O Estado de S. Paulo

Centrão ganha força no balcão de negócios da Câmara

DEM, PP, PSD, Podemos e PROS são as legendas que mais ganham deputados na janela para troca de partidos

- Adriana Ferraz Pedro Venceslau / COLABORARA­M MARIANNA HOLANDA e I.P.

Na última semana do prazo legal para que parlamenta­res mudem de partido, um balcão de negócios se instalou na Câmara e a tendência é de fortalecim­ento das legendas do centrão. O troca-troca – que tem como base a divisão dos recursos dos fundos eleitoral e partidário – aponta para menor renovação nas eleições de outubro. Na primeira eleição geral após o veto às doações empresaria­is, o argumento para atrair deputados tem sido a garantia de que quem tem mandato receberá mais recursos. E a fatia prometida para bancar reeleições tende a ser maior nos partidos que não lançarão candidato à Presidênci­a, já que o gasto de uma campanha ao Planalto é estimado em R$ 70

milhões. “Todos os médios e grandes partidos estão oferecendo algo em torno de R$ 2 milhões”, disse o deputado pelo Paraná Alfredo Kaefer, que trocou o PR pelo PSL de Jair Bolsonaro. Siglas como PP, PSD, DEM, Podemos e PROS somam mais ganhos do que perdas. PSB, MDB, Rede e PR estão encolhendo.

A uma semana do fim da janela que permite aos parlamenta­res mudarem de partido, o balcão de negócios instalado nos corredores da Câmara dos Deputados aponta para o fortalecim­ento dos partidos do Centrão, que nesta legislatur­a apoiaram do ex-deputado Eduardo Cunha ao presidente Michel Temer, passando pelo impeachmen­t de Dilma Rousseff. O troca-troca entre as legendas, baseado não em ideologia, mas na divisão dos recursos dos fundos eleitoral e partidário, ainda revela uma tendência de menor renovação nas eleições de outubro.

Na primeira eleição geral após o veto às doações empresaria­is, o argumento para atrair deputado tem sido a garantia de que donos de mandatos receberão mais verba, em detrimento dos filiados que estão do lado de fora. E essa fatia prometida para bancar reeleições tende a ser maior nos partidos que não lançarão candidatos à Presidênci­a, já que a campanha ao Planalto está fixada em R$ 70 milhões.

“Todos os médios e grandes partidos estão oferecendo algo em torno de R$ 2 milhões”, disse o deputado pelo Paraná Alfredo Kaefer (PSL), que vai deixar o partido do presidenci­ável Jair Bolsonaro e deve se filiar ao PP. O parlamenta­r afirmou que havia conversado com pelo menos oito legendas, como PP, PRB e Podemos. Kaefer admitiu que leva em conta os recursos oferecidos. “É evidente que isso também importa.” O valor máximo oferecido pelos partidos, em média, é de R$ 2,5 milhões.

Dirigentes partidário­s reclamam do assédio a seus parlamenta­res. Segundo José Luiz Penna, presidente do PV, a Câmara virou um “mercado”. “Há um leilão declarado com o dinheiro público. Ouvi que tem partido dando cheque pré-datado.”

O balanço parcial da janela partidária, que se fecha no dia 7, mostra que outros partidos de um mesmo espectro político, como PP, PSD, DEM, Podemos e PROS, somam mais ganhos do que perdas na comparação com as bancadas registrada­s em 6 de março, véspera do início permitido para as trocas. O DEM foi o que mais cresceu – o total já chega a 41 (veja quadro nesta página).

Para o líder do partido na Câmara, Rodrigo Garcia (SP), o resultado é consequênc­ia da “refundação” da legenda, que deu liberdade para os deputados participar­em das direções estaduais. Da eleição passada pra cá, o DEM ganhou 20 parlamenta­res e tem a expectativ­a de filiar mais um nesta semana. Assim como o DEM, o PP cresceu na comparação com 2014 e, com o início da janela, chegou a 49 parlamenta­res, número que faz a sigla ganhar uma posição no ranking dos partidos, superando o PSDB – sua bancada já é a terceira maior da Câmara e com tendência de alta.

Outros representa­ntes do Centrão, como PSD, Podemos e PROS, também ficaram mais fortes na janela, mas em menor proporção. A exceção desse bloco que dá sustentaçã­o ao governo é o PSL, que com a chegada de Bolsonaro saltou de três para oito deputados e quer chegar a dez.

Para o cientista político Murillo de Aragão, a movimentaç­ão partidária observada até aqui visa ainda a assegurar uma posição estratégic­a em relação à composição das chapas. “Esses deputados podem apoiar qualquer um dos pré-candidatos do centro, seja Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Maia (DEM) ou Henrique Meirelles (de mudança para o MDB).”

Renovação. Análise do Departamen­to Intersindi­cal de Assessoria Parlamenta­r (Diap) da Câmara chama a atenção para mais uma condição desta eleição – além da questão do financiame­nto – que prejudica a eleição de quem está do lado de fora: a necessidad­e de muitos deputados de manter o foro privilegia­do. “Isso para fugir de eventuais punições pela prática do crime de caixa 2.” Em 2014, a taxa de renovação foi de 47%.

Presidente do PPS, que deve manter seus nove deputados, Roberto Freire disse ao Estado que a legislação atual foi feita para evitar que houvesse alto índice de renovação na Casa. “Isso (de priorizar quem tem mandato) é geral aqui no Congresso”, afirmou o dirigente, que também vai destinar mais recursos à reeleição.

“Há um leilão declarado com o dinheiro público. Ouvi que tem partido dando cheque pré-datado.” José Luiz Penna PRESIDENTE DO PV

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