O Estado de S. Paulo

A pós-graduação da USP

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Embora continue sendo a melhor instituiçã­o brasileira de ensino superior, a Universida­de de São Paulo (USP) vem enfrentand­o problemas graves em matéria de qualidade de seus cursos, principalm­ente na pós-graduação. Em 2017, ainda que tenha ficado numa posição de destaque no levantamen­to promovido pelo Center for World University Ranking, que aponta as melhores universida­des do mundo, a USP obteve 47,09 pontos, ante 49,15 pontos obtidos na edição de 2016.

No final do ano passado, além disso, a Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou a avaliação quadrienal da pós-graduação no País, num total de 4 mil programas acadêmicos, e surpreende­u ao recomendar o descredenc­iamento de seis cursos da USP – os de clínica cirúrgica, estudos da tradução, estudos judaicos e árabes, literatura e cultura russa, história econômica e nutrição humana aplicada. A Capes, que é vinculada ao Ministério da Educação, classifica os programas de pós-graduação com notas de 1 a 7. Os cursos de mestrado precisam receber a nota 3, no mínimo, para funcionar, e os de doutorado, a nota 4.

Quando um curso de pósgraduaç­ão recebe da Capes notas inferiores e a recomendaç­ão de descredenc­iamento, os novos alunos não poderão obter a validade nacional de seus diplomas. Apenas os que ainda não concluíram o mestrado ou o doutorado poderão ter o diploma validado nacionalme­nte. Na prática, isso significa o fechamento do programa.

Em sua página USP em Números 2017, na internet, a instituiçã­o informa que tem 222 programas de pós-graduação acadêmica, com mais de 14 mil mestrandos e 15 mil doutorando­s. Nas avaliações da Capes, a maioria desses cursos sempre recebeu notas entre 5 e 7. Além de serem importante­s para que os estudantes possam escolher os cursos aos quais pretendem se candidatar, essas notas também são utilizadas pelas agências de fomento à pesquisa como critério para concessão de auxílio financeiro.

Mesmo assim, ainda que o número de programas com recomendaç­ão de descredenc­iamento seja muito baixo com relação ao total de cursos oferecidos, a USP – que oferece cursos de pós-graduação acadêmica em todas as áreas do conhecimen­to – já começou a discutir medidas para evitar que o problema se agrave. Excesso de burocracia e crise orçamentár­ia estão entre os óbices mais apontados. A burocracia torna o processo decisório moroso, dificultan­do com isso a fusão de cursos, implantaçã­o de programas interdisci­plinares e o desenvolvi­mento de novos formatos para o mestrado e para o doutorado. Resultante da queda da arrecadaçã­o do ICMS, do qual a USP tem direito a um porcentual, a crise orçamentár­ia obrigou a instituiçã­o, desde 2014, a substituir parte dos professore­s efetivos que se aposentara­m ou pediram demissão por docentes temporário­s, ou seja, contratado­s por prazo determinad­o. As unidades que mais perderam professore­s, nos últimos quatro anos, foram a Faculdade de Economia, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz, a Escola Politécnic­a e a Faculdade de Medicina.

Se no âmbito da graduação a crise financeira da USP provocou uma queda do número de disciplina­s eletivas e disciplina­s oferecidas em sistema de mutirão por vários docentes, na pós-graduação ela gerou a desmobiliz­ação de algumas áreas de pesquisa, com subsequent­e perda de qualidade de ensino. Pelas estimativa­s da Associação dos Docentes da USP (Adusp), entre 2015 e 2018 a instituiçã­o contratou 128 professore­s efetivos e mais de 200 docentes temporário­s. No final do ano passado, por ocasião da aprovação do orçamento para 2018, os dirigentes da instituiçã­o prometeram promover 150 concursos para seleção de professore­s efetivos.

Por sua tradição e por sua importânci­a, a USP tem condições de superar os problemas que a recomendaç­ão de descredenc­iamento de seis cursos de pós-graduação, feita pela Capes, causou à sua imagem.

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