O Estado de S. Paulo

Ações de empresas menores voltam ao radar de investidor­es na Bolsa

Chamadas de ‘small caps’, essas ações se valorizara­m mais do que o Ibovespa nos últimos 12 meses

- Renato Jakitas

Se fossem vendidas em um supermerca­do, elas ficariam no pé da prateleira, lá onde o cliente precisa se esforçar para ver o preço e conseguir ler o rótulo do produto. As chamadas small caps são ações de empresas com menor valor de mercado quando comparadas às de grande porte.

E apesar de pouco famosas, menos negociadas e mais baratas, hoje elas estão nas recomendaç­ões de especialis­tas para quem topa assumir uma dose extra de risco em troca de uma chance de retorno ampliado daqui a três ou a quatro anos.

Para as corretoras e os analistas de investimen­to, esses ativos, que se habituaram a viver na sombra do mercado financeiro, devem ganhar espaço daqui para a frente – isso consideran­do que o ciclo de taxa básica de juros da economia se sustente nos patamares atuais (hoje, a Selic está em 6,5% ao ano) e o bom momento da Bolsa supere as incertezas do cenário político, permanecen­do mais algum tempo no azul.

“Com o retorno da renda fixa em queda e a demanda crescente por renda variável, que encarece as ações mais líquidas, o aplicador começa a procurar papéis mais baratos e com bom potencial de retorno”, explica o professor de pós-graduação da Fipecafi Nilton Belz.

Tamanho. O termo small caps é empregado pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, para designar as empresas com até R$ 10 bilhões em valor de mercado (o número de ações negociadas multiplica­do pelo valor de cada uma delas).

São papéis de baixa liquidez, justamente por não estarem nas mãos de muita gente. E, apesar do adjetivo small (pequena, em português), a categoria reúne nomes como a incorporad­ora Cyrela, as companhias aéreas Gol e Azul e a fabricante de carroceria­s Marcopolo – empresas que, pela lógica, não podem ser qualificad­as como de pequeno ou médio porte.

“Muitas empresas são grandes, de fato, mas têm poucas ações negociadas em Bolsa e, por isso, estão classifica­das como small caps”, explica o gestor de carteiras Luiz Pardal.

O analista afirma que o momento é favorável para esse tipo de ativo. Segundo ele, todas as vezes em que o Ibovespa, o índice com as ações mais relevantes da B3, vive um bom momento, o Small, que é por sua vez o índice das ações de baixa liquidez, vem a reboque, com algum atraso no tempo.

Neste ano, o Ibovespa acumula alta de 11,47%. Já o Small subiu 4,03% no período. “Estou há 40 anos nesse mercado e há 40 anos é assim. Em algum momento o Ibovespa vai parar de crescer tanto e o Small vai disparar e se aproximar”, afirma.

No limite. Existem algumas explicaçõe­s para que os dois índices andem lado a lado, mas em tempos distintos. A mais simples é que os investidor­es tendem primeiro a aportar recursos nas ações mais famosas para, depois, seguir em busca das menos conhecidas, ou seja, à procura de pechinchas.

Outra razão, mais sofisticad­a, envolve o porte das empresas e a capacidade de caixa de cada uma delas. Uma companhia de R$ 100 bilhões tem mais facilidade para se adaptar a um revés, como a crise econômica que o País enfrentou nos últimos anos. Já uma de empresa de R$ 100 milhões tem orçamento mais apertado e, geralmente, opera “no limite” de sua capacidade física.

“Simplifica­ndo, uma empresa com 1 mil funcionári­os e quatro fábricas pode dispensar 100 trabalhado­res em uma crise e desativar uma das unidades. Já uma empresa com três empregados não consegue reduzir despesas da mesma forma quando precisa”, explica Michael Viriato, coordenado­r do laboratóri­o de finanças do Insper e também planejador financeiro pela Planejar.

Justamente por isso, as small caps são considerad­as um nível acima na esfera de risco do mercado de renda variável, que já é considerad­a arriscada por si só.

“Apesar de ser mais fácil uma empresa de R$ 50 milhões dobrar de tamanho do que uma de R$ 100 bilhões, a companhia de R$ 50 milhões pode se transforma­r em quase nada muito mais rapidament­e do que a concorrent­e bilionária. Essa lógica faz com que o mercado de small caps não seja para qualquer um”, define o analista da XP Investimen­tos Marcos Saravalle. “E mesmo a quem gosta de risco, eu recomendo alocar no máximo 10% do portfólio de investimen­tos nesse setor.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil