O Estado de S. Paulo

Um pouco de doçura para este mundo

É a meta da diretora Ava DuVernay com ‘Uma Dobra no Tempo’

- Mariane Morisawa ESPECIAL PARA O ESTADO LOS ANGELES

Uma Dobra no Tempo é um marco: pela primeira vez, uma produção de mais de US$ 100 milhões (cerca de R$ 333 milhões) foi dirigida por uma mulher negra, Ava DuVernay, de Selma – Uma Luta pela Igualdade.

Oprah Winfrey, que foi produtora e atriz de Selma e interpreta a Sra. Qual no novo filme, afirmou ter ficado orgulhosa da amiga. “Estamos numa situação completame­nte diferente de Selma, temos a máquina da Disney por trás. Por isso é empolgante, porque Ava DuVernay está no comando dessa máquina. Isso preenche meu coração. Vê-la no meio de um monte de homens, dando as direções, no meio de equipament­os enormes, sendo a mestra, foi poderoso e inspirador. Ela reforça aquela parte de nós que sabe que nós mulheres negras sempre fomos capazes de fazer isso”, afirmou Oprah.

DuVernay ficou encarregad­a de adaptar para o cinema, com ajuda da roteirista Jennifer Lee (de Frozen), o livro de Madeleine L’Engle, um clássico da literatura infantojuv­enil nos Estados Unidos. “Uma Dobra no Tempo é um livro único”, disse Jennifer Lee em entrevista ao Estado, em Los Angeles. “Precisávam­os de alguém que não tivesse medo de contar a história como se deve. E Ava não tinha. Ela realmente abraçou o que propus e me desafiou também. Tivemos as conversas mais incríveis, de experiênci­as infantis até as teorias de Einstein.”

Na trama, a adolescent­e Meg Murry (Storm Reid), sofrendo com o sumiço do pai, um cientista (Chris Pine) que pesquisava uma maneira de viajar no tempo, recebe a visita de três figuras mágicas: Sra. Queé (Reese Witherspoo­n), Sra. Qual (Oprah Winfrey) e Sra. Quem (Mindy Kaling). Junto com o irmão mais novo, Charles Wallace (Deric McCabe), e seu amigo, Calvin O’Keefe (Levi Miller), ela parte numa jornada para reencontra­r o pai.

DuVernay, que dirigiu também o documentár­io A 13.ª Emenda, de 2016, reuniu um time de feras, como deu para perceber. “Eu nem esperei meu agente me dizer o que era, quando

ele disse ‘Ava DuVernay’, aceitei na hora”, contou Witherspoo­n. Oprah ouviu falar de uma viagem à Nova Zelândia, onde o longa foi parcialmen­te rodado. “Disse que estava indo! Simplesmen­te porque eu posso”, afirmou a poderosa

apresentad­ora. “Só então Ava me ofereceu para ler o roteiro, porque eu falei que faria sem nem saber o que era.” Mindy Kaling, conhecida por seus papéis em comédia, como na série The Office, tinha conhecido DuVernay numa festa em homenagem

à ativista paquistane­sa ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2014 Malala Yousafzai. “Ava, Malala e eu éramos as únicas não brancas. Ficamos conversand­o”, contou a atriz. “Nunca imaginei que fosse dar nisso. Sou só uma atriz de sitcoms.”

A diretora e roteirista california­na Ava DuVernay apostou na diversidad­e, transforma­ndo personagen­s brancas em não brancas, a começar por Meg. “Conversamo­s muito sobre as garotas que assistiria­m ao filme”, disse a diretora. “Mas Zach Galifianak­is, que faz o personagem Meio Feliz, que é capaz de ver através do tempo e do espaço, foi o primeiro a dizer que é uma produção que os meninos deveriam ver também. Os meninos precisam perceber que podem ser vulnerávei­s, que podem seguir a liderança de uma menina, que não precisam ser machões”, aconselha o ator.

Com Uma Dobra no Tempo, o objetivo de Ava DuVernay, que falou principalm­ente de racismo em seus trabalhos anteriores, foi um só: “Queria oferecer um pouquinho de doçura para o mundo, porque é uma época difícil. Esse filme me salvou de certa forma de cair em buracos negros”.

Para Oprah Winfrey, é importante manter a esperança. “Se a gente deixar, a escuridão toma conta. Precisamos de um pouquinho de luz para combater a escuridão”, acrescenta.

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DISNEY Sra. Qual e Meg Murry. Oprah Winfrey e Storm Reid: uma perigosa jornada na luta do bem contra o mal

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