Filho (DEM-PE)

MINISTRO DA EDUCAÇÃO, QUE DEVE

DISPUTAR VAGA NO SENADO OU CÂMARA

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GUGA MATOS/JC IMAGEM–23/3/2018 Pasta. O ministro da Educação, Mendonça Filho, visita complexo industrial em Goiana (PE)

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