O Estado de S. Paulo

Como será o amanhã

- CIDA DAMASCO E-MAIL: CIDA.DAMASCO@GMAIL.COM CIDA DAMASCO ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS CIDA DAMASCO É JORNALISTA

Nos últimos tempos, se na abertura de qualquer semana alguém disser que sabe como ela terminará, certamente estará blefando. O presidente Temer começou a semana passada candidatís­simo à reeleição, chegou à Páscoa sob ameaça de uma terceira denúncia por corrupção e com amigos do peito encarcerad­os, e amanhece esta segunda-feira tentando retomar o fôlego com uma minirrefor­ma ministeria­l. O ex-presidente Lula aproveitou o hiato aberto pelo STF até o julgamento do seu pedido de habeas-corpus, pôs o pé na estrada, teve os ônibus da caravana atacados por tiros, e agora está à espera da decisão – ir ou não para a cadeia, após a condenação em segunda instância no TRF. No meio desses dois trilhos, os candidatos já conhecidos se movem em busca de coalizaçõe­s e apoios e, depois de muitas idas e vindas, vem surgindo mais um “novo”: o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa, vestido com a roupa do dividido PSB.

Quem consegue, nesse quadro, montar um cenário para 2019? Décadas atrás, no Brasil da hiperinfla­ção, executivos de multinacio­nais costumavam relatar as dificuldad­es que enfrentava­m para explicar às cúpulas das suas matrizes o que acontecia na economia do País e os malabarism­os que eram obrigados a fazer para fechar o planejamen­to estratégic­o para 5, até 10 anos. Veio a estabiliza­ção, o Brasil engatou um novo ciclo de cresciment­o e esses obstáculos passaram a ser encarados como coisa do passado. Seguiu-se a era PT, os temores de uma ruptura com Lula também foram superados e manteve-se a previsibil­idade da economia por um bom período.

Hoje, com uma inflação no fundo do poço e uma atividade econômica se reabilitan­do depois de uma dramática recessão, mas com um cenário político que muda a cada dia, empresário­s/executivos tanto de grandes grupos internacio­nais como locais são de novo postos à prova para projetar o que vai ser do futuro. Não daqui a 10 anos, mas logo ali na esquina de 2018 com 2019. Até três ou quatro dias atrás, os olhos de investidor­es, empresário­s do setor produtivo e analistas voltavam-se para a sucessão de Henrique Meirelles no ministério da Fazenda. E para os sinais de blindagem da equipe econômica, numa campanha eleitoral com uma chapa governista Temer/Meirelles, só com Temer ou só com Meirelles.

Nesse sentido, a polêmica em torno das garantias para a concessão de empréstimo­s de bancos públicos a Estados e municípios, depois de um embate que envolveu TCU, Banco Central e o próprio Planalto, foi lida por parte desses observador­es como um sinal de que o governo estaria sensível a pressões para abrir os cofres em ano eleitoral. Especialme­nte quando se leva em conta que a atividade econômica parece encruada naquele ponto de “retomada lenta”.

A escolha de Eduardo Guardia para ocupar a cadeira do chefe funcionou para reduzir os temores dos mercados de afrouxamen­to na política econômica: tido como durão e de difícil diálogo com os parlamenta­res, Guardia é visto nesse território como o homem certo no cargo certo. E na hora certa. No mesmo movimento, o deslocamen­to de Dyogo de Oliveira do Planejamen­to para a presidênci­a do BNDES permitiria uma sintonia melhor na equipe econômica, com a vantagem adicional de aproximar o banco do setor privado.

Nesse momento, porém, nem Temer nem Meirelles têm suas posições garantidas no tabuleiro eleitoral. Temer manterá sua candidatur­a? Meirelles neo-emedebista será arrastado junto ou se transforma­rá numa alternativ­a dentro do campo governista? O ministro já havia anunciado sua filiação ao MDB no dia 3 de abril e sua saída do cargo no dia 6. O clima não está para festa, mas o roteiro por enquanto está confirmado.

Mais ainda, independen­temente da sobrevivên­cia da candidatur­a à reeleição, há sérias dúvidas quanto ao comportame­nto de Temer no governo, caso venha uma terceira denúncia – para analistas, a ameaça continua, apesar da liberação dos amigos do presidente. Nas duas anteriores, como se pode lembrar, houve um festival de emendas parlamenta­res para garantir apoio no Congresso – e deu resultado. Enquanto isso, pautas mais sensíveis, como a da privatizaç­ão da Eletrobrás, correm o risco de ficar em ponto morto. E a economia? Bem, a economia vai indo. Uma semana depois da outra.

Ameaça de 3.ª denúncia embaralha quadro eleitoral e pode travar economia

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