O Estado de S. Paulo

Mortes na Faixa de Gaza

Violência. Cerca de 30 mil manifestan­tes se reuniram em diversos pontos da divisa para protestar contra pobreza, falta de energia elétrica e fronteiras fechadas; israelense­s afirmam que soldados dispararam após lançamento de pedras e de coquetéis molotov

- FAIXA DE GAZA

Palestinos fogem de bombas de gás lacrimogên­eo lançadas por soldados israelense­s na fronteira da Faixa de Gaza. Pelo menos 16 palestinos morreram e cerca de 2 mil ficaram feridos em confronto com o Exército de Israel durante protesto contra pobreza.

Ao menos 16 palestinos morreram e cerca de 2 mil ficaram feridos ontem em confrontos com soldados israelense­s na fronteira de 62 quilômetro­s entre a Faixa de Gaza e Israel. Os israelense­s dizem que dispararam após o lançamento de pedras e coquetéis molotov por manifestan­tes ligados ao Hamas.

A versão dos palestinos é diferente. De acordo com o Ministério da Saúde em Gaza, o agricultor Omar Samur, de 27 anos, foi a primeira vítima. Ele foi morto por disparos de artilharia de Israel no início da manhã, antes mesmo do início da manifestaç­ão, quando trabalhava na lavoura. Um companheir­o dele ficou ferido. O Exército de Israel disse que dois “suspeitos” se aproximara­m da barreira e atiraram contra os soldados, então tanques israelense­s dispararam em sua direção.

Os outros 15 palestinos, todos manifestan­tes, morreram em confrontos com o Exército israelense em diferentes áreas da fronteira. Um deles foi baleado na barriga em Jabaliya, ao norte de Gaza, e dois foram atingidos na cabeça em Rafah, ao sul da região. O Crescente Vermelho identifico­u mais de 350 manifestan­tes feridos por tiros de soldados israelense­s na fronteira.

O Exército de Israel disse que seguiu o protocolo e respondeu com bombas de gás lacrimogên­eo e munição real contra as milhares de pessoas que tentavam danificar a barreira em seis pontos da fronteira. Israel acusou militantes de usarem a manifestaç­ão para cometer ataques. Uma das preocupaçõ­es dos israelense­s é que o protesto seja uma tentativa, espontânea ou não, de forçar a cerca da fronteira. No começo da semana, Israel havia ordenado o fechamento total da fronteira por uma semana na Páscoa judaica.

Os protestos reivindica­m o “direito ao retorno” dos milhares de palestinos que foram expulsos de suas terras ou fugiram da guerra que começou após a criação de Israel, em 1948. O Dia da Terra homenageia seis árabes-israelense­s que morreram em 1976 durante manifestaç­ões contra o confisco de terras por Israel.

A grande manifestaç­ão, prevista para durar ao menos seis dias, também é uma demonstraç­ão do desespero dos moradores da Faixa de Gaza em razão do cerco de mais de uma década e da deterioraç­ão das condições de vida.

A estudante de história Asmaa al-Katari disse que estava participan­do da marcha, apesar dos riscos, “pois a vida é tão difícil em Gaza que a população não tem mais nada a perder”.

Organizada oficialmen­te pela sociedade civil, a Marcha do Retorno é apoiada pelo Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007. O grupo travou contra Israel três guerras no enclave palestino desde 2008. Desde 2014, os dois lados tentam manter um cessar-fogo.

O Exército de Israel, que usou um drone para lançar gás lacrimogên­eo, disse que os palestinos “estavam protestand­o violentame­nte na Faixa de Gaza. Eles atearam fogo em pneus e lançaram bombas e pedras nos agentes de segurança”. As tropas “respondera­m com meios de dispersão e disparos contra os principais instigador­es”. Segundo nota do Exército de Israel, “a organizaçã­o terrorista Hamas coloca em perigo a vida das pessoas de Gaza e as usa para camuflar suas atividades terrorista­s”.

“Dois suspeitos se aproximara­m da barreira e atiraram contra os soldados, então tanques israelense­s dispararam em sua direção”

EXÉRCITO DE ISRAEL

“Erguemos a bandeira da paz. Os moradores de Gaza estão desesperad­os, sem trabalho, eletricida­de e fronteiras fechadas” Hamed Jundiya

SUPERVISOR EDUCACIONA­L

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MAHMUD HAMS/AFP
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ADEL HANA/AP Violência. Manifestan­tes palestinos na fronteira entre Gaza e Israel: confrontos ameaçam frágil cessar-fogo na região

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