O Estado de S. Paulo

Candidatur­a França gera dissidênci­a no PSDB

Tucanos como o líder do governo Barros Munhoz deixam o partido para apoiar vice

- Pedro Venceslau Adriana Ferraz

A renúncia do governador Geraldo Alckmin no dia 6 de abril para disputar a Presidênci­a da República será acompanhad­a pela saída de tucanos históricos que se alinharam com seu sucessor no governo, Márcio França (PSB).

A cúpula do partido teme também uma debandada na base e ameaça expulsar prefeitos e lideranças locais que apoiarem o atual vice em vez de subir no palanque do prefeito João Doria, pré-candidato tucano.

“Os prefeitos que apoiarem candidatos de outros partidos enfrentarã­o um processo de expulsão”, disse ao Estado o presidente do PSDB-SP, deputado estadual Pedro Tobias.

O caso que causou mais surpresa na cúpula partidária foi a saída do líder do governo na Assembleia, Barros Munhoz, que migrou do PSDB para o PSB. “A candidatur­a do França é mais consistent­e que a do Doria. O prefeito não cumpriu o compromiss­o que tinha com o povo de São Paulo”, afirmou o deputado.

Barros Munhoz deixa o PSDB após 15 anos, período no qual foi duas vezes presidente da Assembleia Legislativ­a e líder dos governos José Serra e Geraldo Alckmin. “A maioria dos prefeitos do interior tem muito mais identidade com Márcio França do que com o João Doria”, disse líder do governo.

Munhoz também acredita que a “grande maioria” dos líderes do PSDB na base vão apoiar o pessebista. Um dos prefeitos que está radar do PSDB é Ortiz Jr., de Taubaté, que declarou apoio a Márcio França.

Inédito. Nos mais de 20 anos de administra­ção tucana em São Paulo, essa será a primeira vez que um governador de outro partido disputa a reeleição no cargo.

Nos últimos meses, o vice-governador se aproximou de prefeitos e deputados do PSDB que rejeitam a opção de lançar o prefeito João Doria na disputa.

O presidente do PSDB-SP disse que até o momento dois deputados estaduais já o comunicara­m que vão deixar o partido. Além de Barros Munhoz, à caminho do PSB de Márcio França, o Coronel Telhada vai para o PP. A expectativ­a no próprio PSDB, porém, é que pelo menos cinco dos 19 deputados da bancada mudem de legenda.

“Quem sair vai pagar na eleição. Os votos deles são tucanos”, afirmou Tobias. Já líder do PSDB na Assembleia, Marco Vinholi, minimizou as perdas e disse que o partido pode receber novos deputados. “O Barros deve sair porque ficou muito próximo do Márcio França e avaliou que esse é o melhor caminho. Mas tem outros interessad­os em entrar no PSDB por causa do João Doria. Com a janela, todas as bancadas devem se movimentar.”

Outro tucano histórico que deixou o PSDB e se alinhou com França foi o vereador da capital Mário Covas Neto. Filho do exgovernad­or Mário Covas e tio do futuro prefeito, Bruno Covas, ele vai disputar o Senado pelo Podemos e fazer campanha para França.

O anúncio será feito em um evento no próximo dia 3 que contará com a presença do senador Álvaro Dias, pré-candidato à Presidênci­a da República pelo Podemos. “Estou vivendo outro momento da minha vida. Minha candidatur­a não será contra os tucanos, mas à favor do Álvaro Dias e do Márcio França”, disse Covas Neto.

A campanha de Doria também não deve contar com o apoio de líderes históricos do PSDB que se tornaram desafetos do prefeito.

Esse é o caso do ex-senador José Aníbal e do ex-governador Alberto Goldman. Aníbal afirmou que a possibilid­ade de fazer campanha para o Doria é “zero”.

Segundo aliados, o senador José Serra também não demonstra entusiasmo com o candidatur­a de João Doria.

O principal “trunfo” de Doria na velha guarda do partido hoje é o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. O chanceler assinou a lista de apoio ao prefeito nas prévias e deve apoiá-lo na campanha.

Tucanos próximos a Doria minimizam a saída de deputados e consideram um exagero falar em “debandada”. Há no entorno de Doria ceticismo em relação à participaç­ão de Alckmin na campanha.

Eles esperam, porém, que o governador, na posição de presidente do PSDB, repasses recursos para a campanha do prefeito ao Palácio dos Bandeirant­es.

A uma semana de deixar o cargo, Alckmin fez no sábado passado afagos a França na inauguraçã­o da linha do trem que liga São Paulo a Guarulhos.

O evento teve clima de comício com a participaç­ão de França. No palco, prefeitos fizeram discursos que exaltaram a parceria entre eles. A transferên­cia do cargo será feita em um evento na sexta-feira no Palácio dos Bandeirant­es.

A coligação de França para a disputar as eleições já contaria com 13 partidos, segundo o vice-governador: PSB, PV, PPS, PR, PHS, PSC, PROS, Avante, Solidaried­ade, Podemos, PPL, PRP e PMB.

“Os prefeitos que apoiarem candidatos de outros partidos enfrentarã­o um processo de expulsão.” Pedro Tobias

PRESIDENTE ESTADUAL DO PSDB

“A candidatur­a do França é mais consistent­e que a do Doria. O prefeito não cumpriu o compromiss­o que tinha com o povo de São Paulo.” Barros Munhoz

DEPUTADO ESTADUAL

“Estou vivendo outro momento da minha vida.” Mário Covas Neto

VEREADOR

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RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS - 9/11/2016 Racha. O líder do governo Barros Munhoz sai do PSDB após 15 anos e vai para o PSB do vice-governador Márcio França

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