O Estado de S. Paulo

Privilegia­tura

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A manchete do Estadão de ontem informa que amigos do presidente Michel Temer estão presos sob a alegação de que podem destruir supostas provas. Tudo indica que a procurador­ageral da República, Rachel Dodge, prepara nova denúncia contra o presidente. Os que se empenham nessa causa foram revolver fatos de 20 anos atrás. Em algum lugar há de haver provas! No entanto, Marcelo Miller, cuja conduta foi amplamente questionad­a, bem como Rodrigo Janot, que se encontrou com o advogado de Joesley Batista nos fundos de uma cervejaria, nem sequer são investigad­os. Aliás, note-se: Joesley e Wesley Batista estão soltos e o delator, o doleiro Lúcio Funaro, está igualmente solto. E todos são criminosos confessos, cujo mérito maior foi fazer delação premiada e incriminar o presidente Temer. Suponho que, se condenados em segunda instância, os amigos do presidente correrão o risco de ser presos. Mas quem nem é investigad­o jamais será incriminad­o. Escrevo em plena Sexta-Feira da Paixão. Contemplo os príncipes dos sacerdotes instigando a multidão contra Jesus e Pilatos, o fraco, entrando para a História e para o Credo: eis aí o que acontece ao procurador romano que resolveu ouvir as turbas, em vez de aplicar a lei. Por favor, Judiciário, preocupese menos com a reforma da Previdênci­a, em não perder os pendurical­hos acima do teto. Por favor! Pare de ceder ao corporativ­ismo que instituiu essa privilegia­tura. Deixe Temer governar!

SUELI CARAMELLO ULIANO scaramellu@terra.com.br

São Paulo

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