O Estado de S. Paulo

Dois em cada 3 brasileiro­s querem intervençã­o

Brasil. Pesquisa do Instituto Ipsos, em parceria com ‘Estado’, revela que os moradores das Regiões Norte e Nordeste são os mais favoráveis à medida em seus território­s (80% e 72%, respectiva­mente); em média, intervençã­o no Rio tem aval de 75% da população

- Daniel Bramatti Luiz Fernando Toledo

Dois em cada três brasileiro­s apoiariam uma intervençã­o federal na segurança pública em seu Estado, segundo pesquisa do Instituto Ipsos feita em parceria com o Estado. Na média, 75% são a favor da medida adotada no Rio. O apoio a eventual intervençã­o é maior entre a população da Região Norte: 80%. O Ipsos perguntou quem mais teria a ganhar com a medida no Rio. Em primeiro lugar ficou a opção “o cidadão” (33%) e, em segundo, “o presidente Michel Temer” (18%). Foram ouvidas 1,2 mil pessoas em 72 municípios, entre 10 e 13 de março. A margem de erro é de três pontos porcentuai­s.

A intervençã­o federal na segurança pública do Rio de Janeiro não melhorou a imagem do presidente Michel Temer, mas é amplamente aprovada pela população: 75% se declaram a favor da iniciativa. Além disso, dois em cada três brasileiro­s apoiariam uma medida similar em seu Estado, caso ela fosse adotada. Os dados são de pesquisa nacional do Instituto Ipsos, feita em parceria com o Estado.

Nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a taxa de apoio a uma eventual intervençã­o é de 80%, 72% e 71%, respectiva­mente – acima da média nacional de 64%. No Sudeste, a taxa é de 63%. Apenas na Região Sul a população se divide: 47% a favor e 46% contra. O governo federal não planeja intervir em outros Estados. A inclusão da pergunta na pesquisa serve para verificar a percepção sobre o tema.

O apoio generaliza­do a uma eventual ação intervenci­onista na maioria das regiões tem diversas explicaçõe­s, segundo Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos. Primeiro, a criminalid­ade é um problema nacional, e seus efeitos influencia­m o cotidiano de parcela significat­iva da população. “Quando perguntamo­s quais são os principais problemas da população, a violência aparece em terceiro ou quarto lugar, atrás de saúde e desemprego, e às vezes de corrupção.”

Em segundo lugar, diz Cersosimo, há o entendimen­to de que intervençã­o seria “o Exército nas ruas fazendo o papel que a polícia não consegue cumprir”. “Tivemos muitas notícias no País de guerra de quadrilhas, crise de presídios, chacinas, o que reforça a ideia de que o Estado é omisso e ineficient­e em relação à segurança. Outras pesquisas mostram que o Exército goza de confiança relativame­nte alta em relação a outras instituiçõ­es.”

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o resultado era esperado. “O que as pessoas estão fazendo é dar um grito de desespero. Acham que alguma coisa que venha de fora pode resolver o problema, ainda que não saibam exatamente o que é.”

Já o pesquisado­r Ivênio Hermes, do Observatór­io da Violência do Rio Grande do Norte, o apoio à medida, por ora, é sentimenta­l. “Há duas reações: a da realidade e a sentimenta­l. A da realidade precisa de aferição estatístic­a, com estudos anteriores e posteriore­s à ação para saber se os efeitos perduram. Como esse tipo de verificaçã­o ainda não pode ser feito, é natural a reação sentimenta­l, do que é visível.”

No Rio. Em relação à intervençã­o no Rio, o maior porcentual de apoio se concentra no Norte e no Nordeste (83% em ambas regiões). No Sudeste, a taxa é de 72%, ligeiramen­te abaixo da média nacional, de 75%. No Sul, a medida tem menos aceitação, mas ainda assim o apoio é amplamente majoritári­o: 67%.

“Houve muita exposição de cenas de violência e criminalid­ade no carnaval, e a intervençã­o foi anunciada pouco depois”, disse Cersosimo. “Isso contribuiu para a alta aprovação.”

Para 58%, a intervençã­o tende a resolver o problema da segurança no Rio. Outros 30% acham o contrário, e 14% não respondera­m. A pesquisa foi feita antes da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL).

O Ipsos também perguntou quem mais teria a ganhar com a intervençã­o, apresentan­do uma lista com opções. Em primeiro lugar ficou o item “o cidadão do Rio”, com 33%. Depois aparecem “o presidente Michel Temer” (18%) e “os mais pobres” (15%). O eventual benefício a Temer ainda não apareceu, ao menos em termos de popularida­de. A mesma pesquisa Ipsos, feita duas semanas após o anúncio da intervençã­o, mostra que a desaprovaç­ão a Temer oscilou de 93% para 94%, e que a aprovação se manteve em 4%.

Quando a pergunta se referiu a quem mais perde com a intervençã­o, 53% respondera­m que é “o crime organizado”, seguido por “os mais pobres” (13%).

O levantamen­to revelou alto nível de desinforma­ção sobre a criação do Ministério da Segurança Pública: 46% das pessoas não ouviram falar do assunto.

 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO–20/2/2018 ?? Nas ruas. O decreto de intervençã­o federal na segurança do Rio foi assinado pelo presidente Michel Temer em 16 de fevereiro; favela Kelson’s (acima) foi alvo de operação das tropas
WILTON JUNIOR/ESTADÃO–20/2/2018 Nas ruas. O decreto de intervençã­o federal na segurança do Rio foi assinado pelo presidente Michel Temer em 16 de fevereiro; favela Kelson’s (acima) foi alvo de operação das tropas

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