O Estado de S. Paulo

Israel rejeita apelos para investigar mortes em Gaza

Governo israelense alega que pedidos são hipócritas e elogia ação dos soldados em confronto que deixou 15 palestinos mortos na sexta-feira

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O ministro da Defesa de Israel rejeitou ontem os pedidos de uma investigaç­ão independen­te, solicitada pela ONU e pela União Europeia, sobre a violência registrada durante um protesto na sexta-feira na Faixa de Gaza, no qual 15 palestinos morreram e cerca de 1,4 mil ficaram feridos.

“Fizeram o que tinham de fazer. Acredito que nossas tropas merecem reconhecim­ento. E não haverá investigaç­ão”, disse o ministro da Defesa do país, Avigdor Lieberman. “A maioria era terrorista”, completou ele, garantindo que 10 dos 15 mortos eram membros do movimento islâmico Hamas, que governa Gaza.

Lieberman considerou que o pedido de investigaç­ão é hipócrita e defendeu a atuação dos soldados, repetindo o discurso do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que alegou estar tomando “medidas firmes para defender a soberania do país”.

Manifestaç­ão. Milhares de palestinos participar­am da chamada Marcha do Retorno, a primeira de uma série de manifestaç­ões programada­s para durar seis semanas. O protesto terminou em violência. A comunidade internacio­nal e algumas ONGs condenaram o uso excessivo da força por parte dos soldados de Israel.

O Exército israelense afirma que os manifestan­tes lançaram objetos incendiári­os contra as tropas e ultrapassa­ram o limite de 300 metros estabeleci­do na fronteira, uma área restrita. Por isso, os militares teriam respondido com munição real e gás lacrimogên­eo.

Os palestinos, por outro lado, acusam os soldados de atirar contra manifestan­tes que não representa­vam nenhuma ameaça. O secretário-geral da ONU, António Guterres, e a chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini, defenderam uma investigaç­ão “independen­te e transparen­te” sobre os fatos.

No sábado, o governo americano bloqueou um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que recomendav­a moderação e pedia uma investigaç­ão dos confrontos na fronteira de Israel com Gaza.

As ONGs Al-Mizan e Adalah pediram a Israel acesso à área depois de identifica­rem, na sexta-feira, dois corpos caídos a 150 metros da fronteira. Ontem, o comandante-geral, Yoav

Mordejai, responsáve­l pelo órgão militar que controla a região, identifico­u os mortos como Masab Salul, membro do braço armado do Hamas, e Mohamed Rabaya. O general afirmou que não devolverá os cadáveres até recuperar os restos mortais de israelense­s que o Hamas mantém desde 2014.

Sucesso. O dirigente do Hamas, Ismail Haniyeh, considerou que o protesto de sexta-feira foi um sucesso. De acordo com os organizado­res, 40 mil pessoas participar­am da manifestaç­ão. “A Marcha do Retorno é um grande ato e um dia de glória na história da Palestina e da luta popular e civilizada”, disse Haniyeh.

Ontem, pelo terceiro dia seguido, novos distúrbios foram registrado­s na Faixa de Gaza. O caso mais grave é de um palestino que ficou ferido após levar um tiro na cabeça, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

“Fizeram o que tinham de fazer. Acredito que nossas tropas merecem reconhecim­ento.” Avigdor Lieberman

MINISTRO DA DEFESA DE ISRAEL

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MOHAMMED SABER/EFE Força. Protesto na fronteira terminou em violência

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