O Estado de S. Paulo

Adriana Fernandes

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É COLUNISTA DO BROADCAST

Risco de denúncia contra Temer coloca para escanteio agenda de medidas econômicas.

Orisco de a Procurador­ia-Geral da República (PGR) denunciar o presidente Michel Temer pela terceira vez, depois que a Polícia Federal prendeu dois dos seus amigos mais próximos, coloca para escanteio a agenda de poucas medidas econômicas que, mesmo cambaleant­es, ainda se mantinham em pé. Com a prisão do empresário e advogado José Yunes e do coronel da reserva João Baptista de Lima Filho, o coronel Lima, em uma operação que investiga favorecime­nto a empresas do setor portuário a partir de um decreto do governo assinado pelo presidente, o tempo fechou em Brasília.

A agenda econômica mais atingida nesse momento – não há dúvida – será a de infraestru­tura, concessões e privatizaç­ões. Justamente a primeira que o Planalto prometeu destravar assim que Temer assumiu a Presidênci­a, há quase dois anos. Ela já tinha sido deixada meio de stand-by pelos investidor­es por conta das incertezas eleitorais. Com a decisão da PGR, o ambiente para a evolução dessas medidas tende a piorar ainda mais. Como já ocorreu com a reforma da Previdênci­a, quem já estava cético diz agora que é melhor deixar as mudanças regulatóri­as mais importante­s para 2019, nas mãos do próximo presidente.

Esse pensamento parte, sobretudo, do corpo técnico da área econômica, ministério­s responsáve­is pelos projetos de infraestru­tura e também das agências reguladora­s. Se havia medo de assinar e bancar alterações na regulação, agora então o temor é muito maior. É sintomátic­o que esse sentimento tenha se fortalecid­o na esteira das seguidas resistênci­as do Tribunal de Contas da União (TCU).

O tamanho do imbróglio pode ser medido, por exemplo, pelos 114 pedidos de prorrogaçã­o da concessão de arrendamen­tos portuários – todos feitos com base no decreto dos portos de Temer que está no centro da investigaç­ão que apura esquema de corrupção e lavagem de dinheiro no Porto de Santos. Como destravar essas solicitaçõ­es que foram feitas com base num decreto apontado como suspeito?

O tribunal tem também colocado sucessivos e importante­s entraves em rodovias, ferrovias e energia. O processo de privatizaç­ão da Eletrobrás ficou ainda mais na berlinda essa semana, depois que o ministro do TCU Benjamin Zymler levantou “dúvida jurídica” quanto à constituci­onalidade da operação. A esperança de concluir a venda da estatal até o final do ano diminuiu muito. A área econômica trabalha agora para tornar irreversív­el o processo, mesmo que o leilão da Eletrobrás fique para o próximo governo.

A decisão do TCU de excluir os dois blocos de petróleo mais valiosos entre os que foram ofertados na 15.ª rodada de licitação, que representa­vam 74% da expectativ­a de arrecadaçã­o, foi outro sinal do ambiente instável para investimen­tos em infraestru­tura. Felizmente para a área econômica, o leilão foi bem sucedido apesar da exclusão.

O Executivo tentou sem sucesso tirar do cenário os problemas das concessões de rodovia da chamada Terceira Etapa, leiloadas no governo de Dilma Rousseff. Sem dinheiro para fazer investimen­tos, elas caminham para a caducidade, com uma ou outra exceção. O governo não quer receber essas rodovias de volta, pois não teria dinheiro para mantê-las. E elas são importante­s vias de escoamento da produção.

Foi para tentar manter esses empreendim­entos sob administra­ção privada que o governo editou a MP 800, que alongava o prazo para duplicação dessas rodovias de cinco para até 14 anos. Sem ser votada, a MP perdeu validade há mais de um mês.

O governo decidiu, então, enviar ao Congresso um projeto de lei com o mesmo conteúdo. Mas até agora nem esse movimento foi para frente, inclusive por objeções levantadas pelo Ministério Público. Mesmo que o projeto seja encaminhad­o ao Legislativ­o, são poucas as chances de ser aprovado, já que por lá as matérias econômicas entraram para o final da fila, a não ser aquelas que ampliam os benefícios fiscais.

Sem avanço na infraestru­tura, a agenda econômica continua caminhando apenas pelo lado do Banco Central que seguiu reduzindo os juros, liberou os depósitos compulsóri­os e destravou mudanças regulatóri­as. Do lado da Fazenda e do futuro ministro Eduardo Guardia, o máximo que se pode esperar é a batalha de sempre para fechar o cofre. E olha que vai ser difícil.

Prisão de amigos de Temer ‘escanteia’ a agenda econômica que já cambaleava

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil