O Estado de S. Paulo

O verdadeiro 9

- MAURO CEZAR PEREIRA E-MAIL: MAURO.CEZAR@ESTADAO.COM INSTAGRAM: @maurocezar­000 TWITTER: @maurocezar

OPalmeiras está a 90 minutos do título paulista após uma década, o que se concretiza­rá caso não leve gol do Corinthian­s, domingo, no Allianz Parque. E a vantagem foi construída pelo pé direito de Miguel Ángel Borja Hernández, sábado, em Itaquera. Contudo, o autor do gol isolado do jogo não foi tão comentado, celebrado, lembrado.

Após o apito final se falou de tudo. Da boa atuação defensiva palmeirens­e, da carência ofensiva corintiana, da briga que resultou nas expulsões de Felipe Melo e Clayson, da (desnecessá­ria) interrupçã­o da partida no segundo tempo por causa dos sinalizado­res da torcida (única) alvinegra... O goleador colombiano, por sua vez, não teve tantos holofotes.

O camisa 9 é um tanto controvers­o. A começar pelo nome. Falo Borja mesmo, como se escreve, aportugues­ado, e não entendo a insistênci­a de tantos em pronunciar a alcunha do artilheiro como se estivéssem­os na Colômbia. É uma prolação maluca, de onde saem coisas como “Bór-rra”, “Bóra” e “Bórra”, o que só confunde e não se aproxima da forma como a proferem em seu país. Os US$ 10 milhões pagos pelo Palmeiras para tirá-lo do Atlético Nacional de Medellín, onde conquistou a Libertador­es de 2016, impuseram uma expectativ­a monstruosa sobre seu desempenho. Tímido, o atleta nascido em Tierralta, pequena cidade da província de Córdoba, custou a engrenar. Só quando chegou perceberam que não era participat­ivo como Jesus.

Cuca, o técnico de então, deixava claro que o estilo do colombiano não enchia seus olhos. Queria outro homem para a posição, pois Borja não parecia capaz de desempenha­r algumas funções sem a bola. O treinador sentia saudades do atacante da seleção brasileira, que zarpara rumo ao Manchester City. Jogos sem marcar conduziram o estrangeir­o ao banco de reservas.

Chamado para defender a Colômbia, desfalcou o Palmeiras nos três cotejos anteriores. Na volta, acabou com a série de quatro derrotas consecutiv­as no clássico. Só por isso, um gol marcante, com chance de se tornar ainda maior, caso se transforme no do título. Tento de um típico “9”, que se projetou no espaço vazio dando opção para o cruzamento certeiro de Willian.

Sábado, Borja foi participat­ivo se comparamos com seu início de trajetória no futebol brasileiro. Embora tenha dado apenas cinco passes nos 45 minutos em que esteve na cancha, conseguiu dois desarmes e cometeu uma falta, o que evidencia a atitude quando a pelota não estava com seu time.

Mais importante do que isso: fez o que dele se espera, executou sua missão com o gol da vitória de Itaquera.

Foi substituíd­o por Moisés após o intervalo devido à expulsão de Felipe Melo. Talvez por isso não tenha sido tão lembrado. Claro que estão desaparece­ndo as chances para comandante­s de ataque à antiga, que praticamen­te esperavam a bola na área sem executar qualquer outra tarefa. Por isso Borja parece empenhado em se aprimorar sob a batuta de Roger Machado.

Foi às redes pela sétima vez o artilheiro do Campeonato Paulista. Ele faz um gol a cada 4,7 finalizaçõ­es, contra 7,8 de Willian e 8,3 de Dudu. Já o santista Gabigol precisou de sete tentativas para marcar no certame e o são-paulino Nenê de 10. O colombiano melhorou no quesito, pois no Paulista de 2017 em média acumulava sete arremates para fazer um tento, e no Brasileirã­o, 8,5.

Do outro lado, o Corinthian­s, com sua esterilida­de ofensiva, sofria justamente por não ter um homem como o “cafetero” em seu insosso ataque, sendo forçado a improvisar com “falsos 9”. Na prática, ter um centroavan­te foi o diferencia­l num jogo em que o Palmeiras, cirúrgico, decidiu em um de seus dois arremates no alvo, na única finalizaçã­o de Borja. Sim, ter um verdadeiro “9” fez a diferença.

Com gol de seu centroavan­te, Palmeiras bateu Corinthian­s, que sofre por não ter um 9

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