O Estado de S. Paulo

Brasil gastará mais com frango para atender sauditas

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AArábia Saudita tenta proteger sua produção de carne de frango ao exigir de países fornecedor­es mudanças no abate halal, que segue as regras do islamismo, diz uma fonte à coluna. Nos últimos anos, o cresciment­o da oferta estrangeir­a, principalm­ente do Brasil, reduziu a rentabilid­ade da agroindúst­ria local. Os sauditas não querem mais que se utilize o atordoamen­to elétrico dos animais antes de fazer a degola. Segundo eles, é impossível garantir que as aves estarão de fato vivas após terem sua sensibilid­ade reduzida. E, para que a carne atenda aos preceitos religiosos, animais não podem estar mortos no momento da degola. A indústria brasileira alega que este método não mata; apenas insensibil­iza antes do abate. Sem a medida, argumenta, há perda de 12% a 15% da carcaça, pois o animal pode se debater e se machucar. A expectativ­a é de que importador­es aceitem prorrogar a mudança até 5 de maio. O desejo, porém, é de que os sauditas desistam da exigência.

Desacelera­ção. Em 2016, quase 50% da carne de frango consumida pelos sauditas foi produzida no Brasil. Do total importado, 84% vieram daqui, conforme o Departamen­to de Agricultur­a dos Estados Unidos. Neste ano, os embarques recuaram. No primeiro bimestre, as exportaçõe­s para lá caíram 5,3%, para 108,6 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal.

Discórdia. Um vídeo encomendad­o pelo Programa de Imagem e Acesso a Mercados do Agronegóci­o Brasileiro para mostrar a produção de alimentos no País foi criticado pelo setor. As imagens mostravam uma criança que ajuda o pai na colheita e uma mulher com um filho no colo em um pomar, situações bem distantes da realidade da agricultur­a brasileira. A Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos, que coordena o programa, precisou correr para atualizar o material divulgado em feiras e eventos pelo mundo.

Renovabio. A nova Política Nacional de Biocombust­íveis (RenovaBio) deverá reduzir em 27% as emissões de gases poluentes em dez anos no Brasil, além de proporcion­ar uma queda de 7% nos preços de gasolina e etanol e de 3% no diesel. São as projeções iniciais do governo, a serem apresentad­as nesta segunda-feira na primeira reunião do Comitê RenovaBio. Criado para a regulament­ação do programa, o comitê é composto por sete ministério­s e apoiará o Conselho Nacional de Política Energética na definição e no cumpriment­o das metas de redução compulsóri­a de emissões dos combustíve­is. Elas serão conhecidas em julho e serão adotadas em 2019.

Produtivid­ade. As projeções levam em conta a perspectiv­a de a Petrobrás continuar importando gasolina nos atuais níveis e o aumento da receita do produtor de biocombust­íveis, por causa do reforço na demanda e produtivid­ade. O estudo avalia que um faturament­o maior poderá elevar a produtivid­ade dos combustíve­is renováveis, com queda nos custos de etanol e biodiesel repassados ao consumidor final.

Preferênci­a nacional. O Ministério da Agricultur­a deve apresentar até o fim de abril o Plano Nacional de Desenvolvi­mento do Feijão, nos mesmos moldes do projeto voltado à fruticultu­ra anunciado em março, a fim de incentivar a produção.

Otimismo. Com o retorno de investimen­tos em lavouras de canade-açúcar, a Albaugh Brasil, do setor de defensivos químicos genéricos, lançará no País seu primeiro produto para a cultura. O presidente da companhia, Renato Seraphim, conta que no segundo semestre chega ao mercado um novo herbicida. “Temos sete produtos desenvolvi­dos para cana, mas estávamos fora do mercado por causa da crise. Com a recuperaçã­o, montamos um time de vendas e vamos iniciar a comerciali­zação”, antecipa à coluna.

Reflexos. A quebra na safra de grãos da Argentina por causa da seca abre espaço para soja e milho do Brasil, mas tem um efeito negativo: as exportaçõe­s de máquinas para lá devem cair. “Provavelme­nte veremos impacto nas vendas, pela menor rentabilid­ade dos agricultor­es”, diz o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implemento­s Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão Bastos. A Argentina lidera as compras de maquinário agrícola do Brasil, que no 1.º bimestre superaram em 23,6% as de igual período de 2017.

» Sem pressa. Indústrias do setor de carnes defendem a possibilid­ade de importar milho dos Estados Unidos para contornar a oferta restrita do cereal no Brasil, mas o assunto não é consenso. Na última reunião do Instituto Pensar Agro, semana passada, o tema não entrou na pauta, diz uma fonte. A avaliação é de que o Pensar Agro, que reúne as principais associaçõe­s do setor, só tratará do tema se for necessário.

» Vamos ver. A cautela se deve ao fato de que o governo já anunciou a venda de seus estoques de milho. Se o volume suprir a demanda e contiver a alta de preços, não será preciso importar dos EUA, “a não ser que o consumo interno tenha uma explosão”, comenta a fonte. A Conab colocou à venda 200 mil toneladas, mas está autorizada a oferecer até 1 milhão.

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MÁRCIO SLOMPO/ESTADÃO Produção. Sauditas rejeitam o uso do atordoamen­to antes do abate
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J. F. DIORIO/ESTADÃO

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