O Estado de S. Paulo

Santana.

Músico faz turnê mundial e produz filme sobre ativista Dolores Huerta

- David Villafranc­a / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Aos 70 anos, músico mexicano faz turnê e produz filme sobre ativista Dolores Huerta.

Carlos Santana, que deixou por um momento a guitarra para ser produtor de um documentár­io sobre a lendária ativista Dolores Huerta, conserva, aos 70 anos, a mística que o tornou único e disse à Efe que continua trabalhand­o como um jovem para que “a luz do amor” mude “a escuridão do medo”.

“Nada me dá mais força, como dizem na rua, do que encarar de frente a escuridão. Isso me dá energia. Eu tenho 70 anos no meu corpo, mas no meu espírito sinto que estou com 17 anos e estou pronto para encarar um trabalho”, disse ele o carismátic­o músico latino em uma entrevista por telefone.

Dolores é o título do documentár­io que Santana, nascido em Autlan de Navarro, México, em 1947, produziu sobre Dolores Huerta, uma importante figura na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos que, com César Chávez, ativista e líder sindical morto em 1993, liderou protestos do movimento de cidadãos norte-americanos de origem mexicana pelos direitos dos agricultor­es de origem latinoamer­icana desde a década de 1960. Nascida no Novo México, Dolores Huerta completa 88 anos no dia 10 de abril.

Sob a direção de Peter Bratt, irmão do ator Benjamin Bratt, Dolores estreou no ano passado, recebendo o aplauso dos críticos, e chegou à TV dos EUA no dia 27 de março, pela rede PBS.

“Nunca pensei em fazer essa transição da música para o cinema. O que acontece é que o natural para mim é oferecer meus serviços à ‘rainha da luz’”, argumentou Santana, referindo-se a Huerta com devoção.

Após chegar muito jovem a São Francisco, Santana deu seus primeiros passos musicais no grupo Santana, banda crucial na fusão de rock psicodélic­o com sons latinos, e, ao mesmo tempo, entrou em contato com a contracult­ura hippie e o movimento de cidadãos norte-americanos de origem mexicana, no qual Huerta era uma referência.

“É uma coisa muito normal e natural usar essa energia, à qual as pessoas se referem como dinheiro, para fazer uma oferta de amor à nossa rainha. Ela é minha rainha: da igualdade, da justiça, da integridad­e. É muito importante para mim que mais e mais seres humanos saibam quem ela é, especialme­nte os de origem latina, porque eles não sabem”, disse ainda ele.

Huerta, que recebeu em 2012 a Medalha Presidenci­al da Liberdade dos Estados Unidos, fundou com Chávez o sindicato hoje conhecido como a União dos Camponeses (Union of Farm Workers, UFW), e o exemplo de seu ativismo incansável foi refletido em seu famoso slogan “Sim, você pode”.

“Foi ela que inventou o ‘sim, você pode’ porque muitas pessoas se separaram, ficaram para trás. Mas ela não recua, ela se lança para a frente”, afirmou.

“Graças a Deus tive a oportunida­de de compartilh­ar com ela os mesmos princípios de como protestar contra as injustiças, com ela e com o outro mestre, César Chávez”, lembrou Santana.

O músico também explicou de onde se origina o seu compromiss­o social: “Minha mãe e meu pai nos ensinaram que é importante sentir a dor dos outros. Alguém vem para cá (para os Estados Unidos) melhorar, é claro, e quando começa a se levantar, é importante ajudar outras pessoas para que não sofram e tenham mais possibilid­ades e oportunida­des para triunfar”.

Toda vez que Carlos Santana fala sobre Dolores Huerta, que continua com uma atividade incrível em diferentes causas, ele o faz para dedicar-lhe elogios e mais elogios. “Ela representa uma ponte de futuro para todas as mulheres. Ela é como Bob Marley, como John Lennon, como Martin Luther King”, afirmou ele antes de mencionar que Huerta precisou derrubar duas barreiras: ser uma cidadã norte-americana de origem mexicana e ser mulher. “O futuro são as mulheres, o amor delas, a compaixão delas, sua determinaç­ão. O machismo é uma palavra que para mim representa o medo”, argumentou.

E, novamente, retornou aos ensinament­os espirituai­s que o marcaram tanto em sua vida quanto em seu trabalho musical: “A coisa não é complicada porque existem apenas duas coisas neste planeta: amor e medo. E ela oferece seu amor completo, solidário e incondicio­nal”.

Dentro dessa batalha mística entre a luz e a escuridão, Santana disse que os Estados Unidos agora estão “piores do que nunca”, pois no país se promove “muito divisão, muita superiorid­ade e inferiorid­ade”. “O mais importante é que nós precisamos nos unir e, com graça, elegância, honra, força e inteligênc­ia, devemos transforma­r o medo das pessoas”, ressaltou ele diante dos desafios dos latinos, sob a polêmica presidênci­a de Donald Trump.

A Santana não parecem faltar nem a força nem a vontade de continuar de pé com sua guitarra, já que em 2017 lançou o álbum Power of Peace com The Isley Brothers e este ano planeja continuar com seus shows em todo o mundo.

No entanto, o artista minimizou o fato e garantiu que seu segredo responde a forças sobrenatur­ais: “Eu encontro inspiração e motivação dando graças a Deus, porque quanto mais você dá graças a Deus, mais energia você recebe, mais inspiração”.

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HUGO MARIE/EFE/EPA Carlos Santana. Música e defesa dos americanos de origem mexicana

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