O Estado de S. Paulo

Inovação na indústria

Após seis anos, produtivid­ade reage no País

- Humberto Maia Junior ESPECIAL PARA O ESTADO

Depois de cair 6,45% nos últimos seis anos, a produtivid­ade brasileira começa a esboçar uma reação. A projeção da consultori­a Tendências é de que, em 2018, o indicador deve crescer 0,5%. Trata-se de uma alta modesta, mas que sinaliza o avanço de um indicador essencial para o cresciment­o sustentáve­l do País.

Essa recuperaçã­o é resultado de uma combinação de três fatores. Um deles é o chamado “darwinismo econômico”: durante a recessão, muitas empresas ineficient­es vão à falência e trabalhado­res com baixa qualificaç­ão são demitidos. “A produção cai num primeiro momento de forma mais rápida do que as demissões, já que as empresas não sabem a extensão da crise”, explica Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimen­tos. “Quando a economia volta a crescer, o mercado de trabalho demora para responder, o que favorece o ganho de produtivid­ade no pós-crise.”

Além disso, para sobreviver, ou para se preparar para a retomada, muitas empresas investiram na melhoria de processos, corte de custos e otimização dos recursos. Quando a economia se recupera, elas estão mais eficientes e a produtivid­ade aumenta.

Na semana passada, por exemplo, a montadora Mercedes-Benz anunciou uma série de inovações na fábrica de caminhões e ônibus de São Bernardo do Campo, resultado do investimen­to de R$ 500 milhões nos últimos três anos, período em que também demitiu 5 mil pessoas. Com a modernizaç­ão da unidade e a adoção de conceitos da chamada indústria 4.0, a empresa anunciou um ganho de produtivid­ade de 15%.

A construtor­a paranaense Plaenge também investiu na melhoria de processos durante a crise. Um dos focos da Plaenge foi reduzir o tempo ocioso da mão de obra, provocado por falhas na distribuiç­ão de material para construção, como tijolos ou cimento. “Uma construção que custava R$ 31 milhões, agora custa R$ 1,8 milhão a menos”, diz Marcelo Resquetti, gerente geral da Plaenge.

O impulso no indicador de produtivid­ade também veio da macroecono­mia, com juros e inflação convergind­o para mínimas históricas. Segundo Alessandra Ribeiro, da Tendências, as mudanças na legislação trabalhist­a e a Lei de Responsabi­lidade das Estatais ajudaram a melhorar o ambiente de negócios, estimuland­o investimen­tos. “Os efeitos dessas reformas devem aumentar ao longo do tempo.”

Voo de galinha.

Mas ainda há muito a fazer para livrar o Brasil da síndrome de “voo de galinha”, em que o cresciment­o é sempre baixo e de curta duração. Para o País emplacar um cresciment­o ao “estilo chinês”, mudanças estruturai­s profundas precisam ser feitas. “O aumento de produtivid­ade envolve três aspectos”, explica o economista José Alexandre Scheinkman, da Universida­de Columbia, nos EUA. “Aumento da educação dos trabalhado­res, do estoque de capital na economia e, também, maior eficiência na forma como capital e trabalho são usados de forma combinada.”

Esse terceiro ponto depende de melhorias no ambiente de negócios. Trata-se de uma agenda que envolve redução da burocracia, investimen­tos em infraestru­tura, criação de regras e marcos regulatóri­os que deem clareza e previsibil­idade no cumpriment­o de contratos, aumento da competição entre os agentes econômicos e simplifica­ção tributária.

Desafio.

Posto em números, é possível ver o tamanho do desafio. A pedido do Estado, o banco Santander calculou o esforço que o País precisa fazer para aumentar o potencial de cresciment­o do PIB, ou seja, o quanto a economia consegue crescer sem exaurir sua capacidade e provocar alta da inflação – que depende de mais produtivid­ade.

Estudos do banco indicam que, hoje, o teto está próximo de 2% ao ano. Para crescer 4% de forma consistent­e, a taxa de investimen­tos terá de sair dos atuais 15,6% para 21% do PIB – e a produtivid­ade crescer 2,3% ao ano. “É um ritmo de cresciment­o que o País não consegue sustentar desde a década de 70”, diz Maurício Molon, economista-chefe do Santander.

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MALAGRINE / MERCEDES BENZ Modernizaç­ão. Mercedes-Benz teve ganho de produtivid­ade de 15%
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