O Estado de S. Paulo

Crédito imobiliári­o cai pela metade

Casa própria. Números do ano passado representa­m a terceira queda consecutiv­a no volume de recursos para financiar a compra e construção de imóveis; em 2017, foram destinados R$ 83 bilhões ante os R$ 168 bilhões de três anos antes, segundo dados do BC

- Douglas Gavras

Ovolume de crédito para financiar a compra e a construção da casa própria com dinheiro da poupança caiu pela metade. O montante acumulado em 2017 foi de R$ 83 bilhões, ante os R$ 168 bilhões de 2014, segundo o Banco Central.

O volume de crédito destinado ao financiame­nto de imóveis com dinheiro da poupança caiu pela metade no último ano, na comparação com 2014, antes da crise econômica e quando esses recursos atingiram patamar recorde.

O montante acumulado para financiar a compra e a construção da casa própria em 2017 foi de R$ 83 bilhões, ante os R$ 168 bilhões de três anos antes, segundo dados do Banco Central, em valores reais, já considerad­o o IPCA (índice oficial de inflação). Os números de 2017 representa­m a terceira queda seguida do volume de financiame­nto.

“Com a queda recente dos juros, seria razoável que começasse a ter uma recuperaçã­o do crédito imobiliári­o em 2017, em relação a 2016. É surpreende­nte que tenha continuado caindo”, analisa o economista Armando Castelar, coordenado­r de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

O consumidor só deve recuperar aos poucos a disposição para comprar um imóvel, e a tendência, segundo analistas ouvidos pelo Estado, é que os bancos fiquem menos retraídos para emprestar em 2018 do que estavam no ano passado.

Parte importante da explicação para o recuo do crédito imobiliári­o está na situação da Caixa Econômica, o banco da habitação. Sem capital para cumprir regras internacio­nais de proteção, o banco estatal reduziu os financiame­ntos e aumentou os juros. “Ela tem 70% do mercado, mas não tem capital para continuar no ritmo pré-crise”, diz José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). Para Miguel Oliveira, da Anefac (associação de executivos de finanças), as dificuldad­es pelas quais a Caixa tem passado devem limitar a oferta de juros menores para o consumidor.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliári­o e Poupança (Abecip), o banco estatal foi ultrapassa­do pelos concorrent­es na concessão de crédito com recursos da poupança. Em nota, a Caixa diz que estuda diminuir a taxa de juros do financiame­nto.

Lenta recuperaçã­o. O desemprego, ainda em dois dígitos, é apontado como um dos fatores que mais atrapalham a alta do crédito. A desacelera­ção do financiame­nto acompanhou a alta do desemprego, que subiu da casa dos 6% para mais de 13%.

Nos anos recentes, quem estava empregado tinha receio de embarcar em uma dívida que pode se estender por mais de 30 anos. Quem perdeu o emprego não conseguia mais financiar.

O veterinári­o Erick Almeida, de 32 anos, teve de morar com a mãe por mais tempo. Ele havia começado a pagar um imóvel na planta, até perder o trabalho, em março do ano passado.

“Depois de dois meses procurando uma outra vaga, desisti do imóvel. Sabia que quando o edifício ficasse pronto e o financiame­nto fosse repassado para o banco, não me aceitariam.”

Também pesou a perda de recursos da caderneta de poupança, que havia ficado menos atrativa para o investidor com a alta dos juros no fim do governo Dilma Rousseff, diz Martins, da Cbic. Para analistas, porém, a tendência é que muitas famílias que não conseguiam contratar um financiame­nto agora sejam atraídas pelos juros básicos em seu nível mais baixo.

“A Caixa puxou o cresciment­o do crédito, mas não tem capital para continuar naquele ritmo.” José Carlos Martins

PRESIDENTE DA CBIC

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil